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O Cecílio dos chocalhos

Manuel Cecílio herdou do avô um negócio hoje em desuso
Manuel Antunes Cecílio nasceu e foi criado entre chocalhos. Não admira que tenha seguido as pegadas do pai e do avô e enveredado por uma profissão que hoje está em desuso. Saiu da escola directamente para a oficina, que o pai tinha herdado do avô. Na década de 60 meteu-se na avicultura mas os pintos e as galinhas funcionam mais como um complemento.Antigamente andava pelas feiras da região e do Alentejo, a vender a sua arte. Hoje faz chocalhos para revenda, de Norte a Sul do país. Muitos rebanhos e manadas da zona das beiras e do Alentejo trazem ao pescoço chocalhos feitos na Asseiceira, aldeia do concelho de Tomar que viu nascer Manuel Cecílio há já 68 anos.O método de fabrico dos chocalhos mantém-se idêntico há mais de cem anos. Apenas evoluiu no forno, hoje a gás. “Antigamente era a carvão, dei muito ao fole”, diz o homem dos chocalhos.O chocalho é feito de chapa, que tem de ser cortada e talhada. Só depois é moldada e martelada à mão. “Aqui não entram máquinas, é tudo feito à custa de muito esforço de mãos e alguma imaginação”, refere Manuel Cecílio, adiantando que tem de se saber contrariar o poder da chapa com alguma experiência.Depois do “ombro” ficar feito, o chocalho é furado na zona do “céu”, onde é pendurado o badalo. O chocalho leva ainda uma asa, onde é colocada a coleira. Para lhe dar a cor dourada, são cortados em pequenos pedaços de latão, colocados entre o chocalho e o barro que o vai envolver.Na fabricação dos chocalhos o barro tem uma função fundamental. Tem de servir de isolante e por isso tem de ter qualidade acima da média. “Não é qualquer barro que serve”. Quando se amassa o barro que irá servir de protecção do chocalho ao calor da forja, mistura-se uma palha de trigo, que serve de cofragem, para poder resistir à temperetura sem abrir brechas.O tempo de cozedura demora em média 40 minutos, dependendo do tamanho dos chocalhos. Depois de arrefecido parte-se o barro e lá aparece luzidio o chocalho. Mas o processo não acaba aqui. O chocalho vai ter ainda de ser afinado porque cada um tem o seu som – “isto é como uma guitarra, vai um bocadinho de ouvido”.A fabricação de chocalhos é uma profissão em vias de extinção. Poucos são os que continuam a fazer esta arte. Manuel Cecílio, que os conhece todos, diz que os que ficam geograficamente mais perto da sua oficina estão em Estremoz e Alcáçovas, para lá de Évora.Por serem muito poucos é que o negócio ainda vai dando para ter alguns empregados. Como António Pereira. Fez-se aprendiz ali com 11 anos e aos 74 ainda se mantém ao serviço. É um trabalhador tão exemplar que o patrão está a pensar fazer-lhe uma homenagem – “e tem de ser em breve, que um homem não dura sempre”.

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