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Uma mulher de armas

Serafina Rodrigues é presidente da Junta de Alverca há oito anos
Quem a conhece garante que é trabalhadora, dedicada e tem uma enorme sensibilidade. Serafina Rodrigues é a presidente da Junta de Freguesia de Alverca há mais de oito anos, mas a autarca diz que não está agarrada ao lugar e, embora não o tenha confirmado, é provável que no final do mandato vá procurar o descanso. “Já decidi o que vou fazer. Só não digo porque não quero perturbar o funcionamento da junta”, refere. A autarca eleita pela CDU é uma mulher de convicções e sem papas na língua. Nunca deixa um assunto a meio, mas confessa que prefere o diálogo ao confronto. Pensa que não é por se gritar que se tem razão. Luta pela sua freguesia, mas recusa hostilizar a Câmara de Vila Franca de Xira ou o Governo “só por serem de cores diferentes”. Serafina Rodrigues, 54 anos, casada com um ex-jogador de futebol do Alverca e mãe de dois jogadores, nem por isso é adepta da bola. Torce pelo Alverca porque é o clube da sua terra e um verdadeiro embaixador da cidade.Esta mulher de armas foi desenhadora de máquinas na Mague (a maior empresa metalomecânica do país) durante 25 anos. É com orgulho que diz que foi a primeira portuguesa a exercer a profissão. Quando ingressou na empresa tinha quatro companheiras no gabinete de estudos de aparelhos de elevação, mas todas desistiram e acabou por ficar só no meio de 80 homens que trabalhavam na sua secção. A Mague foi “a melhor escola” apesar de recordar com agrado a experiência vivida na Escola António Arroio, em Lisboa, onde estudou artes decorativas. No final da década de 80, a empresa iniciou o processo de falência e, tal como centenas de operários e técnicos, Serafina Rodrigues saiu com alguma mágoa. Lembra que ficou abalada quando viu a morte lenta de um espaço com tanto simbolismo para Alverca.Mas já se conformou em ver no lugar da Mague uma urbanização que vai receber quatro mil novos habitantes. “Antes casas que armazéns. Mas se isto fosse um país como deve ser aquilo teria ficado no domínio público e seria um parque verde para a cidade”, lamenta.A autarca não se revê no modelo de crescimento da freguesia e reconhece que há betão a mais. “Os eleitos locais deveriam ter mais força para impedir algumas situações”. Serafina Rodrigues aplaude os movimentos da sociedade civil, mas defende que o bom senso deve prevalecer e que os cidadãos devem ser menos egoístas e pensar no colectivo.É uma presidente orgulhosa com o movimento associativo de Alverca e por isso faz questão de reconhecer o mérito dos “carolas” com a sua presença em quase todos os eventos. O dia da autarca é preenchido com visitas às obras, contactos com funcionários, fornecedores e entidades, despachos no gabinete e um conjunto de tarefas que nunca se esgota. A secretária cheia de papéis é a melhor imagem para mostrar quanto é complicado gerir uma freguesia com 30 mil habitantes e um infindável conjunto de solicitações. A jornada de trabalho raramente tem menos de 10 horas, não há fins-de-semana e o telemóvel está ligado 24 horas por dia. “Quem anda por gosto não cansa, mas se não se gostar não se consegue”, explica. Com tanta solicitação, não resta tempo para nada. Serafina Rodrigues gosta de ler, ver televisão e de cozinhar. Prefere fazer bolos e petiscos aos pratos do dia a dia, mas raramente cozinha em casa. Quando deixar a vida política espera ter tempo para confeccionar as receitas que foi acumulando.As férias da autarca são aproveitadas para descansar e retemperar forças. Gosta de passear na praia, ler revistas cor de rosa e “alguns livros mais sérios”. Mas o que gosta mais é de não fazer nada .A presidente da junta nasceu em A-dos-Potes, um dos lugares mais pequenos da freguesia, e é lá que ainda vive mais de 50 anos depois. Gosta do local, mas o pior é o tempo que perde para fazer os escassos quatro quilómetros até ao centro da cidade. “Aquele nó junto da autoestrada do Norte tem de ser desatado rapidamente”.Nelson Silva Lopes

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