uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Quando o arroz dava de comer à freguesia

José da Gaga tem 71 anos e uma grande paixão que o tem acompanhado ao longo da vida: a cultura do arroz. Para este natural da Raposa, concelho de Almeirim, cultivar o cereal é quase um vício. Começou a trabalhar nesta actividade há 60 anos e, apesar de actualmente a produção não ser rentável, José da Gaga só vai parar quando já não puder andar. Pela sua experiência é a pessoa que mais sabe sobre esta cultura agrícola na freguesia.

Hoje ainda há alguns campos com arroz, mas nos anos 50 era a principal ocupação das gentes da localidade. Ao ponto de existirem na área de influência da freguesia 17 moinhos movidos a água da Ribeira de Muge que serviam para fazer o descasque do arroz. A cultura não só dava trabalho à população local, como a trabalhadores da freguesia vizinha de Fazendas de Almeirim que, na época, tinha o quíntuplo da população da Raposa. A memória desses tempos está perpetuada na actual casa da cultura que, na década de 50, foi um desses moinhos. No espaço existe uma exposição com utensílios e miniaturas que retratam o trabalho nos campos de arroz. O edifício do descasque, como é conhecido, chegou a trabalhar com um motor de um navio alimentado a gasóleo, antes da chegada da luz eléctrica à freguesia em 1975.Nesses tempos, o arroz era acondicionado em sacas de 75 quilos que seguiam para as mercearias de norte a sul do país, onde era vendido a granel. A técnica de produção era muito diferente. Primeiro era semeado e depois transplantado para o terreno pé por pé. Actividade que ocupava centenas de pessoas. Também nessa altura, a maior parte dos produtores eram agricultores sem terras. Por isso arrendavam os terrenos aos grandes proprietários que lavravam a terra e transportavam o arroz para o descasque. Em troca pelo serviço e pelo uso da terra os agricultores davam um terço da produção aos proprietários. Um trabalhador agrícola nessa altura ganhava 20 escudos (10 cêntimos) por dia. Nos anos 90, o edifício estava já em estado de degradação depois de ter deixado de funcionar como unidade de descasque, há mais de uma dezena de anos. Foi adquirido pela Câmara de Almeirim em 1999, posteriormente recuperado e adaptado a casa da cultura. Um espaço onde agora as crianças têm actividades de tempos livres, onde está a biblioteca e o museu de artesanato da freguesia. O edifício dispõe ainda de um bar e um auditório para 150 pessoas.

Mais Notícias

    A carregar...