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Os Rotários e a “Bela Adormecida”

José Miguel Noras

“O município e o distrito de Santarém, representados na respectiva cerimónia, prometeram, sob o signo de Guilherme de Azevedo (autor dos estatutos da corporação), dar as mãos para que o sonho do novo quartel troque as voltas à afirmação do insigne “viajante”.

No livro Viagem a Portugal, José Saramago deteve-se em Santarém, cidade que comparou, implicitamente, à “Bela Adormecida”. O que é preciso é saber onde está a “Bela” porque, para o “viajante” (assim se definiu Saramago naquela obra), “Santarém é uma cidade singular. Com gente na rua ou toda metida em casa, dá sempre a impressão de encerramento. [...] em Santarém” – prossegue o autor – “nada pode acontecer [...]”.Recordo estas palavras a propósito da lembrança de Natal que, por antecipação, os rotários vieram deixar, este ano, nas botinhas dos Bombeiros Voluntários de Santarém: uma viatura de apoio ao combate a incêndios florestais.Vale a pena aceitar o pesado desafio daquele livro e perceber o “afectuo-so estímulo” que a sua mensagem representa para Santarém.É preciso caminhar com a referida obra para ver que “nada acontece” e sair dela para reparar que, afinal, tudo pode acontecer, agora que a “bela adormecida” acordou – acordou ainda mais bela nos solidários braços do Rotary Clube de Santarém.Essa “bela adormecida” elogiada por Cataldo Sículo (introdutor do humanismo em Portugal), no século de quinhentos, ergueu agora bem alto os seus pendões mais nobres para celebrar os 132 anos da primeira corporação portuguesa de bombeiros criada fora de Lisboa.O município e o distrito de Santarém, representados na respectiva cerimónia, prometeram, sob o signo de Guilherme de Azevedo (autor dos estatutos da corporação), dar as mãos para que o sonho do novo quartel troque as voltas à afirmação do insigne “viajante”.Com este acto, a ideologia dos rotários, fundada (há cerca de cem anos) pelo jurista americano Paul Harris, deu, mais uma vez, provas da grandeza de alma e demais virtudes humanas que têm pautado a conduta cívica deste movimento internacional.E como a solidariedade é um dos mais perenes dons do movimento rotário, no estandarte da sua génese está bordado o seguinte lema: “dar de si antes de pensar em si”, o que se funde na perfeição com o ideal dos bombeiros: “vida por vida”!Post ScriptumInevitabilidadesGil Martins cessou as suas funções no Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, depois de um Verão escaldante. Expôs-se demasiado. Deu a cara por aquilo que devia e não devia. Esteve algumas vezes só e muitas vezes mal acompanhado no exercício do seu espinhoso cargo. Deixa saudades por se tratar, apesar de tudo, de uma das personalidades que, no nosso país, mais entende desta complexa problemática e das inevitabilidades que a fardam de pesadelo.Expectativa O Secretário de Estado do Ambiente, José Eduardo Martins, veio ao Alviela, a convite da Comissão da Assembleia Municipal de Santarém. Considerou o problema da poluição neste rio como um todo, da nascente à foz, dando assim provas de conhecer as debilidades do sistema que tem provocado tantas e tamanhas desgraças. O que lhe falta em capacidade decisória – estes problemas estão sob a tutela do ministro – sobra-lhe em empenhamento para “recuperar o sistema de Alcanena, procedendo, sucessivamente, à substituição dos colectores de drenagem de efluentes industriais e a significativas melhorias no tratamento da ETAR ali existente, sem esquecer a compatibilização das captações de água pela EPAL e os caudais mínimos do rio”. Esta foi a visita ao escravizado Alviela que mais pronta resposta motivou de um Governante, junto do Poder Local.Bons ventos de Espanha?Dois grupos castelhanos, sediados um Madrid, outro nas Baleares, procederam, durante quatro meses, a um aprofundado estudo económico a fim de ajudar as suas administrações a escolher a cidade portuguesa mais atractiva para os seus milionários investimentos.Concluídas as prospecções e as análises de uma multiplicidade de indicadores, a opção recaiu sobre Santarém, tendo ficado mais duas cidades do distrito igualmente em posição de destaque.A nossa cidade surge caracterizada pelo seu “potencial de sucesso na recentração das mais valias turísticas, expressas na importância das suas raízes para a identidade portuguesa e ibérica [Santarém serviu de corte a D. João I de Castela]. Cidade estrategicamente situada, muito próximo do maior porto e do maior aeroporto do país, será a sede da província com melhores infra-estruturas viárias, após conclusão das obras oficiais que estão programadas pelo Governo. Corresponde, tecnicamente, ao centro de Portugal e proporciona apreciáveis padrões de qualidade de vida urbana, ganhando, neste plano, à generalidade das zonas satélite de Lisboa, tanto em qualidade como em custo de construção[...]”O primeiro investimento implicará um esforço financeiro com capitais próprios na ordem dos 25 milhões de euros e corresponde à primeira fase de um complexo habitacional com créditos assegurados aos novos residentes, em clara concorrência com as zonas periféricas da capital portuguesa.O segundo empreendimento será precedido de uma candidatura à construção de um novo hotel com cerca de 80 quartos. Esta disponibilidade vem evidenciar a consistência das posições da autarquia escalabitana que, tanto no passado, como no presente (ao que suponho), tem procurado colmatar a insuficiência de estruturas hoteleiras. Estamos assim perante uma merecida promessa de prosperidade, segundo a qual Santarém poderá ser um pólo do moderno turismo cultural europeu.Santarém, 23 de Novembro de 2003José Miguel Noras

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