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“Não é demérito trabalhar na imprensa regional”

Secretário de Estado na abertura de Encontro de Comunicação Social da ESTA em Abrantes

No ano em que vão sair da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Presidência, aconselhou os futuros licenciados a aceitarem trabalhar na imprensa regional. Foi na abertura do III Encontro de Comunicação Social.

O secretário de Estado adjunto do Ministro da Presidência, aconselhou os licenciados em comunicação a aceitarem trabalhar na imprensa regional. Falando segunda-feira de manhã em Abrantes, na abertura do III Encontro de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), Feliciano Barreiras Duarte, disse que “não é demérito para ninguém trabalhar num jornal regional ou local”.O governante citou casos de licenciados que preferem ser colaboradores de jornais nacionais a troco de meia dúzia de tostões só para verem de vez em quando um artigo publicado do que terem um emprego estável num órgão de comunicação social regional e defendeu uma alteração de mentalidades. “Essa história de os jornais regionais ou locais não terem estatuto para quem estudou e tirou um curso superior é errada e tem que mudar. O estatuto desses órgãos de comunicação social só melhora com melhores profissionais e os licenciados dos cursos de comunicação podem dar um bom contributo para isso”.As declarações do secretário de Estado foram oportunas uma vez que este ano vão sair da ESTA os primeiros licenciados em Comunicação Social, como fez questão de salientar a directora do departamento, Maria Romana.Feliciano Barreiras Duarte lembrou que na maior parte dos países da União Europeia há jornais regionais entre os dez ou quinze melhores de cada um deles e disse acreditar que a curto prazo o mesmo pode vir a acontecer em Portugal. “A chamada informação de proximidade tem uma margem de progressão muito grande. As pessoas estão cada vez mais fartas de ler e ouvir as mesmas notícias. Têm cada vez mais necessidade de saber o que se passa nos locais onde vivem e onde trabalham. Os grandes jornais já descobriram isso e estão a investir no noticiário regional. Os jornais locais e regionais têm que ser capazes de melhorar”.O actual Governo prepara-se para aprovar “nas próximas semanas”, nova legislação para a comunicação social regional e uma boa parte da intervenção do secretário de Estado foi dedicada a explicar a filosofia que preside a essa iniciativa. “Em Portugal há 900 jornais locais e regionais e 354 rádios locais. Nos últimos anos o Estado gastou 45 milhões de contos no apoio aos jornais, 41,5 dos quais no porte pago, sem qualquer resultado positivo. Aumentaram os títulos mas diminuiu o número de leitores. Esta situação tem que ser alterada”, defendeu.Segundo o primeiro estudo de audiências da marktest que abrangeu a imprensa regional, feito no final do ano passado, apenas 15 jornais regionais portugueses têm dimensão e apresentam níveis elevados de tiragens e audiência. Segundo Feliciano Barreiras Duarte, a nova legislação não pretende estabelecer um regime totalmente liberal mas quer acabar com o elevado proteccionismo. “”Queremos instituir nos próximos 3 anos um modelo intermédio. Vamos apostar nos projectos verdadeiramente empresariais. Não podemos continuar a suportar com dinheiro do Estado jornais amadores feitos por simples carolice. Já não há mercado para eles. Os jornais têm que ser profissionais e editar conteúdos feitos por quem sabe”.Ao longo da sua intervenção o secretário de Estado adjunto do ministro da Presidência fez, por várias vezes, alusão à intenção do Governo de não mexer na actual lei de imprensa. “Este Governo não vai tocar na liberdade de imprensa”, disse. E apelou aos jornalistas para “falarem mais das verdades que incomodam do que das mentiras que encantam”.O III Encontro de Comunicação Social da ESTA decorre até sexta-feira. Esta quinta-feira o dia é dedicado à realização de workshops, uma inovação introduzida nesta edição. No último dia, a partir das 10h30 discute-se o tema “Euro 2004 – Um fenómeno de comunicação”. O painel é moderado pelo professor José Peixe e os oradores são: O secretário de Estado dos Desportos, Hermínio Loureiro, Rui Santos, comentador da SIC Notícias e os jornalistas Rui Tovar e Sérgio Soares. a sessão de encerramento está prevista para as 12h15 e será presidida pelo secretário de Estado da Ciência e do Ensino Superior.Joaquim Fidalgo falou do papel dos jornalistasNão perder de vista a ética e a deontologiaO redactor principal do Público e docente da Universidade do Minho, Joaquim Fidalgo, defende que, apesar das pressões e dos ritmos de trabalho, os jornalistas continuam a dispôr de liberdade e nunca devem pôr de lado a ética e a deontologia. “Talvez as escolas de comunicação social ensinem muitas coisas úteis para o ofício, mas muito pouco sobre o ofício”. a frase é de Gabriel Garcia Marquez e Joaquim Fidalgo utilizou-a, segunda-feira de manhã, para abertura da palestra que proferiu no III Encontro de Comunicação da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), a decorrer até dia 16 de Janeiro.Docente da Universidade do Minho e redactor principal do jornal Público, onde já foi provedor dos leitores, acrescentou também uma resposta que ele próprio deu quando lhe perguntaram se o jornalismo se ensina: “Não sei se se ensina, mas sei que se aprende”. Utilizando como metáfora para a feitura da notícia a confecção de um bolo – “gosto muito de doces e tenho de perguntar qual é a melhor pastelaria aqui de Abrantes” – Joaquim Fidalgo exemplificou: “Temos todos os ingredientes, misturamo-los na porção exacta e pela ordem estabelecida, pomos no forno e o bolo está pronto a servir. Essa é a técnica, mas a técnica não é tudo. O difícil não é fazer notícias. O difícil é saber ler o mundo”.O orador chamou a atenção para o facto de os jornalistas, apesar de todos os constrangimentos e pressões, ainda disporem de um espaço de liberdade e incentivou os futuros profissionais a escolherem sempre os melhores ingredientes para a feitura das suas notícias. “Uma notícia tem de ser acompanhada antes, durante e depois. E atenção porque assim como escolhemos a melhor farinha e os ovos mais frescos para a feitura do bolo também temos que escolher os melhores ingredientes para as notícias, para não acontecer o que acontece muitas vezes. Nessas alturas o jornalista pensa que fez um brilharete e afinal só fez papel de idiota porque não noticiou o que deveria ser noticiado mas o que alguém queria que fosse noticiado”, disse.Joaquim Fidalgo afirmou que tem hoje mais dúvidas sobre a profissão do que quando se iniciou na mesma e recordou que os jornalistas vivem “no fio da navalha”, tendo que encontrar um ponto de equilíbrio entre o que são os interesses dos leitores e o interesse das empresas onde trabalham, mas sem poderem perder de vista a sua consciência e deontologia.

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