Uma terra de tradições
2004 vai ser um ano de festas e de obras em Riachos
Freguesia intimamente ligada à fertilidade dos campos que a envolvem, Riachos é uma vila que cultiva as tradições populares sem deixar de olhar para o futuro. O desenvolvimento é notório, mas nem sempre foi acompanhado das necessárias infra-estruturas.
Riachos, a única vila do concelho de Torres Novas, é conhecida pelo fervor com que conserva e valoriza as suas tradições. Daí o bairrismo de que por vezes são acusados os seus habitantes e que estes desmentem e justificam com o que a terra tem de melhor: o poder de mobilização, as associações e a festa da Bênção do Gado, única na região, intimamente ligada à lenda do Senhor Jesus dos Lavradores.É terra de agricultores e seareiros, a dois passos dos férteis campos da Golegã e das grandes quintas de que Carvalhais, Caniços, Paul ou Minhoto são apenas alguns exemplos. Mulheres e homens tinham como meio de vida a faina do campo, a maioria trabalhava como assalariados, de sol a sol, por conta dos senhores das terras. Os cingeleiros foram figuras ímpares em Riachos. Eram eles que, antes da mecanização agrícola, amanhavam os campos com as suas juntas de bois. As empresas vieram mais tarde. Umas criadas para dar escoamento à produção agrícola como a Unital ou a Torrejana de Azeites, outras mais viradas para o comércio. A firma de João da Luz, de transporte e venda de peixe, ficou célebre.Mas apesar dos tempos mudarem e da indústria e os serviços ocuparem cada vez mais espaço, o sector agrícola continua a ter um papel preponderante no tecido económico riachense e nas tradições desta terra que em 16 de Maio de 1984 foi elevada a vila.Riachos pertenceu à freguesia torrejana de Santiago até 1923, altura em que foi criada a freguesia de Riachos, cujo nome talvez advenha dos vários ribeiros (riachos) que atravessam a localidade para desaguarem no rio Almonda. A terra era um conjunto de casais – Castelos, do Tocha ou da Raposa - e o centro, ou Riachos propriamente dito, era o casario em torno da igreja velha. O templo já não existe, mas o largo junto aos cafés continua a ser a zona central da vila. Este ano, Riachos vai estar em festa. A primeira colectividade a desenvolver o seu programa cultural foi a Sociedade Velha Filarmónica Riachense que, no próximo mês, assinala 120 anos de existência. As comemorações, iniciadas em Janeiro, prolongam-se até final de Maio. Depois é a vez da junta de freguesia organizar as comemorações dos 30 anos do 25 de Abril e os 20 anos de elevação a vila “de uma forma mais condigna. Temos de abrir os cordões à bolsa”, diz o presidente.O XXV festival de folclore, organizado pelo galardoado Rancho Folclórico “Os Camponeses”, vem logo depois. O rancho fundado em 1958 é uma das imagens de marca da vila. A culminar os festejos, a Festa da Bênção do Gado, com o seu cortejo etnográfico encimado pela imagem do Senhor Jesus dos Lavradores que a lenda diz ter sido encontrada nos campos do aspargal, perto dos Casais Novos. Com uma população de cerca de 5400 habitantes e as escolas a abarrotar de crianças, Riachos debate-se com alguns problemas estruturais e reclama mais atenção por parte da câmara municipal. Mas para o presidente da junta, João Cardoso (PS), o terceiro ano do seu mandato inicia-se “com belíssimas perspectivas”. A construção dos passeios na estrada principal vai começar, a recuperação para jardim-de-infância do edifício Nossa Senhora da Conceição também, o viaduto sul sob a linha férrea está quase em fase de conclusão e o viaduto norte talvez comece até ao fim do ano.“Em Riachos o que me interessa são coisas que já deviam ter sido feitas há muitos anos. Os viadutos, os passeios, o jardim-de-infância são obras que se arrastam há tantos anos que se já tivessem sido feitas hoje Riachos não teria tantas carências”, desabafa o presidente e conclui: “O atraso destas obras causa o descontentamento das pessoas, mas 2004 vai ser para Riachos o ano dessas obras”.No entanto, há investimentos não calendarizados que são um quebra-cabeças. Entre eles a recuperação das escolas Adães Bermudes e os necessários arranjos na do primeiro ciclo. Num outro âmbito, o saneamento também está muito aquém do que seria desejável.“Riachos fica numa zona muito baixa, recebe águas desde a charneca da Meia Via ao Entroncamento e os colectores já não têm capacidade para resolver a situação”, explica o presidente da junta, que continua: “O problema ainda é mais grave nas zonas que estão em expansão urbanística como o Casal da Tocha. Ou na Costa Brava, onde os terrenos só servem para urbanização, na ligação ao Entroncamento e na zona da Quinta das Flores onde também não há saneamento. Depois, os esgotos pluviais estão ligados ao colector de esgotos domésticos e é uma desgraça, principalmente quando chove”.A futura zona industrial de Riachos, situada na Cova do Minhoto, que não anda nem desanda, é outra das preocupações do presidente João Cardoso: “Alguns empresários já desistiram de construir, há pequenas firmas que gostavam de sair do aglomerado urbano e nunca mais”. Apesar dos males, o autarca está optimista para o ano em curso e as associações estão apostadas em fazer de Riachos uma festa. Margarida Trincão
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