"Faenas" da Primavera
Com o subir estival dos termómetros, a temperatura política do burlesco assume proporções que apenas a leviandade das antecipações balneares permite compreender. São as consequências de um sistema neurológico central desequilibrado pelo borbulhar térmico em presença. São as “faenas” regionais do nosso contentamento encontrando assim destinatários à altura do seu prestígio!- E o primeiro contemplado é novamente o sinuoso Miguel Relvas (ora convertido em dono do aparelho laranja, terminada que está a sua tarefa de “coveiro do Ribatejo”) defendendo agora o alargamento da Comunidade Urbana do Médio Tejo a diversos concelhos do Distrito de Castelo Branco. Percebe-se assim, com mais clareza, todo o processo de criação dos previsíveis e inevitáveis feudos pessoais, feitos à medida de carreirismos políticos mediatos ou imediatos.Permita-me apenas uma questão. Se o Tejo constitui no Ribatejo, como defendeu recentemente, uma “barreira” mais ou menos intransponível (que aliás não permitiu aqui, como seria natural, a criação de uma única “Comunidade Urbana”), porque diabo é que o dito se transformou de repente em factor de união com concelhos do interior?- Candidato especial a uma “faena” das antigas é também o ignoto Ministro da Agricultura, Sevinate Pinto, afirmando na F.N.A, a dado passo de um discurso naturalmente brilhante: “em cada esquina ouvimos dizer que não há agricultura (...) o que é uma coisa estúpida, injustificada e anormal!”Dando de barato a minha natural perplexidade sobre aquilo que o meu amigo andará a fazer pelas ditas esquinas, permita igualmente perguntar-lhe o seguinte: tem a certeza que é mesmo a pasta da agricultura que lhe está distribuída?! Não haverá aí qualquer engano?! De qualquer maneira, tenha paciência, mas “anormais” é que tais afirmações não são concerteza. São até bastante normais, diga-se de passagem. Aliás, se não o fossem, não era possível ouvir-se dizer isso em “cada esquina”! Certo?!- Aliás o dito Ministro (que pelos vistos é mais uma jóia deste governo) terminará a sua brilhante reflexão sobre o estado da Agricultura portuguesa com uma afirmação tão bizarra como peremptórica: “Há agricultores, estão vivos...!”Bom, talvez aquela minoria de jovens agricultores que plantam subsídios comunitários em vez de sementes e colhem jipes em vez de trigo ou girassóis.Mas que dizer daquela maio-ria que sobrevive com ridículas reformas, vegetando e esperando pacientemente o inevitável! Será que, em rigor, se pode dizer que estão vivos?Só se for, como diz o povo, porque nem sequer “têm onde cair mortos!”- Uma “faena” revolucionária para os touros da Festa da Ascensão na Chamusca, desencadeando uma curiosa acção reivindicativa, à boa maneira do pacifismo hindu que Gandhi imortalizou. Fartos de serem explorados como instrumento da vaidade humana, resolveram pura e simplesmente deitar-se no chão, impávidos e serenos, numa atitude clara de resistência passiva! É verdade que dificilmente virão a alcançar entre nós o estatuto duma doutrina onde os bovídeos são considerados sagrados. Contudo, quem sabe, também para eles o sonho comande a vida!- Curiosamente os seus congéneres da Feira de Maio na Azambuja assistiram estupefactos a uma notícia de O Mirante em que eram atribuídas ao aleatório e à impreparação dos aficcionados as numerosas “colhidas” aí verificadas.Isto é, se os touros (no uso de um direito inalienável, esclareça-se) resolvem tomar uma atitude passiva denominam-nos pejorativamente de “mansos” e deles dizem cobras e lagartos. Se, pelo contrário, assumem a agressividade que deles se espera, ninguém lhes reconhece minimamente as capacidades e o respectivo mérito! São atitudes discriminatórias como estas (incompreensíveis numa sociedade que se quer justa e democrática) que as associações protectoras dos animais haviam de ver! Essa é que é essa!P.S. – Dada a inspiração dos protagonistas da nossa praça, o articulista não conseguiu resumir as tiradas merecedoras de observação crítica num só artigo. Para a semana, as faenas continuam.
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