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Uma terra dinâmica no meio de prisões

Uma terra dinâmica no meio de prisões

Alcoentre é conhecida no país por albergar reclusos

A vida de Alcoentre está intimamente ligada à instalação de dois estabelecimentos prisionais na freguesia. Ao contrário do que possa parecer Vale de Judeus e Estabelecimento Prisional de Alcoentre ajudaram a dinamizar e dão emprego a guardas prisionais, administrativos e técnicos. O sector da restauração também é forte, fazendo guarda a importantes vias de comunicação.

Alcoentre é a terceira maior freguesia do concelho de Azambuja, de acordo com os censos de 2001, sendo a segunda maior em área, com 47 quilómetros quadrados. Além de sede de freguesia, conta com mais quatros núcleos populacionais: Quebradas, Espinheira, Tagarro e Casais das Boiças. Ao todo são 3534 habitantes.Mas podiam ser mais se o Plano Director Municipal não limitasse a três por cento a área de construção dos terrenos fora dos limites urbano. “É uma regra inibidora da fixação das populações e dos jovens. Deve haver ordenamento mas também mais flexibilidade. Aguardamos pela revisão que está em estudo ainda durante este mandato”, aventa o presidente da junta de freguesia, Francisco Morgado (PS).Os principais empregadores da freguesia são os estabelecimentos prisionais, embora muitas pessoas trabalhem também nos concelhos limítrofes de Rio Maior, Caldas da Rainha e Cartaxo. A agricultura, especialmente no sector do vinho, também tem um grande peso na actividade económica. O Estabelecimento Prisional de Alcoentre (EPA) produz e engarrafa vinho numa actividade desenvolvida pelos reclusos.Nesse capítulo há que contar ainda com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcoentre e um amplo sector de restauração. Ou não fosse a freguesia atravessada por importantes vias de comunicação. Como a antiga EN1, agora denominada de Itinerário Complementar 2, e também pela EN 366, na direcção do Oeste. Também o nó de Aveiras de Cima de acesso à A1 fica a apenas nove quilómetros de distância. Seja pela zona do Oeste, do Cartaxo ou pela auto-estrada não há razões para que os visitantes se percam.De acordo com Francisco Morgado, devem ser mais de 20 restaurantes no total. Junto ao IC 2 estão dos dois lados da estrada. Um deles até conta com residencial. Aliás, o comércio é o sector mais dinâmico da freguesia. Há ainda lojas de moda, sapatarias, dois salões de cabeleireiros, esteticistas, consultórios médico variados, laboratório de análises clínicas, entre outros serviços. Só profissões tradicionais com o sapateiro e o barbeiro caminham para a extinção. A cobertura do saneamento básico de Alcoentre ainda está longe de satisfazer. Lugares como Casais das Boiças, Tagarro e a sede de freguesia ainda deitam os esgotos para as linhas de água. “Casais das Boiças está em fase de concurso público. Vai arrancar em Tagarro, enquanto em Quebradas a primeira fase encontra-se concluída mas ainda não ligada”, explica Francisco Morgado, acrescentando que a ETAR vai ser criada em terrenos do EPA, e servir Alcoentre, Azambuja e localidades do concelho do Cadaval. O autarca acredita que com adesão da autarquia à empresa inter-municipal Águas do Oeste a freguesia de Alcoentre pode ter uma cobertura total do saneamento básico até final do mandato. No capítulo da saúde dois médicos e uma enfermeira vão dando conta do recado na extensão do Centro de Saúde de Azambuja.O associativismo está bem vivo na freguesia. A dinâmica das pessoas comprova-se nas cinco festas que se organizam anualmente. A principal das quais se realiza em honra do Nosso Senhor Jesus dos Aflitos. No primeiro fim-de-semana de Setembro o pequeno largo da igreja Largo da igreja enche-se de fitas de várias cores e, em volta do cruzeiro, há tasquinhas, um restaurante, além do palco para a música. Como em qualquer festa, não falta a quermesse e a “barraquinha das tias”, onde mandam as senhoras, com cada qual a levar um cozinhado à sua maneira. As associações são mais que muitas. Culturais e recreativas há em Casais das Boiças, Espinheira e Tagarro, terra que já recebeu atletas como Fernando Mamede, Carlos Lopes e Rosa Mota nos “10 KM de Tagarro”. “Depois de ter ganho a medalha em Los Angeles, o Carlos Lopes esteve cá numa acção de promoção. E muito e bom vinho de Alcoentre bebeu ele”, conta Francisco Morgado.Alcoentre tem ainda uma casa do povo com rancho folclórico, associação dos bombeiros com banda de música, uma casa do pessoal do estabelecimento prisional e associação de caçadores. Quebradas conta também com um rancho infantil e um núcleo da Cruz Vermelha.Se as acessibilidades são boas, os transportes públicos podiam ser melhores. Para a sede de concelho há diariamente carreiras expresso de manhã e à tarde, os outros lugares da freguesia já não têm a mesma sorte. “Em Casais das Boiças, se não aparece o autocarro da escola, não há transportes”, refere.Proveniente do árabe “Al-Cantara”, de ponte pequena ou pontinha, Alcoentre tem algum património edificado. A imponente igreja matriz, o edifício da antiga sede da junta de freguesia, o Palácio Conselheiro de Arouca, uma fonte setecentista e uma ponte romana dão outra qualidade à freguesia.Para que a freguesia fique melhor do que já está, Francisco Morgado aguarda pela instalação de um posto da GNR em Alcoentre, situação que está inscrita em Diário da República, além de um centro de dia, que albergue o número crescente de idosos.O outro lado dos murosOs estabelecimentos prisionais de Alcoentre e de Vale de Judeus chegaram à freguesia em meados do século XX. O primeiro foi inaugurado em 1944, com o objectivo de constituir uma colónia agrícola destinada a reclusos em cumprimentos de penas maiores. Distribuído por uma área de 650 hectares, integra duas alas prisionais, além de três pavilhões para reclusos em regime aberto, possuindo ainda diversos serviços. Fica situado na rua Conselheiro Arouca, à entrada de Alcoentre pelo lado oeste. Tem uma lotação para 663 reclusos e emprega 238 pessoas, das quais 170 integram o corpo da guarda prisional. A localidade de Vale de Judeus fica a cerca de três quilómetros de Alcoentre e também tem uma conhecida prisão. Os reclusos são 504, para 165 guardas prisionais. Ficou concluído em 1974 e só sete anos depois entrou em pleno funcionamento. Antes, em 1978, houve a chamada “grande evasão”. Quatro pavilhões de três pisos albergam uma população prisional essencialmente constituída por reclusos condenados a penas de longa duração.
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