O recheio da Spalil, a fábrica de transformação de tomate da Chamusca, foi vendido em leilão judicial no dia 27 de Outubro. A maior parte das máquinas, algumas de compra bem recente, foi adquirida por um grupo empresarial australiano que as vai montar numa unidade fabril no Senegal.A Spalil fechou portas, por falência, em Março de 2002, lançando no desemprego 47 trabalhadores, muitos deles já de idade avançada e com uma vida inteira ao serviço da fábrica, que chegou a ser uma unidade exemplar. “Como é possível acontecer uma coisa destas, tão rapidamente, é o que nós próprios nos interrogamos”, dizia no dia do leilão João Carapinha, um dos antigos trabalhadores que, em conjunto com muitos dos seus colegas, acompanhou o leilão das máquinas.O dia 27 de Outubro de 2004 ainda não põe ponto final no processo de falência da Spalil, porque as instalações ainda ficaram por arrematar. Colocadas à venda em conjunto com toda a maquinaria, pelo valor de quatro milhões, quatrocentos e trinta e sete mil e setecentos euros, nenhuma das mais de cem pessoas que rodeavam o leiloeiro se mostrou interessada na aquisição.As instalações seriam ainda colocadas em leilão separado, com uma base de licitação de dois milhões, duzentos e trinta e dois mil e novecentos euros. Leilão que mais uma vez ficou deserto, ficando assim adiada a venda das instalações para um novo leilão a efectuar em data a designar pela liquidatária judicial.Depois destas duas tentativas, foi colocado em leilão o conjunto de todo o recheio da antiga fábrica. A base de licitação de todo o recheio, que incluía toda a maquinaria e bens móveis, era de dois milhões, duzentos e quatro mil e setecentos e noventa e oito euros. Leilão que também não teve interessados. Passou-se então para a venda lote a lote. Quando este leilão estava prestes a começar ainda surgiu uma oferta do grupo australiano, que terá oferecido pouco mais de um milhão de euros por todo recheio. Proposta que não foi aceite pela liquidatária judicial e representante da Comissão de Credores.Depois partiu-se para uma maratona de mais de oito horas de viagem pelo interior da fábrica e paragens junto das máquinas, com o leiloeiro a apregoar o bem a vender e as ofertas e contra ofertas a andarem rapidamente no ar. Cedo se viu que havia um interesse muito forte do grupo australiano na compra das máquinas, que poucas hipóteses deu aos restantes interessados.Os trabalhadores iam acompanhando com tristeza no olhar o desmantelamento da “sua” fábrica, mas também com alguma esperança de poderem vir a receber os ordenados em atraso e as indemnizações a que têm direito. “O leilão está a correr bem, tenho muitas esperanças em vir a receber o que me devem”, dizia Maria Otília, uma das trabalhadoras que ali passou a maior parte da sua vida.Noutro canto, João Carapinha, Isabel Belicha e o marido e outros trabalhadores estavam muito menos optimistas. “São muitos ratos para um queijo tão pequeno, não tenho muitas esperanças, vamos a ver”, dizia Isabel. “A liquidatária já me disse que para a gente já chega, vamos ter esperança”, falava com mais optimismo a Otília.Segundo um dos representantes da leiloeira, o leilão correu muito bem. “Vendeu-se praticamente tudo, três ou quatro máquinas que tinham bases de licitação muito altas receberam registos de oferta muito bons, que estou convencido de que vão ser aceites pela Comissão de Credores”, disse com satisfação. A mesma fonte explicou que não podia avançar com os números certos da venda precisamente por causa desses registos de oferta, mas garantiu que podia ficar acima dos dois milhões, duzentos e quatro mil, setecentos e noventa e oito euros, que eram a base de licitação para a venda do conjunto.