uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Ensinar a arte de tratar cabelos

Ensinar a arte de tratar cabelos

Há duas décadas que Hortense Nascimento dá formação

Aos 21 anos deixou Santarém para tirar um curso de cabeleireira. Teve vários salões mas sentia-se sempre insatisfeita porque o seu sonho era ensinar o que aprendeu aos outros. Uma aspiração que concretizou em 1984, quando abriu o Centro de Ensino de Cabeleireiro em Santarém. Hoje, apesar do esforço ser intenso, sente-se realizada.

Hortense Nascimento nasceu para ajudar os outros a sentirem-se bem. Quando era jovem quis seguir enfermagem, mas os pais não a deixaram ir estudar para Lisboa. Quando fez 21 anos, decidiu traçar o seu próprio rumo. E rumou à capital para tirar o curso de cabeleireiro, uma outra forma de fazer as pessoas terem mais auto-estima. Tirou o curso numa escola espanhola, a única escola de cabeleireiros que existia há 43 anos. E, como ela própria diz, “atirou-se logo de cabeça” ao trabalho. Terminado o curso abriu de imediato o seu primeiro salão, na Ribeira de Santarém.Em 1984, decidiu abrir o Centro de Ensino de Cabeleireiros que hoje, 20 anos depois, continua a funcionar de vento em popa. “Sempre tive muita curiosidade em saber mais, em fazer melhor e em passar os meus conhecimentos para as outras pessoas”, refere quem ainda hoje se considera uma profissional insatisfeita – “sou muito exigente comigo e nunca fico satisfeita com o que faço, penso sempre que posso ir mais além”.A partir dessa altura passou exclusivamente a dar formação de cabeleireiro. É Hortense Nascimento que mostra aos seus pupilos como se corta um cabelo, se faz uma coloração, ou umas madeixas. Mas não se pense que ensinar a arte de cabeleireiro é fácil. Ou que basta apenas ter jeito e alguma criatividade. Quem começa do zero no seu centro de ensino tem nada mais, nada menos, que 18 disciplinas no primeiro dos três anos de curso.E muitas parecem mesmo nada ter a ver com a profissão, como línguas (francês e português), contabilidade, legislação, fisiologia, sociologia, química ou desenho. São no mínimo mil horas de ensino, dadas por profissionais licenciados e habilitados em termos de formação.A Hortense, além de toda a prática, cabe-lhe ainda as aulas de higiene e segurança no trabalho, generalidades da profissão e toda a vertente tecnológica. Apesar da parte prática da profissão, absorver 80 por cento do total da formação no primeiro ano, não se pode descurar a teoria. E, além da formação profissional, os educandos têm também de ter alguma formação económica e social. O cabeleireiro tem de ter um olhar quase cirúrgico relativamente aos seus clientes – tem por exemplo de saber conjugar o penteado com o fato da cliente, escolher o corte de cabelo adequado ao perfil e à face de cada um.O que dá mais gozo a Hortense Nascimento é poder contribuir para que outra pessoa se sinta melhor. “Às vezes uma cliente entra no salão com «neura», aborrecida e eu vou conversando com ela, mudo-lhe o visual e quando sai daqui já parece outra, mais confiante em si própria”. Ir ao cabeleireiro, diz Hortense Nascimento, funciona como uma espécie de terapia. “O cabeleireiro não é só uma pessoa que arranja o cabelo. É também conselheiro, psicólogo, confidente e acaba por ser também um amigo”.Ao longo da sua carreira de formadora, a cabeleireira já rejeitou alguns candidatos logo num primeiro olhar. “Não basta querer ser cabeleireira, a pessoa tem de ter perfil, saber estar”, refere Hortense Nascimento, adiantando que nesta arte a postura é muito importante. “Por exemplo, nunca se deve pegar num acessório com a mão fechada, a tesoura tem de se pôr no dedo mindinho e não no do meio”.Uma profissão nunca deve ser imposta, diz a cabeleireira. O essencial é a pessoa gostar e querer aprender sempre mais. E há pessoas que só descobrem o interesse numa profissão a meio da vida. Como um formando do centro que, aos 41 anos de idade, e depois de uma vida de camionista, descobriu que a sua verdadeira vocação estava em pentear cabelos.O Centro de Ensino de Cabeleireiro de Santarém funciona de segunda a quinta-feira, uma vez que todos os formandos, sem excepção, vão trabalhar em cabeleireiros, no exterior. Alguns têm já salões abertos, outros são procurados pelos cabeleireiros da zona.Quem quiser tirar o curso de oficial de cabeleireiro tem de desembolsar 200 euros mensais no primeiro ano e 150 em cada um dos dois anos seguintes. Mas a mensalidade não afasta os candidatos. “Temos aqui formandos de todos os pontos do país, inclusive dos Açores”, refere Hortense.Há também quem queira ficar apenas com a formação de ajudante – apenas um ano de formação – e de praticante, dois anos. A maioria, no entanto, opta por sair do centro com aptidão para poder gerir um salão.O trabalho de Hortense Nascimento é reconhecido a nível nacional. Não é por acaso que a cabeleireira é chamada para eventos – “se for só para ir a uma festa declino os convites mas se for para trabalhar digo logo que sim”, refere.Hortense começa a trabalhar às 9h30 da manhã e acaba por volta das 17 horas. À segunda e terça-feira o horário é alargado porque há também aulas no período pós-laboral. Nesses dias entra à mesma hora mas nunca sai antes da meia-noite. Um ritmo alucinante que só consegue manter porque adora o que faz.Margarida Cabeleira
Ensinar a arte de tratar cabelos

Mais Notícias

    A carregar...