O Euro 2004 não vai ter jogos na região de Santarém, mas vai contar com a participação de algumas centenas de jovens ribatejanos que já se inscreveram num projecto de voluntariado criado para o efeito. Entre as funções a desempenhar, os voluntários vão dar apoio aos serviços de acolhimento, acreditação, informação e controlo de acessos, vão servir de hospedeiros de autocarro ou condutores, apoiar a logística em estádios e centros de estágio e ainda servir de oficiais de ligação às selecções.Para a esmagadora maioria dos jovens, esta é a única oportunidade de participarem num evento deste tipo, o que está a suscitar grande interesse. A delegação de Santarém do Instituto Português da Juventude (IPJ) já recebeu 338 inscrições, número que deverá aumentar até Junho, data em que se inicia a fase final do Europeu de futebol, que se realiza de 12 de Junho a 4 de Julho em várias cidades portuguesas.Segundo a técnica responsável pelo recrutamento e encaminhamento dos jovens que se inscrevem no distrito de Santarém, Dina Silva, não existe um perfil específico para os candidatos, mas até ao momento têm-se inscrito essencialmente professores de educação física e ensino secundário, psicólogos e até enfermeiros. Na sua maioria são jovens a rondar os trinta anos e que concluíram recentemente a sua licenciatura.No entanto, podem participar no projecto de voluntariado para o Euro 2004 todas as pessoas com mais de 15 anos, desde que tenham escolaridade obrigatória, conhecimentos de português e pelo menos uma língua estrangeira.As delegações do IPJ apenas fazem a inscrição e encaminham os jovens. O processo de selecção começa com uma entrevista escrita e outra pessoal que tentam identificar as motivações e os gostos pessoais dos voluntários. No final a técnica faz uma pequena avaliação e encaminha a inscrição para a sede distrital do Euro 2004 para a qual o jovem se inscreveu. Muitos têm feito a sua inscrição em Santarém mas pedem para ser colocados nas áreas onde estudam ou trabalham.Após serem seleccionados, os voluntários vão participar numa acção de formação que durará uma semana. Serão três horas diárias, de segunda a sexta-feira, onde irão receber formação sobre os procedimentos de um voluntário e socorrismo, entre outras. Quem participar no projecto de voluntariado do Euro 2004 irá receber uma comparticipação diária de 20 euros para transportes e alimentação, um fato de treino e sapatos desportivos.Cada voluntário é livre de escolher os períodos em que vai “trabalhar”. Todos os dias são feitas escalas e ninguém é obrigado a fazer o que não quer. Há sempre quem desista, mas Dina Silva diz que a maioria até faz mais do que o que se comprometeu. Foi o caso da gimnaestrada, que se realizou este ano em Portugal, em que participaram perto de 2.500 voluntários, 25 dos quais do distrito de Santarém. Os jovens tinham um determinado horário a cumprir mas muitos deles estavam lá o dia todo e até havia quem pernoitasse no alojamento colectivo embora estivesse a dois passos de casa.O Euro 2004 vai envolver as 16 melhores selecções da Europa, mais de 8 mil jornalistas de todo o mundo, mais de um milhão de adeptos no estádio, mais de sete mil milhões de telespectadores e cerca de cinco mil voluntários.Além do projecto de voluntariado para o Euro 2004, o IPJ tem outros projectos de voluntariado, nomeadamente na área social. Na delegação de Santarém há 660 inscritos mas o delegado Regional, Paulo Tavares, acredita que este projecto do Europeu de futebol vai dar mais visibilidade ao voluntariado.Delegação do IPJvai ter cara novaO edifício sede da delegação de Santarém do Instituto Português da Juventude vai ter uma cara nova dentro de alguns meses. A construção já tem perto de 15 anos e apresenta sinais evidentes de alguma degradação, sobretudo em termos de mobiliário e infiltrações nos telhados.A zona do rés-do-chão já começou a ser remodelada este ano, mas as obras, que deverão rondar os 150 mil euros, só deverão ficar completas para o ano. Segundo o Delegado regional, Paulo Tavares, as obras passam pela reformulação da zona de atendimento, pela reparação das zonas onde há infiltrações, pela pintura de todo o edifício, e por melhorias substanciais na zona de bar e alojamento, onde funcionou em tempos uma pousada da juventude que teve de fechar por falta de condições.Ana Ferreira e Bruno Silva,dois voluntários para o EuroGanhar experiênciae fazer algo de novoAna Ferreira, de 24 anos, vai ser uma das voluntárias do distrito de Santarém. Estudante do último ano de educação física, já esteve inscrita no programa de voluntariado que deu apoio à gimnaestrada, mas acabou por não poder participar devido à coincidência com a vida académica e anulou a inscrição.Desta vez, se tudo correr bem, acaba o curso na semana antes do começo do Euro, o que lhe vai permitir participar no evento como voluntária. A sua principal motivação é a experiência e os conhecimentos que pode vir a adquirir. “Acho que vai ser um período em que vamos estar cem por cento ligados ao desporto. Pessoalmente acho que vai ser muito enriquecedor”, disse à nossa reportagem.Ana prefere ficar ligada à parte das crianças, mas admite desempenhar outra função, desde que se adapte a ela. Está consciente que o lugar onde ficar colocada pode abrir algumas portas a nível profissional e essa é outras das razões para a sua participação.“Vou porque gosto de ser voluntária mas também para a nível profissional poder ganhar experiência e abrir algumas portas”, esclarece a jovem que vê a participação no projecto de voluntariado como um tipo de mini-estágio, embora diferente da realidade das escolas. Além do mais, este projecto de voluntariado é a única oportunidade de participar num evento com esta dimensão.Bruno Silva, de 27 anos, é outro dos jovens voluntários já inscritos. É formador de informática há nove anos, desde os 18 de idade, e voluntariou-se com a expectativa de ganhar experiência e fazer algo de novo. “É um acontecimento único e quero ter esta experiência”, refere, acrescentando que se inscreveu para todas as tarefas. “Podem colocar-me como motorista e se na altura alguém tiver um problema no computador, posso ajudar”, completa.Apesar de gostar de futebol, não se inscreveu para ver jogos ou poder contactar de perto com algumas das vedetas que vão estar na prova, até porque sabe que o trabalho é feito maioritariamente fora do estádio. O enriquecimento a nível de currículo, experiência de voluntariado e contacto com outras culturas, foram outras das razões que o levaram a inscrever-se.