A consagração de uma fadista
Joana Amendoeira concretiza o sonho de cantar no S. Luiz e vive um dos melhores momentos da carreira
O fado tradicional, preferido de Joana Amendoeira, entoou no S. Luiz, em Lisboa, e fez vibrar a plateia naquela que foi a sua primeira actuação a solo na capital.
Os brilhantes olhos verdes de Joana Amendoeira cativaram o público que encheu o Teatro S. Luiz, em Lisboa, para ver a sua primeira actuação a solo na capital. A fadista de Santarém conseguiu ao longo de uma hora e meia de espectáculo, na quarta-feira à noite, dia 17, uma mística de cumplicidade com a assistência, em que pelo menos uma centena de pessoas viajou da sua terra para a ver naquele que é o seu melhor momento da carreira. Joana não se cansou ao longo do espectáculo de agradecer a presença das pessoas, que foram brindadas também com cravos espalhados pelas cadeiras da plateia. As mesmas flores também estavam espalhadas pelo palco. A fadista gosta de flores, de as receber e por isso se compreende a decoração. As suas preferidas são as rosas, que também entraram no espectáculo cravejadas no vestido preto com que se apresentou na segunda parte. Os vestidos escolhidos pelo amigo Nuno, que é também maquilhador, seguem os gostos da artista que recaem no preto e no encarnado cor de vinho. Também gosta de azul, apesar de ainda não ter cantado com nenhuma roupa desta cor.“Cantar no S. Luiz foi sempre um sonho que nunca pensei concretizar”, disse a artista depois do espectáculo, já recomposta dos nervos e da emoção. Mais por ser um momento importante na carreira que começou há 11 anos. Gosta de cantar, está-lhe no sangue, confessa. Por isso não tem medo de enfrentar o público. Gosta de ver a sua reacção, o seu olhar. E só tem pena que no S. Luiz só conseguisse observar as pessoas sentadas nas primeiras filas. Hoje, com 22 anos, Joana Amendoeira, continua a ser a mesma pessoa. A ir às compras. A sair com os amigos, apesar de tentar não se deitar tarde, hábito que já mantinha antes de ser famosa. Gosta de ter o seu próprio espaço, mas não gosta da solidão. O facto de viver em Lisboa afasta-a um pouco da família em Santarém, mas o telemóvel mata as saudades. No palco do teatro de Lisboa transpirava essa importância de estar com os amigos, a família. O seu irmão Pedro acompanhou-a na guitarra portuguesa. Na viola estava o namorado, Pedro Pinhal. O contrabaixo era tocado pelo seu grande amigo João Penedo.O prémio revelação 2004, que recebeu sábado, comprova a evolução que a fadista tem conseguido desde que cantava em festas populares ou em casas de fado. Mais um sonho que se junta ao seu currículo que se vai construindo passo a passo, sem pressas. É deixar acontecer. Os seus gostos passam pelo fado tradicional. Gosta de Camané, Maria da Fé, Lucília do Carmo. Amália é uma referência. Mas também vai beber influências à música brasileira de Elis Regina e Caetano Veloso. O tradicional e a inovação estiveram presentes no espectáculo. O violoncelo de Susana Santos acompanhou alguns fados. José Fontes Rocha, que acompanhou com a sua guitarra portuguesa Amália, também participou a seguir ao intervalo nos fados “Meu Portugal, Meu Amor” e “Amor mais Perfeito”. À medida que a carreira da fadista de Santarém se vai consolidando os seus tempos livres vão sendo cada vez menores. Gostava de ter mais tempo para ir ao cinema e ao ginásio. Os estudos também vão andando, mas em segundo plano. Está no primeiro ano de Antropologia. Quer continuar a aliar os estudos ao fado e quando terminar o curso da Universidade Nova pretende fazer uma investigação sobre a canção que começou a cantar aos seis anos em casa. Joana Amendoeira tem razões para se sentir famosa, mas a sua humildade e as suas raízes que não renega levam-na a dizer que é uma pessoa normal. Confessa que tenta passar despercebida. “Temos que ser naturais e verdadeiros”. A mesma naturalidade com que vive a aquela que coloca no palco, que só consegue pisar se se sentir bem com a roupa, o penteado, a maquilhagem.Antes da actuação no S. Luiz, tal como em outra qualquer sala de espectáculos, Joana Amendoeira reza. Não lhe chama uma superstição. É fé. A mesma fé que tem no fado, na vida, na protecção, apesar de ser uma católica não praticante. “Na música acredita-se que há algo superior a nós”. Mas também há encanto, fascínio… E como a própria diz: a noite do espectáculo na capital foi “magia”.
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