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Uma vila cosmopolita

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Azambuja continua a preservar a tradição da festa brava

A vila de Azambuja conserva ainda as tradições da festa brava. O ambiente de lezíria ribatejana, que subsiste a pouca distância de Lisboa, chama também a atenção de imigrantes que procuram nos grandes armazéns logísticos e comércio da terra a oportunidade de uma vida melhor.

Quem cruza uma das ruelas da vila de Azambuja encontra facilmente cidadãos de outras paragens. A pele bronzeada, chinelos de praia e um ar descontraído denunciam a presença de imigrantes que viajam durante horas para tentar a sorte do outro lado do oceano.São sobretudo brasileiros que se apeiam diariamente na estação de comboios de Azambuja, uma das mais concorridas da região, onde chegam composições de Lisboa de meia em meia hora. Os armazéns logísticos da zona industrial, fábricas e o comércio da vila são locais apetecíveis para iniciar uma nova vida.O ambiente mais campestre da lezíria já conquistou dezenas de imigrantes. Ao final da tarde, nas pracetas que se espalham pela vila, os brasileiros ocupam os bancos de jardim e formam filas nas cabinas públicas para matar a saudade do país natal.A população de Azambuja já se habituou ao ambiente cosmopolita da terra e convive em harmonia com a profusão de culturas. Os apartamentos e casas antigas que se espalham pelas travessas íngremes que descem pela encosta de Azambuja enchem-se de novos moradores que dividem as casas.“Temos uma grande comunidade de brasileiros, e também alguns ucranianos, que é muito bem vinda porque também contribui com o seu trabalho. Os azambujenses são pessoas que abrem o coração e sabem receber”, esclarece o presidente da Junta de Freguesia de Azambuja, António Amaral, natural de Alcanede (Santarém), que há 26 anos também adoptou a vila como a sua terra.Enquanto alguns chegam a Azambuja, muitos filhos da terra são obrigados a deixar a vila. Alguns trabalham em Lisboa e fazem diariamente o percurso para a capital, mas outros foram obrigados a deixar a terra, onde residem aproximadamente 7300 pessoas.Azambuja possui ainda uma forte componente agrícola e os sectores com mais peso estão ligados ao ramo automóvel, agro-alimentar, metalúrgico e logístico. Muitos quadros superiores acabam por ter que se ausentar.Os filhos da terra, apaixonados pelas tradições da festa brava, voltam todos os anos para assistir à grande festa da Feira de Maio. Dentro de dias começam os preparativos que enchem de cor a castiça vila ribatejana.A rua principal transforma-se numa arena, rodeada por tranqueiras. Das janelas soltam-se colchas rendadas e mantas axadrezadas e ouve-se o fado. As tertúlias, que se estendem ao longo da rua principal, convidam o visitante a provar o vinho e a gastronomia típica, fortemente marcada pelos pratos de peixe fresco, pescado ali à frente, nas margens do Tejo.A principal auto-estrada do país, a A1, que fica apenas a 10 minutos, convida visitantes de toda a região para a noite de sexta-feira. A festa dura até o nascer do sol e durante a noite distribui-se sardinha assada, pão caseiro e um copo de vinho. Os campinos, que representam algumas das mais importantes coudelarias que abastecem o exército e os principais mercados do país, são as principais figuras da feira que dura um mês.As 20 colectividades de Azambuja, Casais de Baixo e Casais dos Britos ajudam a dar vida à vila durante o resto do ano. A columbofilia, ténis, andebol, natação, equitação, campismo e caravanismo, ginástica, artes marciais, tiro ao arco, musculação, atletismo, hipismo, pesca e folclore ocupam muitos dos habitantes da vila, que ainda concentra associações que se dedicam ao teatro, à música e às danças de salão.O lar da Santa Casa da Misericórdia, jardim de infância, centro social e paroquial são alguns dos mais importantes equipamentos sociais da freguesia. Os jovens não precisam de deixar a freguesia até concluir o 12º ano e mesmo depois de ingressar na faculdade muitos continuam a regressar a casa diariamente.O campo de futebol, a construir perto do complexo das piscinas, será um dos próximos equipamentos. Assim como o futuro mercado diário e o centro de saúde que já está em construção.O saneamento básico abrange quase a totalidade da freguesia, mas a grande obra do núcleo central de Azambuja - um projecto para remodelar a vila que deverá estar concluído até 2006 - prevê a substituição das infra-estruturas de abastecimento e distribuição de água e saneamento com mais de 30 anos. A criação de espaços verdes, qualificação dos arruamentos e criação de um terminal rodoviário também estão integradas no projecto.Na rua principal está a nascer o novo centro comercial de Azambuja, que irá oferecer à vila novos serviços de que ainda não dispõe, como é o caso de uma futura sala de cinema. Os antigos armazéns da Epac de Azambuja foram transformados no Espaço Público de Actividades Culturais, mas continua a faltar espaço para a sétima arte.A igreja matriz e o Palácio das Obras Novas são alguns dos mais importantes símbolos do património arquitectónico da terra - a quem os romanos chamaram Oliastrum e os árabes baptizaram de Azzabuja.O palácio foi erigido durante o reinado de D. José I com a finalidade de servir de posto de tráfego de pessoas e mercadorias através do canal artificial, acabando por funcionar também como estalagem de apoio aos passageiros da carreira de vapores entre Lisboa e Constância.Hoje restam apenas as paredes exteriores do palácio, mas o encanto natural e a tranquilidade da foz da vala de Azambuja ajudam a compreender as razões que levavam a família real a escolher o espaço como local de descanso.Ana Santiago
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