Um homem com a emoção à flor da pele
Fernando Pires da Silva está no primeiro mandato à frente da freguesia do Tramagal
Sportinguista, columbófilo e amante das viagens sem destino traçado, Fernando Pires da Silva é um homem que vive com muita emotividade. O enfarte que sofreu este ano “proíbe-o” das petiscadas de que tanto gosta mas fez-lhe ver a vida sob uma nova perspectiva. “Estou a ficar velho”, diz do alto dos seus 55 anos.
É um homem que vive a vida com muita emotividade. Fernando Pires da Silva, o presidente da Junta de Freguesia do Tramagal, é mais um dos “produtos” saídos da Metalúrgica Duarte Ferreira. Foi ali que começou a trabalhar aos 12 anos, como desenhador de equipamentos. Foi dali que saiu rumo à refinaria da Petrogal, quando a empresa onde aprendeu tudo entrou na fase de declínio.Aprendeu também a dar valor a quem tem emprego à porta de casa. É que trabalhar a mais de cem quilómetros de distância faz toda a diferença. E Fernando Pires da Silva fez isso durante os últimos 20 anos. Reformou-se em 1997, quando a Petrogal foi desmantelada para dar lugar à Expo’98, “a melhor coisa que aconteceu naquela zona de Lisboa”.Mas 2004 foi até agora o ano de todos os acontecimentos na vida do presidente da junta. Bons e maus. “Aconteceu-me tudo este ano, fui reformado, tive um enfarte, nasceu uma neta. É sinal de que estou a ficar velho”.Por causa do enfarte teve de deixar o vício do tabaco e de abdicar dos petiscos de que tanto gostava. “Continuo a conviver com os amigos nas petiscadas, mas já me corto muito mais”. Emociona-se quando diz que sente falta de encerrar o dia com uma cerveja e um belo petisco, numa roda de amigos e à volta de dois dedos de conversa. “Era uma maneira de descontrair”.Diz que fala demais para aquilo que seria desejável, pelo menos na vida política. E profecia um velho ditado chinês para dar ênfase às suas palavras – “Nunca digas tudo aquilo que sabes para que os outros não fiquem a saber tanto como tu”. “Isto é uma máxima terrível”, confidencia quem põe todos os outros no mesmo plano que ele.É por isso que está convencido que tem procedido de maneira correcta, embora já tenha tido ocasiões em que se arrependeu. Não pelo que disse, mas porque as suas palavras foram mal interpretadas. “Pelo menos fico bem comigo mesmo”.A teimosia de que “padece” é mais virtude que defeito. Porque sabe dar o braço a torcer quando é preciso. “Saber reconhecer os erros e aprender com eles é aquilo que destingue os homens dos animais”.O verde da camisola que usa coincide com a sua cor clubística. Diz ter uma simpatia aguda pelo Sporting e que apesar de não ter ido festejar o último título para a rua ficou muito emocionado. Já foi presidente da assembleia-geral do núcleo existente no Tramagal, um dos mais antigos do país. Mas não vai ao estádio nem sequer vê os jogos pela televisão. Porque agora tem de ter mais cuidado com o coração. E porque acha que o futebol, enquanto desporto, é um produto demasiado comercial. “Perdeu o encanto”.Considera-se um columbófilo “reles”, apesar de gostar da arte e de também fazer parte do clube columbófilo do Tramagal. Adora viajar e elege o norte como a zona mais bonita de Portugal. E é um aventureiro nestas lides. Ainda no ano passado foi com o compadre de carro até à Holanda, sem nada marcado.Pelo caminho cumpriu uma coisa que há muito fazia parte do seu imaginário – visitar todas as praias da Normandia, onde se deram os desembarques na II Guerra Mundial. “Vi o filme outra vez, de cima de um bunker. Vi novamente todas as pessoas mortas na areia”, diz enquanto uma lágrima espreita ao canto do olho. Diz que o bichinho da política lhe entrou no corpo quando esteve na Guiné, por força de um companheiro de armas, militante do Partido Comunista. Chamava-se Edmundo e era do Barreiro. O facto de estar num teatro de guerra fez com que ganhasse uma consciência política, mais aprofundada e activa na altura do 25 de Abril.Fez parte das listas do Partido Socialista “quase desde sempre”, mas em lugares nunca elegíveis. Este é o primeiro mandato que está à frente dos destinos da freguesia e, da experiência que obteve, diz que estar neste cargo é bem pior do que imaginava. “Todos chegamos cheios de intenções e somos depois confrontados com uma realidade completamente diferente, porque não se podem fazer omeletes sem ovos”.
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