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“Sou campino desde que nasci”

“Sou campino desde que nasci”

José Miranda é o campino mais antigo da Feira de Maio

Aos 81 anos, depois de muitas décadas a guardar gado bravo na lezíria, José Miranda ainda mantém a mesma postura a cavalo. Apoiado no pampilho, colete encarnado e barrete colocado a preceito, o campino mais antigo da Feira de Maio de Azambuja voltou a cumprir a tradição que o leva todos os anos à festa da vila.

No domingo de manhã vestiu-se a rigor para receber a homenagem que a Câmara Municipal de Azambuja presta todos os anos a um dos homens que envergam o colete encarnado. José Miranda nasceu em Benavente a 26 de Novembro de 1922. Começou a andar a cavalo mesmo antes de vir ao mundo. “Sou campino desde que nasci. Ainda estava na barriga da minha mãe e já andava a cavalo. Viajamos os dois com o meu pai”, recorda.Foi criado desde pequeno nos campos entre gado. Não pôde ir à escola, mas o desejo de saber fê-lo procurar forma de aprender as letras e os números. O seu mestre foi um jornaleiro. Treinava a caligrafia no papel onde o pai enrolava os cigarros e que José Miranda tirava secretamente. Formou-se na arte de entender as reacções do gado bravo, que dominava como ninguém. Aos sete anos começou a guardar gado. Foi trabalhar na Casa Agrícola Francisco Rodrigues Neto, em Benavente, até rumar para a capital onde cumpriu o serviço militar em artilharia. Regressou depois à sua terra e à sua arte. Foi trabalhar para a Sociedade Neto e Dias, como pastor de éguas. Lá permaneceu durante sete anos. Passou por quase todas as praças de Portugal a recolher gado bravo. Faltou-lhe apenas visitar a vizinha Espanha em trabalho.Hoje, apesar dos 81 anos, a agilidade ainda lhe permite ajudar nas lides do gado, embora sem a intensidade de outros tempos. Nos dias de festa continua a envergar o traje de campino a rigor e desfila nas festas da região. Continua a ser campino de corpo e alma, mas sabe que a arte da campinagem hoje já não é o que era. “O que se faz agora com tractores, fazia-se antigamente com cavalos. Já não há quem seja maioral de éguas”, confidencia.Muitos dos campinos dividem-se hoje em múltiplas tarefas nas casas agrícolas. José Miranda tem esperança de que a arte permaneça graças às festas que trazem todos os anos às ruas toiros e campinos e que ajudam a matar a saudade.
“Sou campino desde que nasci”

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