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Sagaz Manuel Serra D’Aire

Sagaz Manuel Serra D’Aire

Só tu te podias lembrar dos efeitos psicotrópicos que os testamentos de opinião de página inteira dos políticos e afins podem provocar numa alma de Deus. Mas esqueceste-te de um pormenor, um detalhe, que pode tornar esses escritos aparentemente nocivos e classificados como resíduos perigosos num bálsamo milagroso.Dizem estudos recentes que mais de metade dos portugueses dorme mal e ostenta sonolência durante o dia. É no que dá o divórcio da política e é o que faz não abrirem jornais! Lessem eles, só que fosse semanalmente, um desses chouriços sobre política com sete mil caracteres, cheios de citações, de adjectivos rebuscados e de palavrões de sete e quinhentos e outro galo cantaria. E podia cantar bem alto, que ninguém o ouviria.Era remédio santo. Uma prosa sobre o quadro comunitário de apoio, sobre a constituição europeia ou sobre as competências das comunidades urbanas é infalível. É o que eu faço quando os meus trigémeos desatam a chorar durante a noite e acordam a canzoada toda da vizinhança. Saco de um jornal antigo e aplico-lhes uma terapia de leitura a meia voz onde vocábulos como acessibilidades e desenvolvimento sustentado produzem efeitos letais na insónia e na birra. Um artigo de opinião de um político raramente falha. E se for do Jorge Lacão ou do Carlos Carrão, então, é sucesso garantido… Ainda eu não tive tempo para dizer “Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central” e já os putos ressonam mais alto que alguns dos deputados da Assembleia da República durante os trabalhos parlamentares. E se trago à liça esses injustiçados é simplesmente para os homenagear pelo singular esforço a que estão submetidos. Trabalhar em São Bento não é pêra doce. Muita gente que critica os nossos deputados devia experimentar antes de falar nas suas reformas douradas e vitalícias. Como é que homens e mulheres que assistem quase diariamente a uma batelada de discursos anestesiantes no Parlamento – e que na maior parte das vezes nem abrem o bico, não contribuindo por isso para aquela desgraça - não hão-de adormecer em qualquer lado? Põe-te no lugar deles e depois diz-me alguma coisa... Aquilo é uma dose equivalente a uma caixa de valiuns, capaz de domesticar o puto mais hiper-activo.Omnisciente Manel, fui ao São Martinho à Golegã, como é habitual. E mais uma vez me arrependi. O presidente da câmara diz que aquela é a única feira franca do país, porque não se pagam entradas. Pois não. O pior é lá dentro. Queixei-me eu aqui há uns tempos que me tinham levado 1 euro na Feira da Agricultura de Santarém por uma garrafita de água. Pois bem, na Golegã arrotei um euro e meio. Trezentos paus na moeda antiga. E sem factura. O São Martinho da Golegã pode ser conhecido como feira do cavalo mas, acima de tudo, é um sítio onde me sinto um grande asno. Como muitos que por lá campeiam, diga-se. E nem as visões agradáveis das atraentes amazonas que por ali trotavam a cirandar me acalmaram o bestunto. Valeu-me saber entretanto que o presidente da Câmara de Santarém quer maioria absoluta nas próximas autárquicas. Afinal, pedir 300 paus por uma garrafita de água não é nada de outro mundo. Rui Barreiro está a pedir bem mais e ninguém o levou preso!! Um abraço cavalar do Serafim das Neves
Sagaz Manuel Serra D’Aire

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