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Terra de couve famosa e de nome esquisito

Terra de couve famosa e de nome esquisito

Valhascos, a mais pequena e mais recente freguesia do Sardoal

O nome é estranho e a sua origem fica para os estudiosos, mas todos os horticultores do país o conhecem pela afamada couve de Valhascos. Esta aldeia e sede de freguesia do concelho do Sardoal foi terra de agricultores e de bom azeite, mas actualmente poucos terrenos são cultivados e a desertificação acentua-se.

Se Valhascos derivou do latim, do grego, de línguas germânicas ou se é uma corruptela dos “velhos” pescadores que subiam o Tejo é um assunto para os entendidos apurarem. Certo é que é a mais nova das freguesias do concelho do Sardoal e também a mais pequena em área. Valhascos tem uma única aldeia e uma população que não atinge as cinco centenas. Em 1949, quando foi elevada a freguesia, a povoação contava com mais de 1.300 habitantes e a autonomia administrativa era justificada “atendendo ao que representou a maioria dos chefes de família eleitores”, conforme consta do Despacho n.° 37.555, de 15 de Setembro daquele ano. O documento legal acrescenta que Valhascos além de possuir “paróquia religiosa, igreja, escola e cemitério próprios”, dispunha de “recursos indispensáveis para satisfazer os seus encargos”.Cinquenta e quatro anos depois Valhascos vê a sua população reduzida a um terço e nem a proximidade à sede do concelho ou a criação de uma zona industrial atenuaram a desertificação.Tem água, luz e esgotos e aos equipamentos de então soma-se o edifício da sede da junta de freguesia que inclui o posto médico, o centro de convívio para idosos e o posto de internet, recentemente instalado. O espaço de acesso às novas tecnologias entrará em funcionamento logo que se encontre quem possa disponibilizar algum tempo para regular a utilização dos computadores. “Deverá funcionar ao fim do dia ou à noite, quando há mais jovens”, esclarece o presidente da junta, Guilherme Galinha.A Associação Cultural e Desportiva de Valhascos é o local de concentração dos mais novos e o rancho folclórico “Os Camponeses” continua a existir com algumas dificuldades. “É um rancho pequenino e sempre que sai alguém é uma dificuldade para encontrar mais gente”, diz o autarca.A maior parte da população de Valhascos é idosa e durante o dia só os velhos se sentam no largo em frente à igreja, dedicada a Nossa Senhora da Graça padroeira da freguesia, e só eles se encontram nas ruas emaranhadas da aldeia. A recuperação de um imóvel no largo da povoação para centro de dia e salas para convívio de jovens e idosos é uma das ambições da actual junta, mas para tanto são necessários largos milhares de euros. “Só o conseguiremos com a ajuda da câmara, o nosso orçamento mensal não chega a 5 mil euros”, lamenta Guilherme Galinha.A população trabalha nas fábricas das redondezas, ou na construção civil, o principal sector económico da aldeia. A escola e o jardim de infância continuam a ter alunos, embora algumas das crianças frequentem as escolas dos locais onde os pais exercem a sua profissão. Nos segundo e terceiro ciclos e no secundário os alunos de Valhascos vão para o Sardoal.Para a vila e sede do concelho os valhasquenses dispõem de dois autocarros diários, um de manhã outro à tarde, mas há um táxi na aldeia que atenua a escassez de transportes. “Como Sardoal fica perto o aluguer não sai caro”, acrescente Guilherme Galinha.Dantes, a agricultura de subsistência era a principal ocupação da povoação desta freguesia. As hortas eram cuidadosamente amanhadas e as terras férteis criaram uma variedade de couve, conhecida pela couve de Valhascos, cuja semente é comercializada pelas casas da especialidade.Já muito pouca gente se dedica a plantar couve para semente, mas ainda há quem consiga arrecadar algumas centenas de euros com o negócio. As plantas são arrancadas quando atingem um desenvolvimento próximo do corte, tiraram-se todas as folhas, ficando apenas o repolho, voltam a plantar-se e ganham uma grande “frança” de sementes. “As couves para semente arrancam-se da horta e levam-se para o pé da porta”, diz-se na aldeia.O figo, as vinhas e o azeite eram as grandes riquezas da terra. O presidente da junta, com os seus 66 anos, lembra-se de haver seis lagares, mas actualmente só o lagar da Coopoval – Cooperativa dos Olivicultures de Valhascos continua a funcionar.Como em todas as terras, a lenda mistura-se com a História. Os mais velhos falam de uma gruta perto da estrada romana no caminho para Alferrarede como o “buraco do vento”, onde os mouros viviam. Falam da Rua da Santa como a origem da aldeia e recordam o tempo em que a população não saía de Valhascos para trabalhar, porque “ali havia tudo”, como diz Arminda Rosa (ver peça ao lado).Na actualidade, só durante a festa anual as ruas de Valhascos voltam a ter gente. Os naturais aproveitam para visitar os familiares e a terra onde nasceram, sobretudo no dia da padroeira, 8 de Setembro, tal como aconteceu este ano. “Nem parecia a mesma terra, era gente e mais gente vieram de todo o lado”, conclui o presidente da junta. Margarida Trincão
Terra de couve famosa e de nome esquisito

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