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Folgazão Manuel Serra D’Aire

Folgazão Manuel Serra D’Aire

És danado para a brincadeira. Aquela alusão às aulas de português que ando a dar à Natasha Seminova trazia água no bico... Mas onde tu vês outros interesses, que não vão para além da correcta aplicação da língua, só há altruísmo e filantropia. E digo-te mais: estou a pensar em não ficar pela imigrante ucraniana nesta missão. Há muito mais gente neste país a necessitar da minha ajuda.Como os autarcas da nossa região. Posso dizer-te, a título de exemplo, que só em Tomar há já um grupo disposto a alugar um autocarro para vir até minha casa diariamente aprender a língua pátria. O primeiro semestre, já está combinado, vai ser exclusivamente destinado a ensinar-lhes a conjugação do verbo intervir. Assim evitam fazer figuras debitando palavrões como “interviu” ou “intervi”. É de amigo ou não é?O meu contributo para a certificação de qualidade dos nossos autarcas vai passar também por lhes revelar o verdadeiro significado de alguns palavrões que eles se fartam de repetir sem nexo. Tenho mesmo a imperiosa necessidade de começar por lhes explicar que projecto-âncora não é um promessa eleitoral para mandar por água abaixo. E que desenvolvimento sustentado não tem nada a ver com o avantajado crescimento das suas protuberâncias abdominais desde que assumiram funções autárquicas.Vou ainda abrir um clube de alunos VIP, porque com o Euro 2004 à porta é importante darmos uma boa imagem a quem nos visita. Seria triste um búlgaro ou um grego chegarem cá e darem um bailinho de português a alguns símbolos nacionais. Repara: o Eusébio, por exemplo, está em Portugal há quase 50 anos e ainda não domina o nosso idioma na perfeição. Há quem pense que é um caso perdido e que com aquela idade já não aprende línguas, mas eu estou disposto a pô-lo a falar melhor que a Edite Estrela. A ele e ao empresário Sousa Cintra, também ele nascido num país estranho, neste caso o Algarve. Vais ver como ao fim de um ano vai soletrar Sporting com uma pronúncia melhor que a do Bobby Robson. E com a vantagem de me poder pagar em cerveja e de não ter de ser amigo do Zé Mourinho...Manel, estou a escrever-te barricado no meu bunker. São precauções que habitualmente tomo no Carnaval para não ter de me haver com os energúmenos a quem chamam de foliões e sujeitar-me a levar com algum ovo podre ou um saco de farinha pelas trombas. Se queres que te diga, o nosso Carnaval é uma tristeza. Majoretes de palitos ao léu que metem dó (já alguém reparou que aquilo é exploração infantil?), réplicas de baianas que parecem tábuas de passar a ferro e que têm tanto jeito para dançar o samba como eu para vender enciclopédias escritas em latim. E, como se não bastasse, ainda há grupos de gajos vestidos de mulher, fazendo concorrência despudorada e desleal a quem ganha honestamente a sua vida no Jardim da República, no Parque Eduardo VII e locais afins.Aliás, isto do Carnaval é uma obsessão doentia. Há tipos que passam a vida inteira mascarados sem darem por isso. É o caso do primeiro-ministro Durão Barroso, que depois de outros disfarces meteu agora na cabeça que é pai e guia espiritual de todos os portugueses e nos quer impedir de beber e de fumar à força, ao mesmo tempo que nos quer esfalfar com exercício físico. Diz ele que há que promover estilos de vida saudáveis. Mas, pergunto eu na minha modesta ignorância, se a nossa vida não seria mais saudável sem políticos do estilo dele? Um abraço do Serafim das Neves
Folgazão Manuel Serra D’Aire

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