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A terra das laranjas

A terra das laranjas

Carregueira é freguesia há apenas 19 anos

As laranjas dão fama e ainda algum proveito à Carregueira, jovem freguesia do concelho de Chamusca nascida há 19 anos. Apesar de historicamente ligada à agricultura, ou não estivesse situada junto aos férteis campos ribatejanos, o peso da lavoura foi-se diluindo. Hoje muitos habitantes trabalham na indústria ou serviços nas cidades vizinhas.

Na entrada sul da Carregueira, bem junto à placa toponímica, Leonor Luísa Vieira é um cartão de visita desta autarquia do concelho da Chamusca, conhecida pelas suas laranjas e pelas casas brancas. Terra de pequenos agricultores a Carregueira foi elevada a freguesia apenas em 1985, por desanexação do Pinheiro Grande. Desde então conheceu um franco desenvolvimento.Sem indústria, nem serviços, os habitantes da Carregueira viviam dos seus pequenos bocados de terra, tinham a sua casa e comercializavam os produtos agrícolas nos mercados locais e de Lisboa. “Muitos dos laranjais eram vendidos na árvore a gente do Fundão, alguns deles até ficaram por cá”, recorda o presidente da junta, Francisco Costa (CDU).Leonor Vieira é um exemplo vivo desse tempo. Todos os dias, faça calor ou frio, a vendedeira instala a sua banca de frutas e legumes para ajudar o neto agricultor “que teve de fazer-se à vida porque as coisas não davam”. No Verão é o tomate, o melão, as cebolas e cenouras. No Inverno, as caixas de laranjas da sua lavra. As laranjas da Carregueira tinham fama e garantiam o sustento a muitas famílias, porque, ao contrário do Pinheiro Grande, onde dominavam as quintas dos grandes senhores da terra, ali imperava o minifúndio. No Arripiado, a outra povoação desta freguesia, a maioria da população trabalhava nas terras da casa Sommer. Em Outubro de 1985, a Carregueira foi elevada a freguesia por desanexação de 100 quilómetros quadrados do território do Pinheiro Grande. Com apenas duas aldeias, a freguesia tem, segundo o censos de 2001, perto de 2.300 habitantes a maioria dos quais residente na sede da freguesia. O Arripiado não chega aos 400 habitantesFrancisco Costa (CDU), o actual e até à data único presidente desta freguesia, era, na altura do processo de elevação, tesoureiro da Junta do Pinheiro Grande e recorda-se da frase que era comum dizer-se: “A Carregueira será freguesia quando as galinhas esgravatarem para a frente”.Mas a verdade é que se atingiu esse objctivo e de então para cá a freguesia desenvolveu-se. “Estávamos completamente esquecidos”, diz o autarca. Há 19 anos, as piteiras chegavam quase ao edifício da junta, já perto do extremo norte da aldeia, as ruas eram em terra batida à excepção da Estrada Nacional 118 que atravessa a povoação. Não havia abastecimento público de água e a luz não chegava a todas as casas. “Na maior parte dos caminhos nem uma carroça podia entrar, por isso é que havia muitos burros”, continua o autarca.As ruas estão cuidadas, não há ervas nas valetas e as casas brancas com flores às portas dão um ar fresco e limpo a esta terra que cresceu em torno da EN 118. Actualmente, a maior ambição de Francisco Costa é instalar o saneamento básico na Carregueira - o Arripiado já dispõe desta infraestrutura com tratamento de efluentes - e construir um lar de idosos com capacidade para 50 camas. Os projectos estão feitos, mas falta financiamento para executar as obras.Segundo Francisco Costa, uma das contrapartidas exigida pela instalação do aterro sanitário da Resitejo foi a comparticipação monetária para a construção do lar de idosos. O dinheiro foi entregue à câmara municipal, mas no dizer do presidente da junta é insuficiente - ‘só chega para um terço da obra que já está orçada em cerca de 1,5 milhão euros”.O centro de dia, pertencente a uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) independente de qualquer outra estrutura, é frequentado por 40 idosos e dá apoio domiciliário a outras quatro dezenas, tanto da freguesia da Carregueira como do Pinheiro Grande “Alguns dos idosos que estão em centro de dia têm grandes dificuldades de locomoção, deviam estar acamados. O lar é, de facto, muito necessário”, reitera Francisco Costa.Quanto ao saneamento básico, Francisco Costa espera que a adesão da Chamusca à empresa Águas do Ribatejo venha resolver o problema. Até lá as fossas vão continuar a ser despejadas por uma máquina. “Precisamos de uma máquina com um tanque de maior capacidade, mas a câmara não tem dinheiro para isso, são uns milhares de euros”.Na Carregueira a pequena agricultura foi sucumbindo com o desenrolar dos tempos. A maioria dos laranjais foram arrancados e a população trocou os campos pelos trabalhos em fábricas e serviços das cidades vizinhas. O nível de vida subiu e, actualmente, a freguesia é uma terra bem diferente daquela que existia quando pertencia à autarquia do Pinheiro Grande.Margarida Trincão
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