Bíblia escrita a muitas mãos
Quem quiser pode colocar a sua marca nas folhas da Sagrada Escritura
Quatro livros da Sagrada Escritura estão a ser copiados à mão em Santarém. As folhas de papel com centenas de caligrafias diferentes vão juntar-se às das outras capitais de distrito e formar a Bíblia manuscrita.
Os olhos azuis água nem pestanejam. Filipa Grilo está fixada no papel branco sobre uma mesa do ginásio do Seminário de Santarém. A jovem escalabitana é uma das que aderiu ao chamamento da Sociedade Bíblica de Portugal e transcreveu dois versículos do livro sagrado. Até dia 21, aos sábados e domingos, das 10h00 às 17h00, quem quiser pode deixar o seu cunho numa Bíblia manuscrita. Enquanto os dedos finos seguram a caneta de tinta preta e lentamente constrói as letras, Filipa tenta acompanhar as palavras para não se enganar como a colega do lado. Susana Farinha, de 19 anos, católica praticante, não controlou o nervosismo e a caneta andou mais depressa que o olhar. Nada que o corrector colocado estrategicamente em cima da toalha cor de vinho tinto não resolvesse. Susana transcrevia os versículos 23 e 24 do capítulo 1 do Evangelho segundo S. João e sentia na ponta dos dedos a responsabilidade de contribuir para um momento único. Talvez por isso tenha confessado que não estava a interiorizar a mensagem. Isso fica para interpretar em casa, com mais calma e sossego. Até porque, diz, as palavras que se descobrem nas entrelinhas é o mais bonito. Em todas as capitais de distrito repetem-se os mesmos gestos. Faz-se a inscrição à entrada. A ficha com o nome, idade, profissão, entre outras, fica com a organização. A pessoa leva um destacável com a data em que participou que vai permitir depois informar o número da página onde está o seu cunho, a parte que escreveu. As letras redondas, de imprensa, umas tortas, outras mais alinhadas, parecem mantas de retalhos que vão crescendo. No sábado de manhã já havia 80 caligrafias diferentes nas folhas à disposição dos cidadãos de Santarém. À capital de distrito foi dada a incumbência de transcrever quatro livros da sagrada escritura: Esdras (Antigo Testamento) e Evangelho de S. João, Evangelho de S. Mateus e Primeira Carta aos Coríntias (Novo Testamento). Carlos Fernandes, um dos elementos da equipa coordenadora, circula pela sala do ginásio encaminhando as pessoas para o lugar das transcrições. Onde um feixe de luz do sol, ampliado pelas vidraças antigas do ginásio, cria um ambiente idílico. “A Bíblia ultrapassa qualquer quadrante”, vai dizendo. A Bíblia, acrescenta, é um elemento cultural e “ultrapassa a própria Igreja Católica”. É também por isso que a iniciativa está aberta a todas as pessoas de diferentes igrejas cristãs. Diz-se mesmo que o livro mais vendido no Mundo é uma fonte de incentivo e inspiração na formação espiritual, cultural, artística e ética dos povos.
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