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Fazer pedagogia no dia a dia

José Parente da Silva é auxiliar de acção educativa na Escola Secundária do Cartaxo

Fazer vigilância nos pátios, controlar a central telefónica e dar o toque de entrada são algumas das tarefas que ocupam José Parente da Silva, 53 anos, auxiliar de acção educativa na Escola Secundária do Cartaxo. O serviço nocturno, que apoia os alunos que completam os estudos em horário pós-laboral, é o trabalho que mais lhe agrada.

O relógio da portaria principal da Escola Secundária do Cartaxo acaba de marcar as 21h30. José Parente da Silva, auxiliar de acção educativa, prepara-se para dar o toque de entrada dos alunos da noite.Pelo portão da escola entram trabalhadores estudantes de todas as idades que procuram no horário pós-laboral a oportunidade de completar os estudos que não tiveram em anos anteriores. É este o turno preferido de José Parente da Silva, 53 anos, residente em Vale da Pinta.“O serviço nocturno tem alunos com um grau diferente de responsabilidade. Não são tão jovens. Apesar de gostar dos alunos de dia, sinto-me melhor a lidar com os adultos”, explica.Às 16h36 José Parente da Silva pica o ponto na Escola Secundária. O dia de trabalho prolonga-se até às 23h36, hora a que os últimos alunos da noite deixam o estabelecimento de ensino. O ritual repete-se há já sete anos. O auxiliar de acção educativa ocupa-se dos toques do serviço nocturno, faz o serviço de entrada e controla a central telefónica da escola.Por vezes é requisitado para fazer vigilância durante os testes. O apoio a professores e alunos e a vigilância dos pátios também fazem parte das suas funções. José Parente da Silva já chegou a fazer limpeza na escola, mas actualmente é uma empresa privada que se ocupa da manutenção do espaço.Por vezes é necessário pedir a identificação a quem entra, mas a experiência de quase vinte anos de serviço já lhe permite reconhecer a maior parte das caras. José Parente da Silva teve apenas um problema, há alguns anos, com um pai de uma aluna, um advogado que se recusava a identificar-se para ir ao interior da escola buscar a filha. “Acabou por identificar-se ao fim de vários dias de insistência”, recorda.O que mais lhe agrada na profissão é o contacto com alunos e professores. José Parente da Silva orgulha-se de fazer pedagogia no dia a dia. “Gosto do trabalho porque acaba por ser um serviço muito pedagógico”, confidencia.O auxiliar de acção de educativa aprende com os alunos e professores, melhora diariamente a sua cultura, mas aproveita também para transmitir alguns ensinamentos. Apesar de tudo admite que os tempos são outros e que já houve mais respeito por parte dos alunos mais jovens aos funcionários. O diálogo é normalmente a arma que utiliza para conseguir que os alunos respeitem as regras da escola.Para o auxiliar de acção educativa é gratificante ver os jovens que se formam à noite aprender uma profissão e constituir vida lá fora. “Já tenho alunos na escola que são filhos de outros alunos que já cá passaram. Por vezes os pais vêm cá e admiram-se de ainda ver o Sr. Zé”, diz com orgulho.Considera que hoje em dia um auxiliar de acção educativa é suficientemente bem renumerado, se bem que o montante seja insuficiente para manter uma família.José Parente da Silva trabalha ao serviço da função pública desde 1976. Começou a trabalhar como contínuo, denominação que tinha a profissão na altura, na Escola Preparatória José Tagarro, no Cartaxo.A oportunidade de concorrer surgiu depois de regressar do Ultramar. Foi admitido com prioridade por ser abrangido pelo decreto que protegia as pessoas com deficiências das Forças Armadas.Em 1985 acabou por abandonar o trabalho para tentar a sorte lá fora, na Suiça, como pintor da construção civil. Não lhe foi concedida licença sem vencimento e José Parente da Silva acabou por perder o vínculo à função pública.O último dia que passou na escola coincidiu com o trágico acidente na sala de química que vitimou dois alunos. O acontecimento marcou-o e nunca mais lhe saiu da memória. Ainda hoje lhe custa abordar o assunto. Em 1991, quase dez anos depois, regressou a Portugal e voltou a concorrer para a mesma escola. Entretanto perdeu a efectividade na função pública e em Agosto saberá se o seu contrato será renovado.Caso tenha que voltar a procurar emprego José Parente da Silva está disposto a abraçar a carreira de pintor da construção civil, ofício que exerceu durante os anos em que viveu na Suíça. Um trabalho que conciliava com o de contínuo no Centro Internacional de Ténis e que lhe deu outra experiência para voltar a exercer a profissão em Portugal.Ana Santiago

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