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Á procura uma figura

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Maestro José Júlio é a alma da Escola José Falcão
Maria Sampaio e Melo sabe que bem poucas foram as mulheres que vestiram o traje de luzes, mas aos 17 anos tem toda a legitimidade para sonhar. Esta estudante que gostaria de se formar em relações internacionais ou seguir uma carreira militar na Força Aérea Portuguesa tem os pés bem assentes na terra, mas sonha com a entrada numa das maiores praças de toiros do mundo.Maria é uma das três raparigas da Escola de Toureio José Falcão de Vila Franca de Xira. O capote, a muleta e as bandarilhas são uma novidade na vida da jovem que há mês e meio, quase todos os dias, deixa a sua casa em Lisboa para participar nas aulas do mestre José Júlio no pavilhão do Cevadeiro.O matador vilafranquense, 69 anos, é uma das maiores figuras do toureio e, com a sua mestria e serenidade, transmite o que aprendeu em 45 anos nas arenas de vários pontos do mundo. “Isto é uma arte onde só os artistas podem triunfar. Aqui prepara-se toureiros para as arenas e para a vida porque a vida também é perigosa”, explica o maestro com a convicção de quem sabe do que fala.Enquanto a conversa decorre, o maestro não retira os olhos dos seus rapazes. “Este vai ser figura. Tem tudo para ser artista”, refere, olhando para o desempenho de David Ferreira. O rapaz alto e espadaúdo tem o estilo dos grandes matadores e aos 19 anos não esconde a ambição de vir a ser a figura que Vila Franca procura. “O meu sonho é chegar a matador. Trabalho todos os dias a pensar nisso, mas sei que é difícil”, diz. David trabalha num armazém e todos os tempos livres são ocupados com os treinos no ou nos tentaderos (treinos reais com vacas), como aconteceu no domingo na Granja.A escola de Vila Franca tem 20 candidatos “na linha de fogo” e mais 10 que de vez em quando aparecem, mas ainda não conseguiram convencer os pais. José Júlio orgulha-se de ter ajudado a formar jovens como Tójó, uma rapaz de Santarém que já está a tourear em Espanha. Rodolfo Barquinha, Manuel Fera e Joel Piedade também se formaram em Vila Franca. O facto da Escola José Falcão ser a única portuguesa membro da Confederação das Escolas Taurinas de Espanha proporciona a oportunidade dos jovens se mostrarem nas praças de “nuestros hermanos” e despertarem interesse nos apoderados. Todos sabem que a corrida a pé em Portugal passa por um período complicado, mas isso não desmotiva os candidatos a toureiro.Nem todos chegam a matador. Que o diga Nuno Boga, um toureiro de Alhandra que há quatro anos desistiu do sonho e optou por tirar a alternativa de bandarilheiro. Hoje é um dos peões de brega do cavaleiro João Moura Caetano (filho de Paulo Caetano). “Em Portugal é quase impossível ser matador de toiros”, reconhece.Marcelo Ribeiro, 15 anos, está a dar os primeiros passos. Sempre que pode, desloca-se de Sintra para treinar uns capotazos, umas chicoelinas e umas verónicas em Vila Franca. “Estou na melhor escola nacional, com uma das maiores figuras e aqui sei que aprendo”, disse. O rapaz ganhou o gosto pela festa no Alentejo, quando estava na casa dos avós em Moura. “Sempre brinquei aos toiros e desde pequeno que sonho ser toureiro”, conta. Marcelo quer ser um toureiro veterinário e diz que a festa não vai condicionar o curso.André Rocha tem 14 anos e desde cedo começou a admirar a festa brava. É de Vila Franca, vive no Porto Alto e estuda em Castanheira do Ribatejo. Mesmo assim arranja tempo para os treinos e para estudar. As notas são boas e essa é uma condição essencial para continuar na escola. “Quem não conseguir boas notas não vem para a escola. Há rapazes que saíram por não estarem bem na escola”, refere o maestro José Júlio. Curiosamente, a maioria destes jovens não é de Vila Franca e não tem grandes aficcionados na família, mas os pais respeitam a opção dos filhos, apesar do aperto no coração. Quando perguntamos se têm medo dos toiros a resposta é em uníssono. “Não temos medo, temos respeito. O toureiro tem de respeitar a nobreza do toiro”, refere Maria Sampaio e Melo.A Escola de Toureiro José Falcão está de portas abertas de segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 17h00 às 19h00 e aos sábados das 10h00 às 12h30. Quem quiser descobrir “a verdadeira arte da festa” basta aparecer no pavilhão do Cevadeiro. Brevemente a escola vai transferir-se para as instalações do Cabo junto da Ponte Marechal Carmona.
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