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Couço é um símbolo da resistência

Couço é um símbolo da resistência

O desemprego, as acessibilidades e o apoio aos idosos são as principais carências

Situada às portas do Alentejo, a vila do Couço constitui um símbolo da resistência ao regime de Salazar e é um dos bastiões comunistas que restam no Ribatejo. Terra de gente habituada a viver do trabalho rural, defronta-se hoje com os espectros do desemprego e da desertificação.

No largo 25 de Abril, no centro da Vila do Couço, concelho de Coruche, dois homens lembram os 48 anos de ditadura e os tempos em que não se podia dizer que se ganhava pouco ou que se tinha fome.“Quem dissesse isso, se chegasse aos ouvidos do regedor ou da Guarda Republicana, ia logo preso para interrogatório”, explicam os antigos trabalhadores rurais para surpresa de três jovens que se queixam da vida. “A gente aqui não tem emprego. Isto está muito mau”, disse João Mendes, um rapaz com 24 anos que passa os dias na rua à espera de um emprego que tarda em aparecer.O desemprego é uma das maiores preocupações da freguesia que continua a ser “um heróico bastião da resistência ao fascismo”. A criação de um pólo de desenvolvimento industrial com pequenas oficinas, armazéns e comércio, é uma necessidade imediata para travar a saída de mais famílias, mas não a única. O presidente da junta, Diamantino Ramalho, sublinha a necessidade da câmara investir na construção de habitação social para as famílias mais carenciadas e disponibilizar terrenos a preços sociais para a construção de habitação própria. Depois de dezenas de anos de impasse, a câmara já conseguiu chegar a acordo com os herdeiros da Casa Barreiras (o maior proprietário da freguesia) e adquiriu 13 hectares para a zona industrial, mas a proposta do anterior executivo apontava para 30 hectares. A renovação das acessibilidades municipais (Ponte de Santa Justa, estrada Santana do Mato-Couço, Santa Justa-Montargil) e a construção dos IC 10 e IC 13 são fundamentais. “Precisamos de boas vias para escoar os produtos”, refere o presidente da junta de freguesia, Diamantino Ramalho. O Couço é uma das cinco maiores freguesias de Portugal, com uma área de 346 km2. A vila está situada na margem esquerda do rio Sorraia na zona de transição para o Alentejo. Mora fica a oito quilómetros, enquanto a sede do concelho (Coruche) está a mais de 20 quilómetros. Populares e autarcas reconhecem que a distância de quem decide tem sido prejudicial.A freguesia orgulha-se dos nacos de terra de grande qualidade. Calcula-se que existam mais de quatro mil hectares (área equivalente a seis mil campos de futebol) de solos aráveis e de fácil manejo que não são aproveitados.A “dor de alma” é maior porque o sector primário foi durante muitos anos o abono de família da maioria dos quatro mil habitantes. Várias gerações trabalharam nos campos cultivados de arroz, tomate, milho, tabaco e culturas de sequeiro. Hoje são a extracção de cortiça e a apanha das pinhas de pinheiro manso, cujas produções envolvem uma área de 30 mil hectares, que alimentam algumas famílias, mas o desespero mora na freguesia porque “ninguém é feliz sem trabalho”.Os casais mais jovens que resistiram à desertificação saem de manhã e regressam à noite. Trabalham em Évora, em Lisboa, Santarém e até no Casal do Marco numa fábrica de componentes para automóvel que coloca um autocarro para transportar os colaboradores do Couço.A população é envelhecida e, por isso, o centro de saúde, em fase de construção, será bem vindo no próximo ano. Tal como um centro de dia e lar de idosos também são urgentes. A Associação de Reformados é acolhedora, mas já não é suficiente. Os mais jovens reclamam ocupações e a descentralização de iniciativas por parte da autarquia. Espaços de lazer como a tão prometida praia fluvial ou um pavilhão para a prática desportiva aberto a toda a população, porque o pavilhão da Escola Básica Integrada não tem dimensões para a competição e limita-se a servir a comunidade escolar.Uma das maiores riquezas do Couço é o seu povo. “Gente trabalhadora, honesta e muito bairrista”, explica o presidente da junta. Nove associações dão vida à freguesia com actividades desportivas, culturais e de lazer.Nelson Silva Lopes
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