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A piação de Ninhou

O minderico, calão de Minde, está caído em desuso
“É preciso que todos os nossos cardetas façam por não deixar cair no antigo a nossa piação. Deixá-la entregue ao irmão do quiqui é condená-la à encolha dos mirantes”. Não, a frase não tem qualquer erro ortográfico. Está apenas escrita em minderico, o calão usado durante décadas pelas gentes de Minde. Traduzida à letra, a frase funciona como um apelo a todos os habitantes da freguesia – “É preciso que todos os nossos conterrâneos façam o possível por não deixar morrer de todo o nosso calão. Deixá-lo no esquecimento é condená-lo à morte”.Foi Miguel Coelho dos Reis, notário de Santarém e Pernes, filho de um aluno dos frades de Santo António, que acabou por compilar um livro com o calão minderico, que ofereceu à junta de freguesia, em 1970, na altura em que a aldeia foi visitada pelo então presidente da República, Américo Tomás.Desse livro, volumoso, fez-se uma espécie de compêndio que foi revisto em 1992 pelo professor Abílio Madeira Martins, fundador do jornal de Minde, uma das poucas pessoas da aldeia a tentar que o minderico não caia no esquecimento. Porque a edição de há 12 anos ficou esgotada, o professor prontificou-se a reeditar o “a Piação dos charales de Ninhou”, que é o mesmo que dizer a “Linguagem dos habitantes de Minde”.O minderico nasceu da necessidade dos antigos cardadores que faziam feiras no Alentejo poderem negociar preços sem que os clientes se apercebessem. Funcionava como uma espécie de código.Apesar de há alguns anos algumas personalidades tentarem relançar o calão típico de Minde, tornando-o num dia-lecto oficial à semelhança do mirandês, poucas pessoas na terra falam hoje em dia em minderico. “Fala-se uma ou outra palavra, mas apenas coisas soltas”.Os jovens são dos que mais utilizam essas palavras soltas. Mas só quando e como lhes convém, tal qual os seus antepassados cardadores. Se alguma vez passar por um grupo de rapazolas e ouvir a expressão “a covana é cópia” não fique incomodada porque até lhe estão a fazer um elogio – “a rapariga é bonita”.

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