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Alverca não pára de crescer

Alverca não pára de crescer

A ausência de uma variante e a ligação à auto-estrada são as principais preocupações

Alverca desenvolveu-se a um ritmo alucinante e as infraestruturas não acompanharam o crescimento. Os 30 mil habitantes da freguesia querem melhores acessibilidades, mais segurança e não gostam de ver os esgotos serem lançados a céu aberto no rio Tejo. A freguesia mais rica do concelho não aceita a dependência de Vila Franca de Xira e reclama mais autonomia.

Quando a nova Urbanização da Malva Rosa, nos antigos terrenos da Mague, estiver toda habitada serão mais quatro mil pessoas que passarão a viver em Alverca. A freguesia já tem mais de 30 mil habitantes (1578/km2) e as novas urbanizações multiplicam-se como cogumelos. Será que todo este crescimento é sustentado com acessibilidades, emprego e infra estruturas? É esse o grande receio de autarcas locais e da sociedade civil que temem uma perda da qualidade de vida se não forem criadas algumas condições e resolvidos embaraços.A começar pelos acessos. Entrar ou sair da cidade, quer seja pela EN10 ou pela Auto-Estrada do Norte, é uma dor de cabeça. Nas horas de ponta, para fazer quatro quilómetros chega a demorar-se mais de uma hora. “Trabalho em Lisboa e comprei casa aqui porque gosto da cidade, mas já me arrependi porque perco muito tempo nas filas e não tenho condições para utilizar o transporte público”, explica João Mendes, bancário, 34 anos. A oferta de transportes rodoviários e ferroviários “é boa”, mas não serve quem tem de deixar os filhos nas creches ou nas amas particulares.A presidente da junta considera fundamental o desatar do nó de Alverca e a construção de uma variante à EN 10. Serafina Rodrigues (CDU) também não esquece as vantagens do “nó do Sobralinho” que está previsto em terrenos de Alverca há mais de 12 anos e que seria uma boa alternativa para retirar os pesados da EN 10, aliviando Alverca e Vila Franca de Xira. “A EN 10 é a estrada do desespero. Não podemos esperar mais 10 anos pela variante”, frisa a autarca. Outra preocupação dos alverquenses é o tratamento dos esgotos. A estação de tratamento de águas residuais está em construção, mas até à entrada em funcionamento, os esgotos continuam a correr a céu aberto e sem qualquer tratamento para o rio Tejo. “É uma vergonha em pleno século XXI”, comenta Rute Branco, jurista que vive na Quinta das Drogas.E quando chove muito intensamente são as enxurradas que deixam o rasto de prejuízo nas casas, garagens e comércio. A presidente da junta acredita que as soluções preconizadas perlo Instituto da Água e pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira serão minimizadoras dos prejuízos. A autarca reparte as culpas por todos. Foram os autarcas que autorizaram uma impermeabilização excessiva dos solos, foi o poder central que não tomou medidas preventivas e são os munícipes que fazem um uso abusivo das linhas de água onde colocam todo o tipo de lixo. “Todos temos um bocado de culpa, até a chuva que tem sido muito intensa em curtos períodos”, ironiza.A riqueza e a misériaA autarca considera que Alverca é um bom local para viver, mas está preocupada com o acentuar das diferenças sociais. “Há cada vez mais ricos e mais pobres. Compram-se casas de centenas de milhares de euros e depois há os que perdem as casas por não poderem assumir os compromissos”, diz. Segundo a líder da freguesia, “há muita pobreza encapotada e há mesmo fome em Alverca”.Os sinais de miséria chegam todas as semanas ao atendimento ao público feito pelos eleitos e pela assistente social que não tem mãos a medir na procura de apoios para as famílias que ali recorrem. “Não podemos resolver, mas encaminhamos as pessoas para os serviços competentes”, explica a presidente.O Bom Sucesso, um bairro com mais de oito mil habitantes, é o melhor exemplo do que de negativo foi feito na freguesia. A localidade cresceu anarquicamente e não foram reservados espaços para os equipamentos colectivos. Faltam espaços verdes, falta estacionamento e faltam locais para integrar as novas famílias e colocá-las a conviver. Este é um verdadeiro dormitório às portas da cidade. Com a ajuda do Programa de Requalificação das Águas Suburbanas da Área Metropolitana de Lisboa (Proqual), a câmara vai requalificar uma parte, mas não pode fazer milagres.Nas ruas a população fala de insegurança, mas a presidente da junta garante que os problemas de Alverca são os de uma cidade perto de Lisboa e queixa-se da falta de efectivos da GNR. Os 30 guardas não chegam para tudo e ainda têm de acudir às freguesias rurais. O posto da GNR é novo, a cidade ganhou o comando da zona, mas nada mudou nas ruas. O estacionamento anárquico é um bom exemplo da falta de recursos da GNR.As respostas na área da saúde melhoraram com o novo centro de saúde na Quinta das Drogas ao lado das novas piscinas e da nova sede da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense, a casa mãe da cultura. A comunidade cristã vive orgulhosa com a imponente Igreja dos Pastorinhos, única em Portugal, e em fase de conclusão. Na área social, a fundação Cebi é uma referência nacional. A instituição apoia milhares de famílias e é um dos maiores empregadores do concelho. A freguesia garante o ensino até ao 12º ano e tem o Centro de Formação Profissional que, tal como as escolas secundárias, recebe alunos de outras freguesias e de outros concelhos.Alverca é a maior e mais importante das freguesias do concelho de Vila Franca de Xira e entre os habitantes há um sentimento de alguma injustiça em relação ao investimento municipal em comparação com o que é feito na sede do concelho. “Fazem tudo em Vila Franca, aqui as obras são quase todas financiadas pelo Governo”, refere Isidoro Maia, habitante de Arcena, outra localidade limítrofe da cidade. A ideia é partilhada pela presidente da junta que remete para a comparação dos impostos cobrados pelas duas repartições de finanças e garante que a segunda repartição, em Alverca, cobra muito mais impostos. “A maior riqueza do concelho está em Alverca”, disse.Serafina Rodrigues não gosta de polémicas, mas assume que há uma clara injustiça que poderia ser reparada com a restauração do município de Alverca que foi extinto em 1855. “Estamos a ser prejudicados”, acrescentou. A autarca não acredita num novo município a curto prazo porque “não há vontade expressa pela população e forças vivas”.Nelson Silva Lopes
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