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A hóstia que sangra

Procissão do Santíssimo Milagre no Domingo de Pascoela
A Relíquia do Santíssimo Milagre de Santarém, uma hóstia ensanguentada preservada desde o século XIII, sai em procissão no Domingo de Pascoela, dia 18, procurando revitalizar um culto de grande expressão no passado e atrair peregrinos à cidade.Tido pela Igreja como “um acontecimento prodigioso que confirma a presença real de Jesus na Eucaristia”, nas palavras do Bispo de Santarém, D. Manuel Pelino, o Milagre de Santarém tem trazido à cidade milhares de peregrinos de todo o mundo (20.736 em 2000, dos quais 15.494 estrangeiros e destes 11.545 norte-americanos, número que sofreu uma quebra depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001).A igreja de Santo Estevão, ou do Santíssimo Milagre, é o templo mais visitado de Santarém. A revitalização das celebrações religiosas iniciou-se com a elevação a santuário, em 1997, por iniciativa do então bispo de Santarém, D. António Francisco, e com a reactivação da Irmandade por impulso do pároco de Marvila, Manuel Borges, e tem sido acompanhada por um conjunto de iniciativas culturais, como concertos e palestras, sublinhou à Lusa Licínio Diniz, juiz da Real Irmandade do Santíssimo Milagre.Além da celebração do acontecimento que esteve na origem do milagre por ocasião do seu aniversário, a 16 de Fevereiro, a Real Irmandade tem vindo a promover, desde 1998, uma “grande festa do Santíssimo Milagre” na Pascoela, retomando um dos períodos do calendário escolhido no século XIII pelos clérigos para mostrar a Relíquia.Assim, no próximo sábado, dia 17, realiza-se uma vigília e no domingo, dia 18, de manhã, a veneração da Sagrada Relíquia a que se segue missa solene, presidida pelo bispo de Santarém e, à tarde, a procissão pelas ruas da cidade, sendo intenção da Irmandade retomar igualmente a tradição de mostrar a Relíquia ao povo de Alcanede no último domingo de Maio.Para dia 23, está agendada uma palestra com o professor Vítor Serrão, tendo as festividades sido abertas há uma semana com um concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa, na igreja da Graça.Para Licínio Diniz, a veneração da Sagrada Relíquia ao longo de mais de sete séculos, através de fortes manifestações de fé popular, e também a investigação feita a partir de documentos muito antigos “não eram possíveis se os acontecimentos não tivessem ocorrido”.No livro “O Santíssimo Milagre” de Santarém, o historiador Martinho Vicente Rodrigues relata como, em 1247, uma mulher “desconsolada pelos maus tratos de seu marido” escondeu a hóstia sagrada na beatilha para a entregar a uma vizinha, “ao que parece hebreia de nação”, para viver “muito bem com o seu marido”.Só que, logo que saiu para a rua, a hóstia começou a sangrar, pelo que em vez de a entregar à vizinha a escondeu na arca da roupa, de onde, “alta noite”, saíram “resplendores” e “suaves músicas”, “milagre” tornado público na manhã seguinte pelo pároco de Santo Estevão.A hóstia foi então colocada dentro de umas bolas de cera, misteriosamente substituídas por uma âmbula de cristal, “de tal modo fabricada que não se notou lugar algum no cristal por onde se conhecesse que ali fora metida”.“No fundo da âmbula vê-se a Sagrada forma com sangue”, estando o interior da âmbula “quase todo banhado em sangue, em partes mais grosso e noutras mais raro”, tendo a relíquia sido guardada no sacrário da igreja de Santo Estevão, de onde saiu apenas uma vez, durante um ano (de Outubro de 1810 a Novembro de 1811), para Lisboa, a salvo das tropas francesas.Com dias fixos para ser mostrado, o Santíssimo Milagre acabou, contudo, por sair numerosas vezes à rua, sempre que havia calamidades, como grandes chuvas e cheias ou devido às secas ou “pelas grandes necessidades públicas”, como ocorreu em 1807 por ordem do príncipe regente D. João.O MIRANTE/Lusa

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