Ressuscitar a obra de Duarte Ferreira
Há ideias para recuperar e dar nova vida às instalações industriais moribundas
Por detrás dos portões pintados de azul, ostentando a imagem de uma borboleta, esconde-se a história de uma empresa que durante décadas foi o ganha-pão de centenas de famílias do Tramagal e arredores. A Metalúrgica Duarte Ferreira alimentou 95 por cento da população da freguesia e viu até serem ali concebidos alguns dos rebentos que mais tarde fariam também parte da sua força de trabalho.
Eduardo Duarte Ferreira, o ferreiro do Tramagal que transformou uma pequena fundição numa verdadeira instituição a nível nacional e internacional, está morto e enterrado. Teve a sorte de não viver o tempo suficiente para assistir à morte da menina dos seus olhos, a Metalúrgica Duarte Ferreira, de onde saíam os “míticos” Unimog e Berliet que equiparam o exército colonial português.Dá pena passar pelo quarteirão onde estão erguidos os edifícios que compunham a Metalúrgica Duarte Ferreira. Estão velhos, decadentes, degradados. Há portas com a madeira a descascar e vidros partidos. Depois de ter sido vendido em hasta pública, na década de 90, parte do património serve agora outras empresas e oficinas.O edifício onde antigamente funcionavam os escritórios principais da metalúrgica mostra-se altivo, apesar da evidente degradação. Lá dentro, afiança Santos Silva um dos sócios da Frutifer, empresa de material ferroviário ali instalada, os salões de tecto alto continuam belos apesar do abandono a que foram votados.“Não é fácil pegar nisto”, diz quem acredita que o edifício poderia servir de centro de acolhimento às diversas actividades culturais da vila. Por um lado dava-se vida a um importante património industrial da década de 30 e 40 e por outro tentava-se recuperar a auto-estima dos tramagalenses, habituados a estarem debaixo do chapéu protector da metalúrgica.A metalúrgica era a mãe das gentes do Tramagal. Que cuidava que nada faltasse aos filhos. Foi por iniciativa da empresa que nasceu a Sociedade Artística Tramagalense, que fez este ano o seu centésimo segundo aniversário sem a pujança de antigamente. Foi através da metalúrgica que as gentes da terra passaram a assistir a cinema e teatro, no chamado Teatro Tramagalense Limitada. Uma actividade que morreu com a falência da Duarte Ferreira. E nunca mais houve cinema ou teatro no velho edifício, fechado e a cair de podre.O clube de futebol Tramagal Sport União nasceu no seio da metalúrgica. O clube que esteve a uma vitória de alcançar a primeira divisão nacional, foi também afectado pela queda da empresa, militando hoje na primeira divisão distrital de futebol de Santarém. E a pista de atletismo do campo Duarte Ferreira, que já foi a melhor pista de cinza do país, não é hoje utilizada.Em termos de formação escolar, a metalúrgica teve também um papel preponderante, sendo responsável pela expansão do ensino primário na freguesia. Porque Eduardo Duarte Ferreira não admitia aprendizes analfabetos. E porque todas as crianças sonhavam um dia vir a ser operários da unidade industrial. Velhos tempos, recordam agora os velhos sentados nos bancos de madeira da vila. Além de um centro cultural, Santos Silva preconiza também para aqueles edifícios um museu industrial, onde pudesse estar exposto o património que meia dúzia de carolas foi guardando, impedindo assim que peças históricas e de grande valor arquitectónico desaparecessem.Algum desse património esteve inclusivamente presente na exposição sobre a engenharia do século XX , ainda recentemente patente na Cordoaria Nacional.Até agora os projectos de Santos Silva não passam de meras ideias. Para dar novamente vida a um espaço moribundo.
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