Tratar as tintas por tu
Pedro Brígida, técnico especializado em tratamento de peles e esmaltagem de banheiras
A esmaltagem de banheiras é apenas uma parte da actividade de Pedro Brigída, técnico especializado em tratamento de peles que começou como aprendiz numa indústria de curtumes, passou por fábricas de produtos químicos e acabou por criar a sua própria empresa. O empresário, de 38 anos, não tem falsas modéstia: “Pode haver técnicos que saibam tanto como eu, agora mais, é difícil”
Fazer a esmaltagem de banheiras, sem ser necessário tirá-las das casas de banho onde estão instaladas, é um dos serviços que Pedro Brígida, técnico especializado em tratamento de peles e proprietário da firma “Mudacor”, aposta.Natural da Gouxaria, concelho de Alcanena, Pedro Brígida começou a trabalhar nos curtumes, numa fábrica de vestuário, com apenas 14 anos. Entrou como aprendiz e acabou como técnico especializado: “Fiz um óptimo percurso nos curtumes”, afirma este empresário de espírito empreendedor, que sempre esteve atento a todos os pormenores da sua profissão e, sem conhecimentos teóricos, verificava no dia a dia a reacção das peles aos vários reagentes. “Frequentei um curso de formação profissional com um engenheiro químico que sabia todas as reacções ao nível teórico, mas na prática pedia-me muitas vezes para explicar o que se passava. Creio que foi um curso em que todos apreendemos”, conta. Pedro Brígida não esconde um certo orgulho por ser dos poucos a quem as fábricas recorrem quando têm problemas que parecem irresolúveis, ao nível da recuperação de vestuário e sofás.“Pode parecer imodéstia, mas acredito que haja técnicos que saibam tanto como eu, agora mais, é difícil”, confessa. E justifica a afirmação com os clientes que a ele recorrem “Tenho clientes do CTIC (Centro Tecnológico das Indústrias do Couro), recebo casacos de todo o país e os casos mais complicados vêm sempre parar-me às mãos”.Pedro Brígida deixou a primeira fábrica de curtumes em que trabalhou, a “Manuel Branco de Oliveira”, com 24 anos porque as tarefas que tinha de executar tornaram-se demasiado repetitivas e o ordenado também não era compensador.“Deixei de fazer horas extraordinárias, comecei a trabalhar em casa, na limpeza de casacos e no primeiro mês, ganhei tanto em casa como na fábrica”, conta. Acabou mesmo por se despedir e foi para França, onde durante mês e meio aprendeu a esmaltar banheiras.“O meu pai tem uma firma de recuperação de banheiras, fui aprender com ele”, diz. O trabalho consiste na esmaltagem de banheiras, em ferro fundido ou plástico, que pode ser feito no local, evitando assim maiores obras em casa dos clientes.Para Pedro Brígida trata-se de um trabalho especializado que requer grande técnica para que a tinta não escorra e torne a superfície da banheira irregular. “E não é só técnica, é necessário que quem faz o trabalho não seja alérgico a nenhum dos produtos utilizados”, continua.A esmaltagem é feita à pistola e demora entre duas a quatro horas. Depois a tinta tem de secar, o que demora em média entre 24 a 30 horas. “Durante a evaporação do solvente liberta-se um certo cheiro, depois passa”. Mas não se pense que é um trabalho fácil. “Há que ter muita mão para a superfície ficar completamente lisa e o mais difícil é o lado que fica junto a nós, qualquer escorrência torna a superfície irregular”.A este serviço que, na zona, custa 200 euros, Pedro Brígida dá uma garantia de três anos, pelo esmalte: “Se o esmalte levantar por um toque, não há qualquer responsabilidade da nossa parte, mas três anos é mais do que suficiente. Aliás se o trabalho for mal feito começa a levantar daí a poucos meses”.Este tipo de serviços ainda não é muito conhecido no país e muito menos na zona, mas pouco a pouco vai-se impondo quer por particulares, quer nos hotéis. “Ao fim de alguns anos as banheiras perdem o brilho e é muito mais fácil e económico mandar esmaltá-las do que andar com pedreiros em casa”, continua.As banheiras de ferro fundido, com pés, que num sucateiro podem custar meia dúzia de tostões, são vendidas em novas por cerca de 1500 euros. Pedro Brigídia diz ser capaz de recuperar um desses utensílio por 300 euros. “Fiz há pouco tempo um trabalho desses, sei do que falo”.Porém, a esmaltagem é apenas uma parte da actividade deste empresário autodidacta, que também passou por fábricas de produtos químicos e trata as tintas “por tu”. Registou a sua própria marca de tintas e fixadores, necessários à limpeza e recuperação de vestuário em pele, e na sua casa em Gouxaria instalou toda uma pequena indústria de químicos e limpeza de peles. “Consegui alguma coisa à custa de muito trabalho e também tive sorte, mas tem de se estar sempre atento e andar um passo à frente”, afirma. E uma das máximas que sempre seguiu foi ter muitos clientes para não estar nas mãos de ninguém.Margarida Trincão
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