Na terra dos cardadores
Minde reclama projecto turístico como complemento à indústria
Minde é uma freguesia de empresários têxteis onde pouco falta em termos de comércio e serviços. Mas os esgotos só agora chegaram e uma boa parte da população ainda não tem água canalizada.
“Sorria, você está em Minde”. A grande placa amarela situada à entrada da extensa e movimentada avenida que “corta” a aldeia a meio leva qualquer condutor que chegue a Minde a esboçar um sorriso, mesmo involuntário.Aninhada no sopé da Serra D’Aire, Minde é uma das freguesias mais industrializadas do concelho de Alcanena, com os têxteis a serem reis e senhores há várias gerações. Uma concentração que também traz desvantagens em tempo de crise.Hoje, boa parte das fábricas está a passar por sérias dificuldades financeiras e aponta-se o dedo à falta de visão de alguns empresários, incapazes de diversificar o negócio para poder competir num mercado cada vez mais orientalizado. “Os chineses estão a deixar-nos de olhos em bico”, diz o presidente da junta.Apesar do tempo das vacas gordas já se ter acabado há muito, a verdade é que a freguesia cresceu e desenvolveu-se em redor das fábricas de malhas e confecções, os maiores empregadores da região. Mas a mão-de-obra foi desaparecendo à medida que as novas tecnologias iam surgindo. Em muitos casos basta agora carregar com um dedo num botão para fazer rodar a máquina do desenvolvimento.Terra de antigos cardadores, que vendiam as suas mantas de Norte a Sul do país, Minde foi elevada a freguesia há 40 anos (14 de agosto de 1963) e é actualmente a única a ter uma delegação da câmara, instalada no edifício do mercado.Grande parte dos seus 3500 habitantes não precisa de sair da freguesia para fazer compras, abastecer o carro de combustível ou ficar mais bonito. Quase apetece dizer que em Minde há de tudo, como na farmácia.Por falar em farmácia, a existente na aldeia não deverá ter mãos a medir para atender os utentes que são consultados pelos dois médicos e três enfermeiros que diariamente prestam serviço no centro de saúde.A exploração do mercado, que funciona às quartas com venda de peixe e aos sábados com a feira semanal, passou recentemente para a posse da junta de freguesia, que baixou as rendas das lojas para que fossem todas ocupadas.As mercearias e os mini-mercados passaram a ter maior concorrência recentemente, com a abertura de um espaço comercial de média dimensão. Cabeleireiros, barbeiros, posto dos correios, praça de táxis, bombas de combustível e duas agências bancárias com multibanco completam o leque de serviços disponível aos habitantes.Na freguesia há ainda um centro de dia e um lar da terceira idade, dois jardins-de-infância, uma escola primária e uma escola secundária.O desenvolvimento cultural, recreativo e desportivo da freguesia deve-se em muito à iniciativa da juventude, que tem aderido nos últimos anos a um vasto leque de actividades. São os jovens que fazem com que exista uma escola de música e a aprendizagem de ballet, banda filarmónica ou um grupo de teatro. E o Vitória Futebol Mindense, a militar actualmente na segunda divisão distrital de Santarém, tem também trazido grandes alegrias aos adeptos da bola.O desporto em Minde vai aliás ficar mais rico com a abertura, que se espera ainda este ano, do pavilhão polidesportivo. O equipamento, que entrou na galeria das obras de Santa Engrácia por estar há décadas inacabado, está prestes a poder receber eventos, depois da Câmara de Alcanena ter arrancado com as obras finais. “Foi uma promessa eleitoral, era uma obrigação da câmara”, diz Luís Pires.E depois há as festas que todos os anos animam a aldeia. Em Janeiro, as festividades estão a cargo dos jovens que completam 20 anos e são em honra de Santo António e São Sebastião. Em Maio, os grupos de rock são substituídos pela música popular, numa festa organizada pelos habitantes que perfazem 40 anos. Esta festa decorre a 28 e 29 deste mês e este ano o artista convidado é Tony Carreira. Em Agosto o fado é rei, com as festividades a cargo dos cinquentões.Mas nem tudo é alegria. E em Minde ainda há coisas que custam a perceber. Por exemplo, como é que numa freguesia tão desenvolvida economicamente uma boa parte da população ainda não tem água canalizada.O presidente da junta diz que tem garantia da câmara de que, depois dos esgotos, empreitada que neste momento está em execução, a prioridade é pôr água a correr nas torneiras dos contribuintes.As estradas são razoáveis mas o intenso trânsito diário, particularmente de veículos pesados, faz sonhar com a almejada variante Mira de Aire/Minde, um projecto de sete quilómetros que ainda não saiu do papel. A aposta no turismoO movimento diário de pessoas e automóveis na aldeia compete em pé de igualdade com qualquer vila ou cidade da região. Terra obrigatória de passagem na rota dos peregrinos para Fátima, falta a Minde algo que “agarre” os viajantes, pelo menos por algumas horas.É por isso que o presidente tem na manga um projecto na área turística, a desenvolver em parceria com Mira de Aire, freguesia vizinha do concelho de Porto Mós. Trata-se de aproveitar as potencialidades da chamada mata de Minde, uma lagoa situada entre as duas freguesias.O objectivo é fazer um espelho de água permanente na lagoa de origem tectónica, de modo a que esta não seque no Verão, e “plantar” ali várias animais, fazer uma espécie de parque selvagem. “Temos de aproveitar o facto de estarmos a uma hora de Lisboa e encostados a Fátima e às grutas”, diz o autarca.Margarida Cabeleira
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