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Recuperar a importância do passado

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Freguesia da Barquinha vive à sombra do desenvolvimento do Entroncamento

Foi em tempos um porto importante no rio Tejo, onde no cais do vapor se desembarcava pasta de papel para alimentar as fábricas de Tomar e se embarcava papel já fabricado. Hoje Vila Nova da Barquinha vive à sombra da sua história e depende economicamente do Entroncamento.

Nasceu na margem norte do rio Tejo e desenvolveu-se à custa do porto fluvial, que funcionava como entreposto comercial através do qual se estabeleciam relações comerciais com a outra banda. Inicialmente denominada de Barca, viria mais tarde a fixar-se no diminutivo – Barquinha – devido à teimosia de uma senhora.A dama, que vinha negociar as terras do sul, recusou ser levada num barco grande, que costumava transportar os burros. “Eu quero ir é na barquinha”, terá dito, apontando para um pequeno barco ancorado no porto. E o nome ficou.Hoje o comércio em Vila Nova da Barquinha é uma sombra dos tempos em que o porto funcionava e que se vivia de e para o comércio, quando as pessoas vinham da Carregueira e do Pinheiro Grande com os burros em cima das barcas, carregados de produtos para vender no mercado. “Tínhamos aqui de tudo”, diz a presidente da junta de freguesia.Um mercado que foi diminuindo de importância à medida que outro aglomerado urbano vizinho se desenvolvia. Hoje os barquinhenses estão dependentes do Entroncamento, curiosamente a cidade que, em tempos, integrou o concelho de Vila Nova da Barquinha.“Demos muita coisa ao Entroncamento”, lamenta a presidente da freguesia da Barquinha, dando o exemplo do antigo mercado municipal da cidade, (transformado agora em centro cultural) ou o edifício onde funcionam as oficinas camarárias, que antigamente era o matadouro da Barquinha.Com a desanexação do Entroncamento, na década de 40, a Barquinha perdeu todos os equipamentos e infra-estruturas que ali tinha construído. À medida que os vizinhos se iam desenvolvendo exponencialmente devido à estação de caminhos de ferro, a Barquinha parou no tempo. E ficou a ver passar os comboios.Uma situação que trouxe também uma quebra populacional. Como eram poucos os empresários que apostavam na construção, os jovens acabavam por ir viver para o Entroncamento ou Torres Novas, onde casas não faltavam.Hoje até sobram casas vazias, velhas e muitas delas degradadas. Casas que a presidente gostaria de ver restauradas a curto prazo. Porque há que dar nova cara ao centro urbano da freguesia.A influência negativa do EntroncamentoO comércio também se ressentiu do crescimento do Entroncamento. Quem tinha casa aberta na Barquinha rumou à cidade vizinha e estabeleceu-se junto à via de transporte por excelência na altura – o caminho de ferro. “O Entroncamento teve uma influência negativa no concelho da Barquinha, que deu muito e não recebeu nada em troca”. Na voz da presidente da junta nota-se a frustração de quem tudo teve e tudo perdeu.A frustração de ver que, décadas passadas, os habitantes da sua freguesia preferem ir abastecer-se à cidade vizinha do que comprar no comércio local. “Julgam que as grandes superfícies vendem mais barato mas há aqui casas que conseguem praticar preços mais baixos”.Apesar de entender que a população se acomodou, Cleide Santos acredita que a reviravolta já está a acontecer. “Finalmente a construção arrancou, hoje temos já urbanizações planeadas e os jovens estão a regressar a pouco e pouco”.A freguesia conta com o sangue novo para poder novamente singrar-se como pólo de desenvolvimento económico já que, a nível cultural e desportivo, a gente nova vai dando conta do recado. A prova disso é o sucesso da Feira do Tejo, um certame realizado anualmente junto ao rio por altura das festas de Santo António que se confundem com as festas do concelho. À beira-rio mistura-se música, artesanato, gastronomia e cultura da região já este fim de semana.Apesar dos lamentos, a verdade é que a freguesia da Barquinha está bem servida em termos de equipamentos e infra-estruturas. Tem uma repartição de finanças, cartório, posto da GNR, quartel dos bombeiros, bancos, multibancos e mediadores de seguros.O abastecimento de água, a rede de saneamento e a recolha do lixo são sistemas completamente cobertos na freguesia que tem ainda uma rede escolar que abrange todos os graus de ensino até ao secundário.Centro de dia e lar da Misericórdia, centro de saúde, com três médicos diariamente e aberto também ao fim de semana, e farmácia completam o leque de equipamentos ao dispor da população.No associativismo destaca-se a banda da Associação dos Bombeiros Voluntários, um grupo de teatro, biblioteca e o centro cultural. O Sporting Clube Barquinhense, Corpo Nacional de Escutas, Pára-Clube “Os Boinas Verdes”, Clube Náutico Barquinhense e ainda um clube de aventura e desporto têm dinamizado os jovens e menos jovens da terra.E há ainda o pirilau, muito procurado pelos forasteiros. Trata-se de um bolo seco recheado com marmelada que ganhou fama depois do frade Ambrósio, homem especializado em doçaria, mimar as freiras do Convento de Odivelas com o bolo de formas roliças confeccionado por si.O frade deu-lhe o nome de barquinho, em homenagem às gentes do rio, mas as freiras, que adoravam o bolo, preferiam chamar-lhe pirilau, o pirilau do frade Ambrósio. Por isso, se for para os lados da Barquinha não se esqueça de provar um pirilau. Margarida Cabeleira
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