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Violino sem cordas?

Agora que se aproximam eleições legislativas, trocando as voltas aos calendários autárquicos, os partidos terão oportunidade de apresentar, quer na Lezíria, quer no Médio Tejo, presidentes de câmara (de preferência jovens quadros) em lugar cimeiro das listas para o parlamento.

Estive recentemente em Rio Maior, correspondendo a um convite irrecusável: apreciar relíquias da “iconografia inédita” alusiva ao escalabitano Marquês de Sá da Bandeira. Na realidade, tratava-se de gravuras deste herói nacional, impressas na cédula de 10$00, de 1928. Valeu a pena. Frequentemente, aparecem pechisbeques em vez de raridades, fazendo lembrar A relíquia de Eça que, afinal, não passava (depois da troca de embrulhos) da roupagem de uma prostituta, para enorme desilusão de quem aguardava uma relíquia de Jerusalém – a mítica coroa de espinhos, o que não foi o caso em Rio Maior.Nesta minha deslocação à capital do desporto, por conhecer a densidade da agenda autárquica e a sua escassez de tempo, não bati aos ferrolhos do presidente Silvino Sequeira. Todavia, o líder riomaiorense esteve “presente” nas falas havidas.Quanto à eventual “deslocalização” da Secretaria de Estado do Desporto para Rio Maior (na altura ainda não tinha sido anunciada a dissolução do parlamento), sublinhei – depois de questionado – o excelente trabalho da autarquia e do Instituto Politécnico de Santarém, neste domínio, graças ao exemplar empenhamento de Silvino Sequeira. De seguida, rematei: “talvez fosse mais fácil deslocar um Secretário de Estado de Rio Maior para Lisboa do que uma Secretaria de Estado de Lisboa para Rio Maior. Mas, tanto uma coisa, como outra, são bem merecidas!”— Não. Não! – interromperam-me nestas considerações – O nosso presidente é aqui que faz falta. Esta cidade sem Silvino Sequeira é como um violino sem cordas!Inspirado nesta metáfora, destaquei, de novo, a importância do trabalho autárquico para o desenvolvimento de Portugal, sem perder o fascínio da proximidade e a noção do sentir das populações.Com efeito, não é conhecido nenhum estudo especializado que ignore a clara vantagem dos resultados da gestão municipal relativamente às perfomances da Administração Central.Bem sei que o cargo de presidente de câmara é incompatível com as funções de governante do país. Porém, no que toca à Assembleia da República, não vislumbro razões de fundo que sustentem a incompatibilidade dos mandatos de presidente da autarquia e de deputado da nação (recorde-se que os presidentes de junta têm assento, há perto de trinta anos, nos “parlamentos municipais”).Agora que se aproximam eleições legislativas, trocando as voltas aos calendários autárquicos, os partidos terão oportunidade de apresentar, quer na Lezíria, quer no Médio Tejo, presidentes de câmara (de preferência jovens quadros) em lugar cimeiro das listas para o parlamento.Uma candidatura que se preze sem um presidente de câmara bem colocado na respectiva lista é como um “violino sem cordas”, para utilizar a feliz metáfora riomaiorense.Creio, sinceramente, que a possibilidade do exercício cumulativo das funções autárquicas e parlamentares trará benefícios à Assembleia da República.Propor, hoje, a alteração legislativa que permita a simultaneidade destas funções (presidente de câmara e deputado), como sucede em França, é comparável à defesa de “missas em português” (e não em latim) no século XV, um atrevimento que levou à fogueira da Inquisição dezenas de pregadores e visionários.Porém, tarde ou cedo, é uma questão de discernimento político, a Assembleia da República terá de ser um “violino” com as cordas todas para melhor servir o Ribatejo e Portugal!Post Scriptum 1 – ListasO trabalho apertado e difícil para a elaboração das listas de candidatos a deputados está em marcha. Especificamente, no PS, tanto Paulo Fonseca, como Idália Moniz poderão ocupar, desde que aceitem, as posições primaciais na lista do distrito de Santarém, por força da sua representatividade regional e nacional. A JS está, igualmente, em condições de apresentar quadros de elevada competência técnica e política capazes de justificar uma posição de destaque. Por outro lado, não será absurdo admitir, desde já, a indicação (através do voto, como convém) de um presidente de câmara para um lugar elegível na lista do PS à Assembleia da República.Póvoa da Isenta (Moinho de Vento), 3 de Dezembro de 2004.

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