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Indescritível Manuel Serra D’Aire

Indescritível Manuel Serra D’Aire

Já não me divertia assim desde o glorioso empate da selecção no Lieschenstein e do frango do Baía frente ao Benfica. Eu explico: um destes dias dei com uma praxe aos caloiros num jardim de Santarém. Os estudantes chamam-lhe ritual de integração ou eufemismo semelhante, mas eu não ligo a isso. Para mim aquilo é um autêntico circo romano, com os patuscos caloiros lançados às feras, de fuças no chão e lágrima no olho, prontos a ser devorados pelos leões. Com a diferença que ali não se trata de pobres cristãos a pagar pela sua crença, mas de rapazes e raparigas de boas famílias que até já têm idade para comprar armas de fogo e para votar no Santana Lopes, quando for caso disso. Rapazes e raparigas que puseram em causa a tradição académica e que mandaram às malvas anos e anos de história. Vê lá tu que havia lá caloiros que ousaram andar na rua com um garrafa de água na mão, desculpando-se com quebras de tensão e coisas do género… Claro que pagaram bem caro o atrevimento. Se fosse por quebra de tesão ainda se dava o desconto?! Agora de tensão, porra, isso não se admite. Se jovens com 20 anos já se queixam disso, que acontecerá quando chegarem à nossa idade. Devem estar entrevadinhos de todo, a beber canja por uma palhinha e a mijar para uma arrastadeira. É o que dá a alimentação à custa de papas, iogurtes e cereais. Um chá de marmeleiro ainda era pouco, já que a bosta de vaca parece em má hora ter sido erradicada das praxes para tristeza dos mais puristas.Além disso, a exposição pública de jovens na companhia de tão insípido e incolor líquido constitui uma afronta à escola e sobretudo aos veteranos, aplicados estudiosos das virtudes da cerveja, do vinho e de tudo o que tiver mais de cinco graus de álcool. Num país em que beber vinho já deu de comer a um milhão de portugueses, beber água devia constituir crime. Até porque as bebidas alcoólicas já a têm em quantidade mais que suficiente. Há que pôr um travão nisto, sob pena de vermos adulterado o legado dos nossos avós. Hoje vemos estudantes de garrafinha de água na mão, a percorrer as ruas da cidade mais parecendo peregrinos que vão para Fátima. Amanhã acabam com as noitadas nas discotecas, com as farras e com a semana académica. E, porra, sem isso o que resta da actividade curricular em cada ano lectivo? Como se vão entreter os estudantes? A arrumar carros? A vender rifas? É bom pois que tenhamos guardiões das tradições e é por isso que vejo com bons olhos a ascensão da vereadora escalabitana Idália Moniz dentro do PS. Ao contrário do seu camarada presidente da câmara, que só se enterra. Se a autarca for promovida a ministra ou secretária de Estado vais ver como é. Os putos ribatejanos hão-de aprender na escola primária a pegar touros, a manusear com destreza as capas e capotes, a espetar ferros e bandarilhas, em vez de andarem a decorar coisas absurdas e desinteressantes como o nome do primeiro rei de Portugal, a terra onde está a secretaria de Estado da Agricultura ou o século em que o Benfica foi campeão pela última vez. Já que o Governo em bom tempo recuperou a bela tradição de iniciar o ano lectivo em meados de Outubro, tal como era no nosso tempo, que haja agora quem siga esse venerável exemplo. É por isso que me despeço com um bacalhau à moda antiga do Serafim das Neves
Indescritível Manuel Serra D’Aire

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