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Educação e emprego de costas voltadas

Educação e emprego de costas voltadas

O sistema não funciona mas a culpa deve ser repartida entre os vários intervenientes
O sistema educativo não está a servir o mercado de trabalho. A conclusão, unânime, é do grupo de especialistas que, na última sexta-feira, dia 12, debateram a problemática da adequação da escola ao mercado de trabalho, no âmbito do VI Seminário Regional de Educação de Tomar.Em Portugal, 27,8 por cento dos estudantes estão em cursos tecnológicos, um valor muito abaixo dos 54,4 por cento da média comunitária. No nosso país, um número assustador de jovens – 41 por cento abandona o ensino após completar o 9º ano, enquanto na Grécia, por exemplo, apenas 18,5 por cento não continuam os estudos.Estes números, apresentados durante o seminário sobre educação realizado em Tomar, serviu de base para os cinco intervenientes na mesa redonda, subordinada ao tema a adequação da escola e o mercado de trabalho, concluírem que falta preparação da escola para formar quadros, que não há adaptação nem espírito de iniciativa e criatividade para alterar o rumo das coisas.Durante toda a manhã, o presidente da Câmara de Tomar, António Paiva, a vice-presidente da Nersant, Salomé Rafael, Ana Teresa Penim, do Conselho Nacional de Educação, Octávio Oliveira, do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e Guilherme Valente, empresário e co-autor do Manifesto para a Educação da República, avançaram números preocupantes no sector da educação, questionaram o papel dos empresários e do Estado e falaram na dignificação da profissão, perante uma plateia repleta de professores e educadores.Guilherme Valente, cujas intervenções foram sempre muito aplaudidas, era o mais desiludido e inconformado com o rumo que a educação leva em Portugal. “É vergonhoso o que se passa na educação, estamos a enganar as nossas crianças e os pais”, referiu.Na sua opinião, o problema está na ideologia do poder, em termos de educação. O representante do IEFP foi mais longe, adiantando que a questão de base que entrava qualquer adequação do mundo escolar ao mundo profissional está no facto dos “senhores que estão na 24 de Julho” acharem que a formação profissional é uma questão que só se põe a partir do 9º Ano.A escola não pode ser redutora e deverá dar formação vocacional ao aluno o mais cedo possível, de modo a evitar o abandono escolar. Porque o que está em causa é a “aplicação do conhecimento”.E os empresários, estão eles próprios receptivos a receber alunos das escolas? A responsável da Associação Empresarial da Região de Santarém, diz que sim, que a Nersant tem participado em reuniões com todo o sistema e quando procura técnicos qualificados na região “o eixo Tomar/Abrantes é muito importante”.Salomé Rafael lançou no entanto mais umas achas para a fogueira da educação quando questionou sobre até que ponto é que o sistema educativo quer responder às necessidades reais do mercado de trabalho.Neste momento a maioria do ensino tecnológico não corresponde a essas necessidades reais. Mas há casos de sucesso. A questão, refere a empresária, é saber se o poder político pretende dar continuidade a esses exemplos de sucesso.Ana Teresa Penim, directora da Escola de Comércio de Lisboa, puxou a brasa à sua sardinha, ao afirmar que as escolas profissionais são cada vez mais procuradas por parte de jovens que acabaram com êxito o 9º Ano.“São projectos educativos com personalidade, com uma forte componente activa, o que facilita a entrada no mundo do trabalho”.Mas, para o presidente da Câmara de Tomar, enquanto o mercado de trabalho depender tão fortemente da administração pública, o espírito de iniciativa e a criatividade profissional vão sendo esquecidas.O número de desempregados existente não deixa mentir a ineficiente interligação entre a escola e o mercado de trabalho. Pelo menos no distrito de Santarém, onde não faltam licenciados à procura do primeiro emprego.
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