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Pescador da Borda d’ Água

Zé Boga trabalhou nas margens do Tejo, em Azambuja
O pescador avieiro José Letra, 76 anos, mais conhecido pela alcunha que herdou do avô - Zé Boga - procurou durante décadas o sustento nas águas férteis do Tejo, no Porto do Lezirão, em Azambuja.Nasceu na aldeia piscatória da Palhota, em Valada, no concelho vizinho do Cartaxo, no primeiro dia de Maio, mas foi “dado ao registo” em Vieira de Leiria a 7 de Junho. Era este o mês que as famílias avieiras escolhiam para voltar à terra. No Inverno as ondas fortes do mar da Vieira não permitiam a pesca e os pescadores de água salgada rumavam em direcção ao Tejo, onde o sável prometia a riqueza. Permaneciam nas águas calmas do Tejo de Janeiro a Junho.Zé Boga começou com nove anos nas lides da pesca. “Quando a pesca não dava trabalhava-se no campo”, recorda. Aprendeu desde cedo a lidar com a rede de arrasto, que era lançada ao rio por um grupo de 14 homens durante o dia. À noite, no interior do saveiro, onde pernoitava com a esposa, pescava o sável. Zé Boga recolhia a rede durante a noite à luz de uma lanterna a petróleo enquanto a mulher descansava alguns minutos.Era uma vida dura. Trabalhava-se do nascer ao pôr do sol. “Não havia descanso. Passávamos dias e dias no barco sem ir a terra. Lá se cozinhava e se criavam os filhos”, lembra o pescador.Durante semanas o barco só acostava para largar as mulheres que andavam quilómetros de cesto à cabeça para vender o peixe. O preço do pescado, vendido a 25 tostões o quilo, não pagava o esforço de noites mal dormidas. Ao longo de vários anos o saveiro, um barco de pontas arredondadas, foi o abrigo da família de Zé Boga. O terceiro dos seus cinco filhos nasceu a bordo de um barco na altura em que o pescador e a esposa transportavam melão para vender em Vila Franca de Xira.A sua primeira casa avieira foi construída na Praia da Casa Branca, em Azambuja. “Era feita de caniço, como as dos moirais do gado”, recorda Zé Boga. Mais tarde deslocou-se para o bairro dos pescadores no Porto do Lezirão, junto ao Tejo.Só há nove anos deixou a Borda d’água e mudou-se para uma casa de pedra e tijolo na Travessa da Paciência, no centro de Azambuja. De vez em quando ainda desafia o velho saveiro, companheiro de uma vida, para a pesca da lampreia, que faz as delícias de um almoço em família. O peixe já não abunda no Tejo, mas o som do roçar dos salgueiros ainda mata a saudade de tempos que já lá vão.

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