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Os obreiros de Lisboa

Grande parte da construção da capital foi feita pelas mãos dos construtores da Serra
José Lopes, natural da freguesia da Serra, foi trabalhar para Lisboa na década de 40, como pedreiro. Hoje, com 80 anos, visita a sua terra natal conduzido por um motorista. Passou de trabalhador a patrão na capital, onde construiu prédios que hoje, passadas décadas, persistem de pé.Como José Lopes muitos homens da Serra rumaram até Lisboa a partir da década de 20 à procura de melhor vida. Sabiam fazer casas e foi a isso que se agarraram quando chegaram à capital. Sujeitaram-se a penosos sacrifícios e a trabalhos exaustivos para poderem vingar num mundo dominado então pelos velhos mestres de obras que deixaram o seu nome vincado em alguns bairros de Lisboa. Os mesmos que, pela tenacidade demonstrada, passaram a chamar “patos bravos” à concorrência tomarense.Que seria da construção urbana de Lisboa se não fosse a dinamização dada pelo “patos bravos”? Ainda hoje, as maiores e mais conhecidas avenidas da capital, ostentam as “relíquias” construídas pelas mãos dos pedreiros, mais tarde construtores civis, da freguesia da Serra e também de outras vizinhas.Avenidas Almirante Reis, Guerra Junqueira, António Augusto de Aguiar. Alameda D. Afonso Henriques, Marquês de Pombal. Em qualquer um destes locais ainda se erguem edifícios que não deixam esquecer a importância da investida tomarense.Uma investida que teve início num sonho acalentado por três operários carpinteiros da freguesia da Serra. João Vicente Martinho, Manuel de Matos e Manuel Vicente, filhos da mesma terra, já sonhavam ser alguém e partiram em busca desse sonho. Em 1906 chegaram à capital para trabalharem no seu ofício.Como bons amigos, reuniam-se à noite para trocarem impressões e matarem saudades da terra. E foi num desses serões que começaram a construir o seu futuro, tendo decidido formar uma sociedade.Com as economias conseguidas à força de muita privação compraram um lote de terreno da rua António Pereira Carrilho ao preço de dois mil réis o metro quadrado e nele edificaram o seu primeiro prédio, que ficou com o n.º 32. Acabaram por o vender por seis contos de réis, um valor considerado muito elevado para a época. Foi com o lucro proveniente desse prédio que construíram outros sete, sendo os três amigos pioneiros da indústria da construção civil para venda.Hoje, muita da construção que se ergue na capital continua a ser feita pelos “patos bravos” da Serra de Tomar. Uma construção de qualidade atestada pelos prémios Valmor que muitos edifícios por si construídos ostentam nas fachadas.Ganharam peso nas obras públicas, no mercado imobiliário e no bolso. Mas continuam a ser os “patos bravos” de Tomar.

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