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Implacável Manuel Serra D’Aire

Não sei se já reparaste no corrupio de ministros e secretários de Estado que têm andado por cá. Em Tomar e Abrantes, então, quase que fazem bicha. Talvez à dúzia seja mais barato. Eu, pelo sim pelo não, tenho tido mais cuidado a ver onde deixo a carteira ou penduro o casaco. Os tempos estão maus e no combate ao défice parece que vale tudo. E como o seguro morreu de velho… A campanha eleitoral parece que já começou e as legislativas só são daqui a dois anos. Mas não são só eles que andam já a piscar o olho, os dois olhos diria, ao eleitorado. Também os presidentes de câmara resolveram agora dar voltas ao concelho para mostrarem a obra feita. Só o de Santarém é que deve ficar por casa. A obra é pouca e percorre-se numa manhã, dizem os opositores. E, se calhar, com razão...Afinal de contas, a maior parte das propostas do primeiro orçamento participativo, há 3 anos, ainda se encontram por cumprir. Mas falar do que se quer fazer não é pecado. Há que ver as coisas pela positiva. Ler o plano de intenções da Câmara de Santarém para cada ano que passa pode ser um óptimo divertimento. Assim do género das obras do Júlio Verne. Nos seus tempos, o romancista vaticinava que era possível a volta ao mundo em 80 dias e chamavam-lhe maluco e visionário. Mas hoje dá-se a volta ao globo em menos, muito menos, de 80 horas.Sendo assim, porque é que o presidente da Câmara de Santarém, e de muitas outras câmaras, diga-se, não pode inscrever nos planos de actividades as coisas mais inverosímeis? Andamos sempre a dizer que os políticos são uns cinzentões, mas quando pintalgam o plano de actividades com cores berrantes, tipo obras faraónicas que vão levar eternidades a fazer, desatamos a chamá-los charlatães. Caramba, Manel, sempre ouvi dizer que o sonho comanda a vida. Portanto, deixem-nos sonhar! Pode ser que, no dia em que Rui Barreiro acordar desse sonho profundo, o vergonhoso estado do antigo campo da feira já não continue na mesma. Caso contrário, o melhor mesmo é abandonar aquilo de vez e criar ali uma reserva da biosfera, como a do Paul do Boquilobo. Aliás, o espaço pede meças ao paul quando chove, tornando-se numa zona pantanosa e alagadiça que daria um excelente habitat para as espécies aquáticas e vários tipos de aves, raras e menos raras.Imarcescível Manel, não podia encerrar o sermão sem falar da feira medieval de Tomar, também conhecida como Feira de Santa Iria. Os vendedores de passas e outros frutos secos queixam-se das más condições. Que têm de dormir numa enxerga improvisada dentro das minúsculas barracas, para não deixarem os produtos ao abandono durante a noite. Que o telhado de zinco deixa passar água. Que não têm água nem casas de banho por perto. Enfim, dizem que aquilo está como há trinta anos.Claro que esta apreciação dos vendedores peca por defeito. Aquilo está como há 300 anos. Mas se a Feira é em honra de Santa Iria faz todo o sentido, em sua memória, que se mantenham e até aprofundem esses contornos medievais tão típicos que fazem o nosso país parecer-se, nalguns aspectos, com a airosa Albânia. E esse esforço tem se ser pago por alguém. Se há excêntricos que dão balúrdios por uma viagem no espaço, será que os vendedores não podem desembolsar uns míseros trocos para terem a oportunidade de recuar no tempo e reviver outras eras? Um bacalhau congelado do Serafim das Neves

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