Atormentado Manuel Serra D’Aire
Basta uma passagem de ano como a tua para se poder dizer com toda a propriedade que 2005 é um ano para esquecer. Um dia basta para marcar a negro um ano, ou mesmo um século. Felizmente escapei-me à voragem da moda e consegui convencer a minha trupe que há coisas realmente mais importantes nesta vida do que Frota e Castelo Branco.Castelo Branco tem a sua importância, é verdade, mas só elege cinco deputados. Eu prefiro Santarém, onde sempre são dez, ou mesmo um círculo eleitoral como Lisboa ou Porto. Trocando por miúdos, caro Manel: passei o ano a trabalhar na minha candidatura a deputado, com a ajuda dos meus futuros assessores, recrutados entre a família e os amigos mais descarados. Como vês, e em resposta ao teu e-mail, não só sou capaz de vender a alma ao Diabo para arranjar um tacho, como até era capaz de lhe impingir o meu carro em segunda mão se o gajo se deixasse enganar.Perguntarás tu avisadamente o que é que um tipo como este humilde e desbocado indígena tem para oferecer ao povo para se querer meter na política. Respondo eu que nada de especial, o que logo à partida me põe ao nível dos outros candidatos. É verdade que não tenho grande coisa para oferecer – e só essa modéstia já é digna de reconhecimento por parte dos eleitores – mas em contrapartida tenho muito mais para receber. E não vou abdicar de lutar pelos meus valores. Porque os que lá andam há anos e anos, como os lacões, os relvas e as mesquitas, já se abotoaram bem e eu até à data não mamei um cêntimo que fosse na teta do Orçamento de Estado. Meu caro, aquilo que defendo é que é renovação. Renovam-se as listas e renovam-se as contas bancárias.E já que há essa treta das quotas inventadas pelo PS para dar lugar às mulheres nas listas – mesmo que não saibam coser meias ou passar a ferro, o que é um escândalo – há que aproveitar e pôr o dedo na ferida. Se as mulheres, que até são maioria no país, têm direito a quotas para poder entrar na coutada daquela malta de fato cinzento e risco ao lado, as minorias não podem ficar atrás. É verdade que o Bloco de Esquerda lá se vai safando, mas eu e o Manuel Monteiro, por exemplo, também queremos!Se o Sol quando nasce é para todos – e não foi um político que o disse - porque não haver quotas nas listas para outras minorias ostracizadas como os criadores de periquitos, os jogadores de bisca lambida, os professores africanos que curam todos ao males de amor e dinheiro (que ricos ministros dariam!) ou mesmo os adeptos do Sentieiras ou do Carapuções. Mais, e indo ao fundo da questão, porque não quotas nas listas para tipos que se chamem Serafim das Neves ou Manuel Serra D’Aire.Manel, esta história das eleições anda-me a dar volta ao miolo, mas não posso esquecer neste mail a tragédia que se abateu sobre a Ásia. O maremoto engoliu milhares de vidas e provocou uma vaga de consternação em todo o mundo.Mas mesmo as coisas mais horríveis têm sempre o seu lado positivo. Há sempre outra face da moeda. E nós, aqui tão longe, acabámos por beneficiar indirectamente dessa mortandade. Os três minutos de silêncio em memória das vítimas que se cumpriram na semana passada na Assembleia da República constituíram a prova de que Deus existe, mesmo que nem sempre se compreenda a sua política. É verdade que soube a pouco, mas conseguir três dias ou mesmo três horas de silêncio aqueles fala-baratos era missão que nem mesmo Deus conseguia cumprir.Um abraço e vota em mimSerafim das Neves
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