
Melão de Almeirim em vias de extinção
Fruto que deu fama ao concelho já quase não se produz
Quem actualmente passa por Almeirim e compra um melão branco a pensar que está a adquirir o famoso fruto que deu fama à cidade está enganado. O tradicional melão de Almeirim está em vias de extinção, vencido pelo aumento de produção de melão branco.
O melão que deu fama a Almeirim está em vias de desaparecer. Já praticamente ninguém produz o fruto que se tornou célebre há cerca de 40 anos. As sementes do melão verde riscado também já são raras e se desaparecerem por completo perde-se um material genético de grande valor. Hoje as pessoas compram nas bancas, à beira da estrada e nos mercados o melão branco do Ribatejo. E muitos não sabem que afinal esse não é o fruto característico de Almeirim. Há cerca de quatro anos, recorda o presidente da Federação dos Agricultores do Distrito de Santarém (FADS), Amândio Freitas, houve uma tentativa de proteger o melão verde riscado, também conhecido por “Manuel António”. A ideia era incentivar a produção e criar a marca Almeirim. Mas a falta de união entre produtores ditou a morte do projecto. Este fruto começou, curiosamente, a ser produzido por seareiros de Alpiarça, mas foi o concelho vizinho que acabou por colher os louros de um melão muito doce e de extrema qualidade. Actualmente a produção do melão Manuel António é residual. Só alguns agricultores mais antigos semeiam uma pequena quantidade para manter a tradição, que geralmente nem chega aos circuitos comerciais. Era no melão “Manuel António”, nome do produtor de Alpiarça que introduziu a variedade na região, que residia “a essência do melão de Almeirim”, sublinha Amândio Freitas. “É uma pena não se preservar pelo menos a semente que já quase ninguém tem. É uma perda do ponto de vista da qualidade e da tradição”, explica o presidente da FADS. Uma dos motivos que tem contribuído para a extinção desta variedade é o facto das sementes nunca terem sido comercializadas. Elas passavam de mão em mão entre produtores, depois de Manuel António as ter descoberto quando vinham misturadas num lote comprado em Espanha. A semente passou a ser aproveitada de uma parte da produção de um ano para dar para a época seguinte. Torcato Ferreira Correia, agricultor de Almeirim com 77 anos, diz que foi o lucro que levou ao predomínio do melão branco. “O verde riscado tinha produções baixas e estragava-se muito porque quando estava a amadurecer não podia apanhar sol. Tínhamos que andar a tapá-lo com palha de arroz, mas mesmo assim estragava-se grande parte da produção”, conta. Como o melão que actualmente se encontra à beira da estrada é mais rentável, os produtores foram desistindo de fazer o tradicional melão de Almeirim. Torcato Correia, que costuma estar à beira da Estrada Nacional 114 à entrada da cidade, garante que deixou de semear o antigo melão há cerca de 20 anos. Hoje tem pena de não ter guardado umas sementes porque era um fruto de uma “qualidade excepcional”. Para além de ser muito doce e sumarento, depois de colhido aguentava-se muito mais tempo que o branco. “Chegávamos a guardá-lo mais de um mês, enquanto este que se produz agora ao fim de uma semana está mole”, explica. No mercado de fruta de Alpiarça, onde dezenas de agricultores tentam escoar a sua produção, os reboques de tractores e camionetas estão carregados de melão branco. Custódio Raposo, produtor de melão há 52 anos, assegura que nos últimos anos não tem aparecido a variedade Manuel António no espaço de venda situado no Carril, ao lado da Vala Real. Ao contrário de Torcato Correia, este produtor de Alpiarça encara o desaparecimento do tradicional melão com naturalidade. “É o progresso! Hoje tudo quer melão barato e o Manuel António tinha que ser vendido mais caro devido à fraca produção”, vaticina. No mercado o melão branco está a ser vendido aos intermediários a um preço que varia entre os 20 e os 30 cêntimos por quilo. À beira da estrada, directamente aos consumidores, o preço sobe para 80 cêntimos. Amândio Freitas garante que ainda é possível, com algum esforço, tentar preservar o material genético do melão verde riscado. “É uma ideia que temos que aproveitar para tentar evitar a extinção completa do melão que levou o nome de Almeirim a todo o país, associado à qualidade”.

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