Trabalhar na sombra para que os espectáculos aconteçam
José António Gonçalves Abreu, produtor de eventos
“O produtor é aquele a que ninguém liga quando as coisas correm bem e que todos culpam se corre mal”, diz José António Gonçalves Abreu, produtor de eventos e proprietário da empresa “A Força das Ideias”, com sede na Golegã. Uma profissão de que gosta porque sempre esteve ligado à música, apesar de ter cursado Biologia.
Formou-se em Biologia e justifica a opção porque “toda a vida” o convenceram a ser médico. Mas a média de 17 do secundário foi insuficiente para entrar na faculdade dos doutores. “Biologia do ramo de investigação”, frisa José António Gonçalves Abreu, 41 anos, natural da Golegã e produtor de eventos.O passo seguinte era ser assistente na faculdade, mas quando foi fazer provas de agregação apresentaram-lhe trabalhos com mais de 10 anos. Desistiu da ideia e respondeu a um anúncio para a Apple Computer. Estava-se no início dos computadores Macintosh no mercado nacional A música continuava paralelamente a tudo isto. “Fui disc jockey, participei no melhor projecto português de música alternativa dos últimos 30 anos, a Fundação Atlântico, de que faziam parte entre outros Miguel Esteves Cardoso e Pedro Ayres de Magalhães”.As ciências foram ficando cada vez mais para trás – “o curso era muito bom no meu tempo, dava uma grande cultura geral” – e a música e os computadores ganharam todo o terreno. Coordenou um projecto desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico de auditoria tecnológica às empresas a que estavam ligados o Ministério da Economia e o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI).Entretanto um convite para a pré-produção executiva e artística de um dos palcos da Expo 98, “Promenade”, fizeram-no desistir das auditorias. “Foi a grande experiência, fizemos 436 espectáculos, houve dias em que houve quatro concertos e tanto podiam ser de uma orquestra sinfónica, como de um grupo rock. Correu muito bem, os alemães tinham a seu cargo 40 por cento dos espectáculos e só conseguiram fazer menos de metade”.Produzir um espectáculo é algo completamente desconhecido para o público em geral. Na produção executiva, ou seja na logística, os responsáveis têm de pensar nos mais pequenos pormenores para que tudo dê certo. Desde a consulta ao instituto de meteorologia, à existência de um ferro de engomar se o artista quiser passar o fato. Tudo tem de ser acautelado.José Abreu gosta principalmente desta parte executiva, de equacionar tudo, de contactar todas as pessoas para as mais diversas funções, de organizar as equipas. “As condições meteorológicas, por exemplo, são importantíssimas. Todos os instrumentos têm afinações diferentes conforme o grau de humidade e a produção tem de saber isso. Não se faz um ensaio geral às 3 da tarde, com tempo seco, desconhecendo que as previsões apontam para chuva à hora do concerto”, diz.Depois da Expo, José Abreu ainda voltou ao IAPMEI, para coordenar a entrada de fundos comunitários para o sector automóvel. E um novo convite para coordenar os cursos técnico profissionais de audio, música e novas tecnologias, na Escola Profissional de Música e Artes, levou-o pelo menos por enquanto para o mundo da música. “Foi interessantíssimo e é estranho como os organismos que tratam dos problemas sociais não se apercebem do potencial que existe na margem sul, onde, como é conhecido, há graves problemas sociais. Com o Conservatório Regional de Almada fizemos uma experiência musical com bebés, orientada por uma bailarina russa de Bolshoi, fabulosa”.Com todas estas andanças, José Abreu criou uma empresa de produção de eventos, principalmente ligados à música, e discográfica. “O trabalho em estúdio também é interessante, embora goste mais do ar livre”.O que se faz em estúdio é outro mundo. Por vezes os papéis de gestores de carreira, empresários e todos os outros profissionais que promovem os músicos confundem-se e o artista chega ao estúdio com uma vaga ideia do que quer fazer. Nesses casos, compete aos produtores arranjarem todo o trabalho discográfico, da produção artística à executiva, passando pelos arranjos e alinhamento musical.E mais uma vez é preciso estar atento aos mais pequenos pormenores. José Abreu exemplifica com a música pop: “Ninguém ouve um tema pop em que o refrão não apareça entre os 50” e 1’ e 10”. Se não for assim é escusado, as rádios não passam a música e o público não adere”.A empresa com sede na Golegã tem o seu próprio estúdio em Lisboa e produz, entre outros grupos, os Delfins. “Actualmente trabalhamos com uma dos melhores profissionais na área, João Gomes”, diz José Abreu.Uma profissão pouco usual, pelo menos nos meios pequenos, que José Abreu domina e gosta. Para ele um produtor de eventos “é aquele a que ninguém liga quando as coisas correm bem e que todos culpam se corre mal”. Margarida Trincão
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