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Como ganhar sem perder o adquirido

O historial das eleições autárquicas demonstra-nos que, neste distrito, mesmo considerando a interferência do “voto de protesto”, o eleitorado prefere a continuação de quem conhece e lhe é familiar. Entre uma solução habitual, que se repete, e uma solução desconhecida, os eleitores têm optado, salvo raras excepções, por manter os candidatos que já se encontram a conduzir o “autocarro dos seus destinos colectivos”

As eleições municipais do próximo ano têm um significado e um simbolismo acrescidos. Bastará lembrar que, em 2001, o 14º Governo Constitucional caiu na sequência dos resultados das “Autárquicas”.Quando votam nos seus candidatos para a Câmara, para a Assembleia Municipal ou para a Junta de Freguesia, os eleitores acabam, simultaneamente, por premiar ou punir o Governo que estiver em funções.Não é injustificado admitir que o PS beneficiará, em 2005, do desgaste do actual Governo. Caso não haja eleições legislativas antecipadas, as “Autárquicas” funcionarão como primárias das eleições para o Parlamento. Aliás, já em 2001 foi nítida a influência do voto de protesto contra o Governo então vigente, o que ditou, em larga medida, a derrota do PS nas principais autarquias portuguesas (Lisboa, Porto, Coimbra, Setúbal, etc.).No que toca ao distrito de Santarém, o PS procurará, seguramente, em 2005, “acertar as contas”, tanto no Entroncamento, como em Alcanena, dois bastiões perdidos em 2001, sem esquecer Coruche, a sua “única conquista” (adicional) nas últimas eleições autárquicas.Já escrevi, nesta coluna, que é extremamente difícil “apear” um presidente de Câmara em luta pelo seu segundo mandato. O actual líder do Entroncamento dispõe dessa vantagem que as estatísticas comprovam em toda a linha. Porém, será na capital ferroviária portuguesa que, mais fortemente, surgirão os efeitos políticos do chamado “voto urbano”, no distrito de Santarém (uma vez que esta autarquia se restringe à cidade). No que respeita ao “voto urbano”, o benefício irá inteiramente para o PS, agora reforçado com uma nova liderança nacional. Se, desta vez, o Partido Socialista não apanhar o comboio da vitória na cidade das locomotivas, corre o risco de uma longa travessia no “deserto ferroviário”, como sucedeu na capital dos templários, após a saída de cena do ex-presidente Pedro Marques.Quanto a Alcanena, depois da humilhação sofrida, em 2001, por causa da escolha do antigo presidente federativo, as “contas” são mais difíceis de repor. A meu ver, só há duas formas de o PS voltar à liderança alcanenense. A primeira e mais eficaz consistiria na recandidatura do actual presidente, mas agora pelo Partido Socialista, de que foi (e é!) um dos seus quadros regionais mais prestigiados. Como este cenário está (tudo indica) fora de causa, restará ao PS apresentar a sufrágio um dos “generais” que estiveram na origem da vitória histórica da ICA (“Independentes pelo Concelho de Alcanena”) sobre o antigo Governador Civil que, recorde-se, reduziu o PS a 18% de votos no concelho dos curtumes.Em síntese, dos três desafios enumerados – Entroncamento, Alcanena e Coruche aparentemente, o mais simples para o PS é o combate autárquico nas terras do Sorraia, graças ao desempenho, quer do presidente da Câmara, quer da presidente da Assembleia e respectivas equipas. No entanto, por melhores que sejam as sondagens, não há vitórias, nem derrotas antecipadamente garantidas.Salvo melhor entendimento, nas restantes autarquias, dificilmente teremos dança de cadeiras presidenciais, a menos que se repitam “gestos filantrópicos” como os de Carlos Palmeiro (Tremês) que, acreditando, genuinamente, em 2001, na obra realizada, não fez campanha, nem promessas eleitorais. O historial das eleições autárquicas demonstra-nos que, neste distrito, mesmo considerando a interferência do “voto de protesto”, o eleitorado prefere a continuação de quem conhece e lhe é familiar. Entre uma solução habitual, que se repete, e uma solução desconhecida, os eleitores têm optado, salvo raras excepções, por manter os candidatos que já se encontram a conduzir o “autocarro dos seus destinos colectivos”. Todavia, como há sempre quem seja levado na cantiga de comprar burro coxo por cavalo de corrida, mais vale prevenir. Um camponês finório conseguia, em eras passadas, vender quadrúpedes entrevados por alimárias andadeiras, nos melhores mercados de gado ribatejanos! Com uma boa campanha eleitoral… quem sabe? Post Scriptum Pôr de pé uma estratégia vencedora em autarquias da oposição, sem perder nos municípios que já detém, constitui uma gesta mobilizadora, mas complexa, para o PS, tanto mais que existe plena consciência de que nenhuma nova vitória compensaria a perda dos seus bastiões tradicionais, de que a capital ribatejana é o expoente máximo.Como é óbvio, todas as “contas optimistas” tenderão a cair por terra caso surjam candidaturas “extra-partidárias” com capacidade de pescar (por pouco que seja) em águas socialistas. Alcanena, em 2001, foi uma lição inesquecível mas não, necessariamente, irrepetível!Póvoa da Isenta (Moinho de Vento), 7 de Novembro de 2004.

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