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“Secretaria de Estado foi a cereja no cimo do bolo”

“Secretaria de Estado foi a cereja no cimo do bolo”

Presidente da Câmara da Golegã satisfeito com a obra feita

José Veiga Maltez, presidente da Câmara da Golegã há sete anos, explica nesta entrevista por que entrou na corrida, ganha, pela secretaria de Estado da Agricultura. Em vésperas de mais uma Feira de São Martinho, diz que não há qualquer guerra com Santarém e que a capital de distrito tem de exorcizar os seus fantasmas para se afirmar no contexto regional. Médico, criador de cavalos, o autarca independente eleito pelo PS hesita quando se aborda uma possível recandidatura. Depende dos sinais que lhe chegarem da comunidade, afirma.

Se dissermos que a instalação da secretaria de Estado da Agricultura para a Golegã foi a maior conquista deste seu mandato, estamos a exagerar?Com certeza que sim. Pode-se dizer que foi a cereja no cimo do bolo do nosso mandato. A maior conquista foi dotar o município de infraestruturas básicas, de estruturas de qualidade para quem nele vivia ou para quem nele queria viver. Que culminou com o programa Observa, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, a dizer que somos um dos dez concelhos com melhor qualidade de vida no país.Objectivamente, a que infraestruturas se refere?Tivemos que nos bater, desde logo, com o abastecimento de água potável na sede de concelho, que não tínhamos por causa dos nitratos. Havia estações de tratamento de águas residuais impróprias e inoperantes. Não tínhamos uma rede viária em condições, o parque escolar estava por reabilitar e melhorar. O parque desportivo era insuficiente. E sobretudo era necessário agitar as gentes e as mentes, que viviam até aí angustiadas e deprimidas, com propostas novas.Que tipo de propostas?Projectos educativos, projectos culturais. Os museus que existiam estavam também aquém daquilo que se devia esperar. A Casa Relvas estava deterioriada e fechada há anos. Chovia no museu Martins Correia. Não havia uma galeria de arte. Havia uma série de coisas que estavam por fazer e essas sim foram as grandes conquistas. Como o cine-teatro que estava fechado, as piscinas que não tinham condições, a construção do Equuspolis...Perante essa lista, o que é que acha que ainda falta fazer?Há sempre coisas para fazer. Quanto mais não seja manter e sustentar aquilo foi feito e aquilo que foi melhorado.Voltando atrás. Como é que conseguiu trazer a Secretaria de Estado para uma pequena vila de província?Só lancei esse repto depois de ver as declarações do vice-presidente da Câmara de Santarém onde referia que não lhe parecia de um interesse por aí além a instalação da secretaria de Estado em Santarém e de que não dispunham de edifícios para a albergar.Mas podia ter fica do quieto e calado e deixar o Governo resolver um problema que era sobretudo dele.Não podia ter essa atitude e explico porquê. Nós fomos sempre referência da agricultura portuguesa nos últimos dois séculos. A Golegã é vista como um ponto muito importante para a agricultura nacional. O que me pareceu, com essa pouca aplicação de Santarém, é que a própria lezíria do Tejo ia perder essa estrutura, quiçá para o Médio Tejo...Seria assim tão grave?Eu penso que sim.Não há aí um conceito demasiado paroquial da sua parte?Não e passo a explicar. Perante a posição de Santarém, abordei o presidente da Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo e comuniquei-lhe a minha intenção. Porque a agricultura que se faz na Golegã é de vanguarda. É onde se testam as grandes evoluções tecnico-científicas, onde existe um número forte de associações de agricultores com vertente científica. Não me parecia bom, para quem pratica a agricultura dessa maneira, que havendo uma deslocalização da secretaria de Estado ela não viesse para onde era justo.Que mais valia decorre dessa instalação?Não é só uma mais valia para a Golegã. É uma mais valia para a própria secretaria de Estado e para o próprio ministério. Porque aqui está junto dos anseios, das angústias e dos sucessos dos agricultores. É também uma mais valia a nossa centralidade em relação aos outros pontos do país. Os acessos são fáceis.Esse processo não foi também uma oportunidade para afirmar a sua pessoa e a Golegã face ao poder que Santarém ainda representa no contexto regional? De forma alguma. Nunca o fiz por revanchismo ou necessidade de afirmação. Só pela mais valia que podia ser para a Golegã. Isto só surge quando vejo que Santarém está a entrar numa ireversibilidade.Ao tomar essa posição, e ao dizer claramente que a Câmara de Santarém teve uma atitude de inércia e inépcia, contribuiu para o esfriar do relacionamento entre as duas autarquias.Penso que não. O presidente da Câmara de Santarém, como homem da Comunidade Urbana da Lezíria, deve ter ficado contente por esses serviços terem ficado na Lezíria. Já que Santarém não se tinha perfilado com dinâmica, com firmeza para os ter...Mantém um relacionamento normal, em termos institucionais, com o seu homólogo de Santarém?Mantenho. Ainda há pouco tempo estive, como presidente da direcção da Resitejo, e o meu colega como presidente da assembleia geral, numa reunião perfeitamente normal.Não recebeu pressões ou críticas do PS face à sua postura relativamente a outra autarquia da mesma cor política?De forma alguma. E muitas pessoas dentro do Partido Socialista acharam pertinente a minha pretensão. Antes de tomar esta atitude falei com os autarcas da Lezíria sobre o assunto - com o presidente da Comunidade Urbana Sousa Gomes, com o presidente Paulo Caldas, do Cartaxo, e eles concordaram perfeitamente. O importante era a secretaria de Estado não sair da Lezíria. Além disso podia-se prefigurar uma luta entre cidades rivais na região e assim nenhuma se ficou a rir, porque a Secretaria de Estado veio para uma pequena vila.Ou seja, evitou uma possível polémica criando outra. Diga-nos: o que ganha a Golegã no seu dia a dia com a secretaria de Estado?Para além de reforçar o mediatismo que temos vindo a conquistar para a Golegã, tem permitido um maior afluxo de pessoas. O comércio e a restauração, sobretudo, têm beneficiado com isso. E para mim isso já começa a ser bom. Também é muito agradável a Golegã ir receber no dia 15 de Novembro o senhor ministro de Agricultura alemão, porque existe cá uma Secretaria de Estado...Esta não foi mais uma batalha entre Golegã e Santarém numa guerra antiga que tem outros episódios, como a das fronteiras entre as freguesias de Azinhaga (Golegã) e Pombalinho (Santarém)?Não. Cada concelho deve-se tentar afirmar de uma forma justa, correcta e não têm de andar à disputa. Nem faz sentido. Santarém é uma cidade. Tem um peso muito maior que a Golegã. Mas penso que não tem conseguido, na realidade, afirmar-se. E daí é que vem a polémica.Quer explicar melhor?Se Santarém tivesse a força que os próprios escalabitanos gostariam que tivesse, nem se punha em questão que pudesse haver alguma polémica com a Golegã. Isso é um complexo que não deve subsistir em Santarém. E parece-me até de alguma inferioridade, porque quem o afirma está-se a pôr ao nível da Golegã. São burgos complementares na sua história e na sua identidade. Não há guerra nenhuma, sinceramente.Disse que Santarém não se impôs como, provavelmente, os escalabitanos gostariam. O que é que, na sua óptica, falha?Acho que, desde há dezenas de anos, uns pior ou melhor que outros, não conseguiram afirmar Santarém. O que fizemos aqui na Golegã eles não têm feito.Como é que isso se reflecte no contexto regional?Acho que Santarém tem perdido o barco com alguma constância. Santarém podia ser a Sevilha portuguesa. Podia ser uma cidade com características próprias. A Golegã não é culpada, de forma alguma, da incapacidade que Santarém teve de não conseguir conquistar competitividade e mediatismo. Qualquer coisa que acontece hoje em Santarém a culpa é sempre dos de fora, nunca é dos de dentro. Já está na altura de Santarém assumir a sua incapacidade, até agora, de se afirmar. É muito fácil explicar os nossos males com as atitudes dos outros. As pessoas têm que assumir e fazer um projecto para Santarém.Ainda em relação à questão das fronteiras entre Golegã e Santarém, há uma posição da junta e da assembleia de freguesia do Pombalinho favorável à integração no concelho da Golegã. Ficou contente com essa opção?A Golegã nunca reclamará nenhuma área que seja de uma freguesia de outro concelho. Têm que ser os pombalinhenses a encontrar a solução. A Golegã está disponível para receber o Pombalinho, mas não acredito muito que a Assembleia da República abra o precedente de passar uma freguesia de um concelho para outro.Não vai ter uma postura activa nesse campo?Garanto que não vou. Percebo a pertinência de os habitantes do Pombalinho quererem pertencer ao concelho da Golegã. Só que não me vão ter ao lado nessa luta. Vão-me ter como ouvinte, tomando em consideração as suas pretensões. Mas se querem fazer disso uma luta, a luta é de quem quer mudar. Nós estamos bem como estamos.Tem conseguido o apoio da administração central para uma série de obras emblemáticas, como o Equuspolis. Caiu nas boas graças do Governo?De forma alguma. A nossa posição é a de que tem de haver um relacionamento necessário com a administração central para que possamos ir fazendo a obra que está nos nossos intentos desde 1998. Não é por ser eleito por uma força que hoje não é Governo que vou mudar a minha postura. Estou filiado num partido chamado Golegã, é por esse que luto. Depois sou eleito por um partido que depositou confiança em mim, e só ele a depositou, e pelo qual tenho imensa consideração.Como é que são as suas relações com o PS?São francamente boas. Falo regularmente com o presidente da Federação Distrital de Santarém...Porque é que não se filia? Não se revê na linha ideológica do PS?Não me integro nos democratas-cristão, não me integro nos sociais-democratas, nos marxistas muito menos... Se é que existe no catálogo político, devo ser um social-cristão. E acho que não há necessidade, mesmo gostando de futebol, de ser filiado num clube. Mas necessitou de um “clube” para chegar à câmara?E sabem porquê. Na altura não havia candidaturas independentes. Mas há algo importante a referir: foi o PS que depositou em mim confiança, não outro. Na altura houve uma tentativa de entendimento do PS com outras forças partidárias. Eu disse que se unissem, já que me faziam o convite para ser candidato.Se tivesse sido o PSD a depositar em si essa confiança tinha aceite?Na altura, provavelmente não. Mas foi o PS que se lembrou. Estavam no Governo o engenheiro Guterres, o meu amigo pessoal António Vitorino, enfim uma série de referências que me eram agradáveis e que me levaram a aceitar esse repto da concelhia local do PS.Nunca foi sujeito a qualquer espécie de “aconselhamento” ao abrigo da chamada disciplina partidária?Nunca. Justiça seja feita. O PS nunca me impôs nada. Confiou sempre no meu senso.Se existissem essas pressões era pessoa para as denunciar, para tomar uma atitude?Tomava uma atitude. Porque tenho as minhas convicções. A maioria autárquica que conquistei penso que me autoriza e legitima perante o PS, para que o partido não tenha atitudes dessas. João Calhaz e Margarida TrincãoAs explicações para a retirada de pelouros ao vice-presidente da câmara“Vítor Guia deve gozar a sua aposentação”Porque é que retirou os pelouros ao seu vice-presidente da câmara, Vítor Guia, uma figura que era vista como seu braço direito e o único filiado do PS no executivo?Tenho a opinião de que as câmaras devem ser unicolores como o governo central. O presidente da câmara devia ser como o primeiro-ministro e poder escolher a sua equipa. A gestão de um município deve evoluir como a de um governo central. O que acontece muitas vezes é que o primeiro-ministro muda os seus ministros...Quer dizer que foi uma espécie de remodelação?Não foi bem assim. É uma remodelação que já estava prevista até pelo próprio senhor Vítor Guia, que no início não tinha a certeza de ficar até ao fim do segundo mandato.Mas Vítor Guia permaneceu como vereador.Sim, mas sem pelouros. Acho que é bom mudar e é bom agitar dentro da mesma filosofia de gestão.Isso não cria alguns engulhos dentro do funcionamento do executivo? Afinal, está a trabalhar com uma pessoa a quem retirou a confiança política.Não. Na minha equipa nem todos partilham das mesmas ideias. Em Portugal é difícil mudar. Há resistência à mudança. Até quando se muda alguém dentro do executivo é um problema. Mudou-se porque se calhar era interessante fazer alguma remodelação.É importante que haja mudança, mas também é importante que a opinião pública saiba porque é que se muda.Como sabem estava prevista uma aposentação. As coisas mudaram com sustentação e argumento.Mas esse argumento tarda em colher, já que a aposentação não se verificou.Verificou. O vereador está aposentado.Sim, mas não da política. Poderia continuar a ter pelouros mesmo não sendo remunerado por eles.Pode ter. Mas penso que uma pessoa que se aposentou também deve gozar a sua aposentação.Foi o senhor que escolheu a sua equipa quando se candidatou?Escolhi a minha equipa e devo dizer que a concelhia do PS, na altura, não achou que fosse a mais pertinente.Porquê?Têm de perguntar à concelhia. Fui eu que insisti em trazer a mesma equipa. Foi uma das imposições da minha parte.E já estava calculada esta remodelação?Não. Talvez calculasse que a meio do mandato pudesse surgir uma alteração.Houve também mudanças ao nivel das chefias na câmara. As situações estão relacionadas?De modo nenhum. Iniciámos esse processo no início deste mandato. Fizemos um novo organograma. Não existiam hierarquias na Câmara da Golegã. Quando chegámos, havia uma chefe de divisão administrativa-financeira e duas divisões - essa e a de obras. Além dessas, criámos mais uma, a de intervenção social. Foi necessário colocar na chefia das divisões licenciados, o que é imposto por lei e ainda bem. Estruturámos os serviços para que a câmara funcione.
“Secretaria de Estado foi a cereja no cimo do bolo”

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