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O dia em que o campino é rei

O dia em que o campino é rei

Cartaxo homenageia os homens que são um símbolo vivo do Ribatejo
Uma vez por ano os campinos vestem a melhor farda e rumam ao Cartaxo onde esquecem a dureza do trabalho do campo numa grande jornada festiva. No sábado decorreu mais um Dia do Campino.Há sete anos que José Augusto Santos participa no dia do campino, que se comemorou sábado no Cartaxo. Vestiu o traje de festa, a jaqueta vermelha, calças azuis e meia branca, para desfilar pelas ruas apinhadas de gente. Em cima do seu cavalo o campino de Alcanhões, concelho de Santarém, sentia-se um rei. Era um dia em que se esquecia a dureza do trabalho no campo.José Augusto Santos, que trabalha na quinta de Mata o Demo, no Graínho, Santarém, não falta a este dia porque é um dos poucos momentos em que pode conviver com os colegas, que raramente vê devido aos afazeres. Levanta-se todos os dias antes do sol nascer e só regressa a casa pela hora do jantar. Por isso o Dia do Campino no Cartaxo serve para enaltecer esta figura da lezíria ribatejana e renovar a tradição. Começou na vida de campino aos 14 anos. Tem agora 51 anos cheios de mazelas. Já caiu tantas vezes do cavalo que até perdeu a conta. As várias costelas partidas e a porrada que já levou dos toiros não o fazem desistir. É o amor a uma profissão que, reconhece, está em vias de extinção. “Muitos só são campinos nestas festas. Vestem a farda e desfilam a cavalo. Só os velhinhos é que ainda andam na dureza do campo”, sublinhou. Por ser uma actividade mal paga para os riscos e para o trabalho que se faz, pouca gente nova está disposta a abraçar essa vida. Não há dinheiro que pague os acidentes, o calor abrasador, a chuva... Só uma grande dedicação faz manter estes homens de pele tisnada nas suas montadas pelo meio do gado. José Augusto Santos ganha 600 euros de ordenado. É pouco para o número de horas e para o esforço que a profissão exige. Mas mesmo assim não se considera mal pago, já que, garante, há muitos colegas que ganham muito menos. “Só andam nesta actividade porque gostam muito da vida do campo e dos animais”, ressalvou. Durante o desfile, organizado desde 1990, uma carrinha com altifalantes que seguia à frente do cortejo, lembrava que o Cartaxo já teve grandes e importantes ganadarias. “Vejam este magnífico cortejo que vem enriquecer a nossa terra”, exultava-se.À chegada ao largo da câmara municipal, ao final da manhã, as dezenas de campinos foram benzidos pelo padre da paróquia local, Vítor João. Depois foi homenageado o campino António Colorau. O presidente da autarquia, Paulo Caldas, enalteceu a grandeza destes homens. Para o autarca, os campinos fazem a ponte entre o mundo rural e o espaço urbano. “Sem vocês não se consegue fazer a ponte com as novas gerações”, sublinhou. Antes do almoço de convívio na escola secundária, os campinos “estacionaram” os cavalos nos estaleiros da câmara, perto do pavilhão de exposições onde estava a decorrer a festa do vinho. Quando conduziam os cabrestos para uma camioneta, um deles fugiu, mas a perícia dos campinos evitou que o animal fosse para as ruas da cidade. Na mesma altura um outro incidente poderia ter tido consequências graves. Um cavalo espantou-se tendo atingido um dos campinos atirando-o ao chão. Apesar do aparato e da manjedoura de madeira partida, ninguém ficou ferido.
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