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A advogada que gosta de casos difíceis

A advogada que gosta de casos difíceis

Hélia Agostinho auto define-se como obstinada, teimosa e de ideias fixas

Obstinada, teimosa e de ideias fixas. É assim que se define Hélia Alexandra Agostinho. Diz que quando mete uma coisa na cabeça vai até ao fim para a concretizar. É por isso que tem a profissão que aos oito anos desejava. Hoje é uma advogada com méritos reconhecidos no Entroncamento.

Aos oito anos já sabia o que queria ser. Andava então na terceira classe e dizia a toda a gente que um dia ia ser advogada. Anos mais tarde, com a mesma convicção Hélia Alexandra Gomes Agostinho passou a dizer que tinha de tirar o curso na Universidade Católica. Não sendo ali, não era em mais lado nenhum. Hoje, aos 32 anos, tem escritório aberto no Entroncamento, cidade que a viu nascer.Em tom meio a sério meio a brincar diz que os pais, a mãe principalmente, “passaram um bocado” por causa da inflexibilidade da filha. Tanto que a mãe ficou tão angustiada quanto a filha na altura do exame de admissão na universidade. “Era uma angústia diferente, questionava-se então como eu iria reagir se não entrasse porque sabia que, da maneira como eu pensava, não iria tentar entrar em mais nenhuma faculdade”.A escolha da Católica deveu-se ao facto de Hélia sempre ter ouvido que daquela universidade saíam óptimos profissionais. E ela queria estar entre os melhores. “Costumo dizer que foi mais fácil entrar do que sair”, refere a advogada.Apesar disso diz que os dois primeiros anos foram os menos atraentes, em termos de formação. “Foram muito teóricos, com disciplinas de formação geral, como o estudo ou a história de direito”. Uma forma de, no seu entender, a própria universidade fazer a “triagem” dos alunos.Nunca pensou desistir porque tinha sido “avisada” por uma amiga, que já estava a terminar o curso. E, a partir do terceiro ano, as coisas realmente melhoraram. Talvez por isso tenha subido bastante a média.Terminou o curso mas não deixou de estudar. Optou logo de seguida por fazer uma pós-graduação em gestão e fiscalidade, uma área onde lhe dá muito gozo trabalhar. “É pena muitas empresas portuguesas fugirem às suas obrigações fiscais, sem saberem que a própria lei permite-lhes fazer um bom planeamento fiscal sem entrarem em malabarismos”.Depois de dois anos de estágio, em que viajava diariamente do Entroncamento para Lisboa, fez o exame escrito na Ordem e abriu o seu próprio escritório em 1998. No Entroncamento, porque queria fazer uma advocacia mais familiar, não em massa como se faz na capital.Gosta de fazer tudo em advocacia, que diz ser uma profissão muito estimulante, mas as causas que mais lhe custam são as que envolvem crianças. Porque nesses casos diz que o seu lado humano vence muitas vezes a sua postura profissional, mexe mais com as suas emoções. “Mas não deixo de tratar desses casos e tento sempre obter o melhor para o menor”.Uma advogada de barraO seu trabalho começa quando as pessoas lhe entram pelo seu escritório e lhe entregam um caso. Um caso que tem de estudar, analisar e ver que provas é que as pessoas têm ou podem angariar. “Muitas vezes têm razão, a lei está do seu lado mas as pessoas não têm elementos para provar a sua razão”, diz, adiantando que algumas pessoas não entendem isso.“As pessoas consideram-se injustiçadas porque sabem que a razão está do seu lado mas o nosso sistema judicial funciona com a prova. Se não se fizer prova em tribunal não ganha o caso”.Considera-se uma advogada de barra. Adora trabalhar em tribunal e diz que a prova testemunhal é fundamental para resolver um processo. “Basta que uma testemunha se «embrulhe» toda em tribunal e uma acção que parece ganha à partida vai por ali abaixo”.Ser advogada é também ser um pouco psicóloga. Porque faz também alguma pedagogia aos seus clientes. “Quando entram num escritório de advogados as pessoas vão geralmente fragilizadas, a sua capacidade de raciocínio nem sempre é a melhor por estarem alteradas e muitas vezes temos algumas dificuldade em fazê-las entender o caminho que devem seguir”. O que para Hélia Agostinho funciona também como um desafio.Orgulha-se de todos os seus casos mas gosta mais daqueles que lhe dão maior luta, que a obriguem a estudar mais, a pesquisar e a enveredar por caminhos que ainda não tenha desbravado. Porque acha que isso lhe vai ampliar mais o seu conhecimento, a sua maneira de resolver as coisas. Enfim, testar-se a si própria.São esses casos que muitas vezes a fazem estar no escritório até de madrugada, quando está tudo mais calmo e silencioso. São essencialmente esses que a levam a acordar durante a noite para pensar de que modo é que pode dar a volta à questão e ganhar o processo.“Não consigo desligar quando chego a casa”, confessa a advogada. Diz que quem trabalha sozinho e tem escritório aberto tem grande desgaste físico e emocional mas tem de estar preparado para isso. Porque nunca ninguém gosta de perder uma acção.“Quando se põe uma acção em tribunal as hipóteses de ganhar são sempre de 50 por cento”, refere, adiantando que muitas vezes prefere um mau acordo, em que o seu cliente receba uma indemnização menor que a desejada do que arrastar o processo e acabar por ganhá-lo quando quem tem de pagar já não tem dinheiro para o fazer e o seu cliente fica de mãos a abanar.Desde que abriu o escritório que só conseguiu tirar 15 dias de férias seguidos. Foi no ano passado, quando decidiu dar um presente a si própria e ir ao Brasil. De resto vai fazendo umas “escapadinhas” de dois ou três dias pelo país. Porque o seu segundo amor é viajar.Margarida Cabeleira
A advogada que gosta de casos difíceis

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