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A terra dos militares

A terra dos militares

População da freguesia de Santa Margarida da Coutada triplica durante a semana

Quando se fala em Santa Margarida da Coutada fala-se em tropa, por causa do campo militar ali existente. Mas o verde que impera na freguesia não vem só dos fardamentos militares. Grande parte dos 5877 hectares de área da freguesia, a maior do concelho de Constância, é composta por mancha florestal.

Não é difícil chegar a Santa Margarida da Coutada. Para quem vem do Norte ou do Sul pela A1 basta sair em Torres Novas, apanhar a A23 e sair em Constância. Passa-se ao lado desta vila e segue-se até encontrar a placa que indica a aldeia, uns quilómetros mais à frente. Depois de uma curva perigosa, há que esperar que o sinal fique verde para atravessar a estreita ponte rodo/ferroviária que liga as duas margens do rio Tejo e do concelho.A estrada de acesso à aldeia, sempre a subir, está actualmente a sofrer obras de beneficiação para alargamento da via. É o único senão numa freguesia onde é notória a “política do asfalto”. Santa Margarida, abreviatura por que é mais conhecida, é uma aldeia pacata e asseada. Não se vê lixo no chão e há diversas papeleiras espalhadas ao longo da avenida principal. A maioria das ruas é larga e nos passeios, coisa rara em aldeias, há sempre bancos que convidam ao descanso.A população mostra-se satisfeita com os equipamentos e as infra-estruturas que a terra possui. Mas há quem tenha ainda atravessado na garganta a piscina que a câmara prometeu e que, afinal, não foi feita. De resto, como dizia um dos seus cerca de 1800 habitantes, “numa terra tão pequena também não podemos pedir muita coisa”.Há escolas primárias em todas as localidades da freguesia menos no lugar de Pereira, que conta apenas 50 habitantes. A freguesia tem centro de saúde e posto de medicamentos a funcionar diariamente e duas vezes por semana fazem-se análises clínicas.O saneamento está completo desde há alguns anos. Mas as estações de tratamento que cada aldeia possui tornaram-se demasiado pequenas para dar vazão aos esgotos domésticos, que são agora encaminhados para a estação de tratamento da Celulose do Caima.A empresa, uma das maiores celuloses nacionais situada já na freguesia de Constância, dá aliás emprego a grande parte da população activa de Santa Margarida.A indústria é fraca na freguesia. Algumas carpintarias e construção civil e pouco mais. Quem quiser trabalho tem de o procurar nas imediações. Como no Tramagal, vila pertencente ao vizinho concelho de Abrantes, onde a indústria é tradicionalmente forte, ou na zona industrial de Montalvo (Constância).Na freguesia, o grande empregador é o campo militar, situado junto à aldeia de Malpique. Uma infra-estrutura que “sempre teve tudo”. Era lá e não na aldeia que existiu, em tempos uma estação de correios, entretanto desactivada. É no espaço militar que ainda hoje existe o único multibanco e a única bomba de combustível das redondezas.O campo militar é também responsável por parte do desenvolvimento económico da aldeia. Muitos passaram a fixar ali residência dentro ou fora dos loteamentos habitacionais erigidos na freguesia e há até ex-militares que investiram num negócio sempre rentável – a restauração.Na aldeia há alguns mini-mercados e todas as quartas-feiras um autocarro do Modelo de Abrantes faz uma ronda pela freguesia, levando os clientes até ao hipermercado para fazer as compras do mês. De forma gratuita.Mas nem tudo são rosas na freguesia. A começar pelos transportes públicos. A carreira passa todos os dias para Abrantes, cidade que se avista da aldeia, mas quem quer ir à sede de concelho ou vai de carro próprio ou tem de chamar um táxi. O rio Tejo cria uma barreira natural difícil de transpor, ainda mais quando a única ponte de acesso a Constância é estreita e de sentido alternado.Faltam ainda alguns equipamentos como uma creche ou um lar de idosos. Os velhos dispersam-se pela freguesia, sem terem um local onde confraternizarem. Sentado num banco à beira da estrada, Américo Soares, de 74 anos, diz que vai para ali para descansar das pernas e ver quem passa. E pela tardinha costuma ter a companhia do amigo Isidro Fernandes. Com 77 anos, Isidro ainda toma conta da manada de bois do patrão. “Venho todos os dias da Portela para aqui, de bicicleta ou de mota”, diz o companheiro de banco de Américo.Os habitantes das aldeias da freguesia são pessoas aguerridas, que prezam pelo bem estar da comunidade. O exemplo mais elucidativo é o facto de, em todos os lugares, haver sanitários e lavadouros públicos. Espaços limpos e cuidados por pessoas a quem a junta paga.O espírito corporativo dos habitantes também está patente nas diversas colectividades existentes na freguesia. Além de cada lugar ter a sua própria colectividade, há ainda dois clubes de futebol, “Os Verdes” de Santa Margarida e os Indomáveis de Malpique, o grupo de cultura e desporto “Os relâmpagos”, de Vale de Mestre, e o rancho folclórico Os Camponeses de Malpique, só para citar alguns.E até a pequena aldeia de Pereira tem uma associação juvenil, que funciona também como empresa de inserção social. A “Quatro cantos do Cisne” está implantada na antiga escola primária, que fechou por falta de alunos.Quem vive na freguesia diz que a grande mais-valia está no verde da floresta e no facto de terem tudo à mão. “Se não for na freguesia há-de ser perto”. A isto chama-se qualidade de vida.Margarida Cabeleira
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