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Patriótico Serafim das Neves

Ando encantado com a nossa bandeiro-mania. Mas não acredito que se trate de uma onda de patriotismo. Para mim trata-se de uma questão de fé. Colocamos bandeiras nas janelas como quem coloca velinhas em Fátima. Ou como quem planta sete taças de champanhe à volta de um pano preto num qualquer cemitério de aldeia. Depois rezamos-lhe responsos ou Avé-Marias e ficamos à espera.No domingo passado, depois da vitória sobre os espanhóis, ouvi uma senhora dizer na televisão que passou o último quarto de hora da futebolada longe da televisão, nas escadas do prédio, a rezar. Não foi a cantar o hino nacional, não senhor. Nem a rogar pragas aos castelhanos. Um quarto de hora de mãos postas e olhos cravados na porta do elevador à espera de ver sair o milagre da vitória envolto numa auréola de luz.E isto numa época em que até já há padres que perceberam que não é com milagres que a coisa lá vai. Vê só o caso do pároco José Maria Cortes. Está a construir duas igrejas novas, em Alverca e no Sobralinho que vão custar para cima de quatro milhões e meio de euros e vai colocar numa delas um carrilhão de 72 sinos que também deve ficar numa fortuna. Se alguém pensa que ele se fia na Virgem e não corre, desengane-se.Segundo li n’O MIRANTE da semana passada, edição Vale do Tejo, o homem tem assessores, negoceia preços e empréstimos e usa capacete de protecção quando visita os estaleiros. Quais milagres, quais carapuças! Se um ucraniano deixar cair um tijolo, Deus desvia-lhe a trajectória só porque o matacão vai acertar na cachola de um sacerdote? O padre Cortes acha que não. Se um empreiteiro menos escrupuloso decide tornar a conta bancária mais obesa à custa dos óbolos cristãos, o S. Pedro amacia-lhe a consciência e modera-lhe a cobiça? O pároco de Alverca e arredores pode gostar muito do Santo mas sabe que os Santos não pescam nada de orçamentos... nem de empreiteiros.Não é por acaso que o padre é assediado pelas paroquianas mais frescas e atrevidas. Nas cerimónias públicas chovem piropos. Nas missas há mil diabos à solta a fazer cóceguinhas nas orelhas das meninas. Nas orelhas e noutras partes dos corpos. Se o amigo Cortes decidir começar a fazer exorcismos vai ser um ver se te avias! Quem anda a exorcisar fantasmas no PS de Santarém é o presidente da câmara do Cartaxo, Paulo Caldas. A entrevista que ele deu a O MIRANTE até fez fumo. E cheirava mais a enxofre que a incenso. Em Portugal damo-nos muito mal com a crítica. Preferimos a graxa. O elogio bacoco. Derretemo-nos todos quando dizem que somos lindos, inteligentes, fantásticos. Parecemos donzelas nas mãos de galãs sabidões. O poeta estava enganado quando escreveu que é pelo sonho que vamos. Não é nada pelo sonho. É pela lábia, Serafim. É pela lábia.O Paulo Caldas não é o primeiro a elogiar o ex-sectretário de Estado da Administração Local, Miguel Relvas. Antes dele já o presidente socialista da câmara de Almeirim fez o mesmo. Mas Sousa Gomes tem barba branca e quando falou faltava muito mais tempo para as eleições autárquicas. Agora o nervosismo é maior. O PS ganhou as eleições europeias e entusiasmou-se. Estes políticos são espectaculares. Adoro-os. E eu a pensar que dali já não vinha nada que me animasse!! Enganei-me!! Enganei-me redondamente!! Estou feliz da vida!! Vem aí chavasquice da grossa!! Dislate de alto coturno!! Deixa-me parafrasear o padre Cortes na missa de domingo de Páscoa: Aleluia! Aleluia! Um santo bacalhau doManuel Serra d’Aire

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