Estreou os primeiros sapatos tinha 10 anos, quando foi fazer o exame de acesso ao liceu. A vida do presidente da Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim, concelho de Almeirim, não foi pêra doce. Manuel Bastos Martins diz até em jeito de brincadeira que nasceu a trabalhar. Com 57 anos de vida sente-se desanimado com o estado da sociedade onde impera o egoísmo. Gosta de viver com intensidade e é um amante da poesia e do fado. Para além de cantar também escreve poemas e letras para músicas.Há alguns anos pisou alguns palcos a cantar fados. A última vez que actuou em público foi há dez anos na Feira de S. Martinho na Golegã. Tem um fado da sua autoria intitulado “A cor dos olhos que eu gosto”. É um fado que fala de um momento difícil da sua vida. Uma altura em que o seu filho esteve internado, durante 2 anos, por ser toxicodependente. Manuel Bastos Martins é um homem que gosta de conviver. É bem disposto e sempre que pode gosta de participar num petisco com os amigos. Não tem grandes ambições na vida e diz mesmo: “Só me sentirei rico quando toda a gente o for”. Do seu tempo de meninice ainda se lembra de andar atrás dos pais, descalço, quando estes iam para o trabalho, a pé, para os campos da zona. Trabalhavam na agricultura por conta de outrém. “Os meus pais eram muito pobres e analfabetos. Vivi num mundo de pobreza e ainda me lembro de ir de bicicleta para o externato liceal de Almeirim”, contou. Realçando que não se arrepende de nada do que fez na vida, Manuel Bastos Martins chegou a engenheiro mecânico à custa de muito esforço e trabalho. Na altura em que se licenciou dava aulas para poder pagar o curso. A paixão pelo ensino acabou por falar mais alto e nunca chegou a exercer a profissão em que se tinha formado. Este professor de Matemática chegou a ocupar cargos de chefia nas escolas por onde passou. Foi director da Escola Febo Moniz em Almeirim após o 25 de Abril. Esteve como vogal no conselho directivo da Escola Industrial e Comercial de Santarém e actualmente é o presidente do conselho executivo da Escola EB 2/3 de Fazendas de Almeirim. Nesta vida ligada ao ensino não admira que considere que “os adultos representam problemas mais complicados que as crianças”. As suas funções de duplo presidente dão-lhe pouco tempo para o descanso. Não dorme nunca mais do que cinco, seis horas no máximo. Gosta de pesca e às vezes acompanha o filho, que é pescador desportivo de água doce, em algumas provas. Para a caça não tem paciência nem a actividade faz parte do seu feitio. “Gosto de ver os animais mas sem estarem mortos. Gosto de os ver em liberdade”, confessou. Manuel Bastos Martins foi jogador de futebol na Académica de Santarém e no Fazendense. E aos 40 anos ainda abraçou a actividade de treinador do clube da sua terra. No entanto garante que nunca ganhou dinheiro, nem no futebol nem noutro tipo de situação em que se predispõe a ajudar a comunidade. A agricultura é uma das suas grandes paixões. Por vezes refugia-se numa vinha de que é proprietário, de onde tira 40 mil litros de vinho, feitos pelo método caseiro. Não tem qualquer problema em pegar numa tesoura e fazer a poda das videiras ou qualquer outro trabalho agrícola.