Pára-quedismo político em Santarém e no Entroncamento?
Eleições Autárquicas de 2005
A um ano da entrega das listas “partidárias” e “independentes” (o prazo é igual), quase todos os cenários apontam para o recurso a “pára-quedistas” visando tomar as praças autárquicas do Entroncamento e de Santarém.
As “autárquicas” já mexem no distrito. Santarém e Entroncamento, por distintas razões, serão os palcos das lutas políticas mais sedutoras.Na capital ribatejana, o PSD vai querer travar, à viva força, um predomínio socialista com 27 anos de idade. O PS, sem descurar Santarém, não desaproveitará a oportunidade para “dar tudo” em prol da reconquista de uma cidade com a importância e o prestígio nacionais do Entroncamento.Curiosamente, estas duas autarquias são lideradas por presidentes que, estando no seu primeiro mandato, tudo farão (se forem escolhidos pelos seus partidos) para alcançar um segundo mandato. Ora, aqui começarão, alegadamente, as dificuldades dos seus opositores: regra geral, um presidente de câmara é praticamente imbatível do primeiro para o segundo mandato. Mesmo que tenha exercido o cargo de forma sofrível, o eleitorado tende a compensá-lo com uma segunda oportunidade. Por sua vez, os partidos políticos, ainda que reconheçam, internamente, as fragilidades de uma recandidatura controversa ou pouco inovadora, preferem arriscá-la a assumir “erros de casting” do passado. No entanto, para o bem e para o mal, não há regra sem excepção. Tanto o PSD (em Santarém), como o PS (no Entroncamento) irão, seguramente, apresentar os seus trunfos eleitorais.Para começar, quer o PSD-Santarém, quer o PS-Entroncamento estão – tudo indica – “unidos e pacificados”. Em ambos os casos, nenhum ruído político poderá transformar em fracasso interno estas importantes vitórias de cada partido sobre si mesmo. Acresce que, muito provavelmente, tanto o PSD, como o PS irão receber reforços políticos para as suas batalhas autárquicas de 2005.Quanto ao PSD, fala-se na “vinda de uma figura nacional” para disputar a presidência da Câmara de Santarém, à semelhança do que aconteceu com Vasco Graça Moura nas últimas eleições para a Assembleia Municipal. Em relação ao PS, também começa a ganhar terreno a opção por uma personalidade com notório “peso” regional para a presidência da capital ferroviária portuguesa. Não estão em causa as escolhas da Concelhia Socialista do Entroncamento. Aliás, a elevada craveira intelectual e política do seu presidente dá ao PS todas as garantias de encontrar, localmente, uma opção ganhadora. Acontece que o Entroncamento irá comemorar, em 2005, 60 anos da fundação do concelho, por desmembramento do município de Vila Nova da Barquinha. Tudo aponta para que o PS se una e mobilize, ainda mais, nessa altura, em torno de uma figura que, possuindo ampla representatividade no distrito e profundo conhecimento das origens e aspirações do Entroncamento, possa acrescentar margem de sucesso à candidatura do Partido Socialista.Quanto a Santarém, as escolhas são mais complexas no que toca ao PSD. Uma opção local passaria – em princípio – pelos novos dirigentes concelhios deste partido. Porém, é quase um ponto assente a preferência por uma figura nacional.A um ano da entrega das listas “partidárias” e “independentes” (o prazo é igual), quase todos os cenários apontam para o recurso a “pára-quedistas” visando tomar as praças autárquicas do Entroncamento e de Santarém.Se a realidade vier a confirmar estas hipóteses, as forças políticas que optarem por dar o “salto” irão valorizar as suas apostas como sinal de prestígio para cada autarquia. Afinal, um pára-quedista, em termos militares, faz parte de unidades especiais e distingue-se pela sua qualificação e pelo seu rigor ao aterrar em pontos estrategicamente relevantes, concretizando as acções delineadas pelas chefias. Entretanto, no plano político, já se encontra esbatido o conceito pejorativo de “pára-quedista”, principalmente depois dos desempenhos de Santana Lopes, na Figueira da Foz; de Joaquim Mourão, em Castelo Branco; ou de Carlos de Sousa, em Setúbal.Como é óbvio, os partidos adversários acabarão por glosar as escolhas externas, aludindo à ausência de figuras locais para o combate eleitoral. Dirão que se trata da prova da importância do seu trabalho autárquico e do valor das suas lideranças. O problema é que a luta contra um presidente de câmara, em funções, representa um combate desigual, pelos meios que este possui ao seu dispor e pela “campanha institucional” que nunca cessa de realizar. Nos dois casos em apreço, com o PS e o PSD a optarem (se optarem), em locais diferentes, por figuras regionais ou nacionais, nenhum deles poderá reclamar relativamente a tácticas coincidentes de “pára-quedismo político”. Acresce que o PS poderá surpreender, inclusivamente em Santarém, quanto à aposta que lhe confira maiores possibilidades de vitória. Bastará ler os últimos episódios para entender que este cenário não está afastado, nem se afigura absurdo. Para “vencer” portas de ferro não há como martelos de prata!Post ScriptumReferência ideológica Um autarca da praça escalabitana lembrou-se, à falta de melhor uso do tempo, da seguinte anedota: publicou um texto no qual me trata por “camarada” e, mesmo sabendo que liderei as equipas mais vitoriosas do PS, deu-me o título de “referência ideológica do PSD de Santarém”. O anedótico texto respira nervosismo quanto às incertezas do futuro político na capital ribatejana. Uma coisa é clara — o seu autor revela receio do seguinte princípio autárquico: ninguém entra para jamais sair e ninguém sai para jamais voltar. Mas, com a mesma franqueza, pergunto: alguém aceitaria regressar ao comando de um município em piores condições do que o deixou? Quanto à “referência ideológica”, haverá sempre pessoas que julgam ser possível cravar pregos nas “tábuas da ignorância” com a “esponja da palermice”. Ridendo castigat mores (ou seja: rindo castiga os costumes)!Póvoa da Isenta (Moinho de Vento), 21 de Junho de 2004
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