uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Artistas da terra não vão em cantigas

Tomar confirma candidatura a capital da cultura

A Câmara de Tomar quer levar por diante a candidatura a Capital Europeia da Cultura em 2012, mas no meio artístico nabantino há quem diga que a autarquia aposta muito no fogo de artifício.

O presidente da Câmara de Tomar acredita que a constituição da Comunidade Urbana do Médio Tejo poderá potenciar a candidatura de Tomar a Capital Europeia da Cultura, em 2012.António Paiva referiu que só se poderá pensar numa candidatura se se tiver uma dinâmica que permita a existência de público para as mais variadas iniciativas culturais. E também se houver equipamentos que possam receber esses eventos. O autarca salientou que o público existe e que cada vez surgem mais espaços culturais não só nas cidades do Médio Tejo como também nas vilas.Na apresentação da agenda cultural de Tomar para este ano, que decorreu na sexta-feira no renovado Cine-Teatro Paraíso, o responsável máximo do executivo foi bem claro relativamente a uma futura candidatura – “2012 parece estar longe mas está já muito perto e o nosso objectivo é procurar que haja cada vez mais envolvimento (neste projecto) por parte do público”.“Se conseguirmos alargar o nosso projecto às cidades que estão aqui próximas, estou convicto que somos aqueles que temos melhores condições para oferecer uma Capital Europeia da Cultura em Portugal”, referiu, acrescentando que outras cidades poderão concorrer - “mas sozinhas terão menos condições do que uma comunidade urbana com municípios unidos”.Salientando não saber se irão ou não conseguir alcançar esse objectivo, António Paiva referiu no entanto que “vale a pena sonhar”. O primeiro passo para a futura candidatura foi efectuado na última sexta-feira, com a apresentação de uma estratégia anual para o sector da cultura. Uma estratégia que será agora seguida anualmente, através de um programa cada vez mais ambicioso de divulgação de Tomar em termos nacionais e internacionais.“Operação de charme” não convence artistasda terraApesar da autarquia afirmar que mantém o apoio ao associativismo a verdade é que os artistas da terra não partilham dessa opinião. O director do grupo de Teatro Fatias de Cá diz mesmo que, se a cidade quer ser Capital Europeia da Cultura, iniciativa que sempre apoiou por achar “interessante”, tem de mudar a sua estratégia de apoio às colectividades e associações do concelho.“A câmara produz muito fogo de artifício mas continua a olhar para o umbigo, sem perceber que tem associações dentro de casa que fazem um excelente trabalho e que poderão dar um forte contributo, em termos de consistência cultural, a uma candidatura europeia”, refere Carlos Carvalheiro, adiantando que, só agora, a autarquia parece querer ganhar balanço para chegar às entidades que há muitos anos fazem cultura em Tomar.O encenador refere ainda a falta de “estímulo” da autarquia, que continua a preterir os artistas da terra. “O Fatias de Cá quer organizar um festival de teatro em Julho no Convento de Cristo, pediu apoio à câmara mas até agora não obteve resposta”.Do mesmo mal se queixa Jorge Rivotti, músico de Tomar a residir em Lisboa e que até fez um espectáculo no Cine-Teatro Paraíso em Dezembro passado. “Fiz por proposta própria”, afirma o músico, adiantando nunca ter sido convidado pela câmara a fazer espectáculos esporádicos ou integrados em algum evento especial para a cidade e o concelho.Afirmando-se quase como um proscrito – “quem não se sente não é filho de boa gente” – Jorge Rivotti diz que a autarquia deve acarinhar mais os artistas que levam o nome de Tomar de norte a sul de Portugal. “É que assim também nós ganhamos algum alento e já não nos sentimos desmotivados quando falamos da cidade”.Relativamente a uma candidatura à Capital Europeia da Cultura, Jorge Rivotti diz que é um projecto que pode ganhar alguma alma se a câmara conseguir conquistar públicos, a começar pelas camadas mais jovens. “Tem de se criar maiores hábitos culturais nas crianças”.O vocalista dos Quinta do Bill é mais apaziguador nos seus comentários. Apesar de afirmar que durante muito tempo houve uma ausência de interesse da câmara, no sentido do grupo actuar na cidade, Carlos Moisés refere que preferiram sempre “não levantar muito pó”, até porque regularmente recebiam convites de associações particulares para actuar no concelho.O músico afirma-se agora contente por poder tocar e cantar para o seu público e no Cine-Teatro Paraíso, ainda para mais integrados no programa cultural da autarquia. Mas deixa um recado – valia a pena outros músicos de Tomar poderem também estar presentes. “Espero que não fiquem esquecidos”.Espectáculos para todos os gostosA actividade cultural prevista para Tomar em 2004 é grande e diversificada. Teatro, dança, cinema, animação de rua, música, feiras jovens, exposições artísticas vão decorrer ao longo de todo o ano.O Cine-Teatro Paraíso será palco de quatro peças teatrais – Comédia da Vida Privada, a Arte da Queca, d’O Santo Jogral Francisco e Stand-up Tragedy. No mesmo espaço haverá também lugar ao cinema alternativo, com o lançamento do programa “Sexta-Fora”. Serão apresentados ao longo do ano 13 obras de cinema alternativo oriundos dos Estados Unidos, Espanha, França, Itália e terras do Oriente.O Cine Esplanada, que deixará de ser um espaço fechado para funcionar como uma praça aberta ao rio, acolherá os grandes clássicos do cinema, vocacionados para as noites em família.Na área musical, Sérgio Godinho e Jorge Palma passarão pelo palco do Cine-Teatro Paraíso no Outono. Mas antes, em Abril, o maestro António Vitorino de Almeida e Carlos Mendes interpretarão canções que nos lembram outro Abril, 30 anos depois.Março é o mês do pop/rock e do jazz, com a actuação dos Quinta do Bill, grupo de Tomar e uma evocação a Elis Regina, no dia dos seus 59 anos.No Verão, a animação sai à rua nas noites de sexta-feira e sábado, dos espectáculos musicais com os Trupe Vocal e Paulo de Carvalho. E se quiser dar um pezinho de dança haverá salsa, capoeira, tango e, pela primeira vez, danças históricas da Corte de D. Manuel e de D. João III.

Mais Notícias

    A carregar...