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Um trabalho feito com gosto

Isabel Maria Duarte, 45 anos, vendedora no mercado de Torres Novas

Isabel Maria Duarte, vendedora no mercado de Torres Novas e agricultora, diz sem qualquer dúvida que nunca se sentiu desgostosa com a sua actividade. Antes pelo contrário. Estar atrás da banca de frescos a atender os clientes ou cultivar os produtos que vendem são trabalhos de que francamente gosta.

Há mais de 30 anos que Isabel Duarte vende no mercado de Torres Novas. Herdou a banca da mãe e sempre gostou de atender os apressados clientes, sempre à procura das hortaliças mais frescas. “Quando era novita estava sempre pronta para vir para o mercado, se a minha mãe ficava doente lá vinha eu toda contente. Gosto de atender as pessoas”.Isabel Duarte nasceu numa quinta em Torres Novas, os pais eram os caseiros da propriedade hoje transformada numa das novas urbanizações da cidade. Estudou até à 6.ª classe, como na altura se designava o último ano do segundo ciclo do ensino básico. Não estudou mais porque não calhou e até à data não sentiu a falta de ter andado mais anos nos bancos da escola. “Para a minha vida, o que aprendi chega”.Casada e mãe de dois filhos, é uma pessoa bem disposta, sempre de cara alegre. “Estou sempre bem. É preciso atender alguém muito chato para mostrar má cara”, diz a sorrir enquanto vai vendo quem olha para os produtos que tem expostos, atenta a algum novo cliente.A sua banca é sempre arrumada com cuidado, uma das mais bonitas do mercado. Sabe onde e como dispor as caixas da fruta, onde encaixar os molhos de hortaliça para que o plástico dos recipientes fique escondido e a mistura de cores dos produtos frescos seja prefeita.Depois só faltam os clientes, bem mais escassos do que há anos. “Há muito menos gente. A vida não está fácil e como a maior parte das pessoas trabalha não tem tempo para vir ao mercado”, diz sem qualquer ressentimento.Tem clientes, mas já não restam muitos, que vêm do tempo da mãe. Conhece-lhes os hábitos alimentares e os gostos e esses quase não precisam de falar.Durante muitos anos as vendas eram quase diárias, actualmente já não compensa ter o trabalho de acarretar os produtos e arranjar a banca para atender uma ou duas pessoas. Para Isabel Duarte, o mercado passou a ser às terças, sextas e sábados. Por tradição, o da terça é o maior.Nos dias de mercado a hora de chegada é quase sempre a mesma, cerca das 05h30 da manhã, mas às terças a venda só termina lá para as cinco da tarde. “Nos outros dias é mais cedo, mesmo ao sábado”, diz.Os produtos que vende são apanhados na véspera, faça chuva ou faça sol, e são quase todos cultivados por si. E essa é outra faceta da vendedora. Andar no campo, semear e colher as hortaliças é outra coisa que a diverte.“É certo que puxa pelo corpo, mas não há nada melhor do que andar no campo. Respira-se ar puro, ouvem-se os passarinhos, ninguém nos aborrece”, confessa com verdade aquilo que sente e continua: “Se tivesse que trabalhar fechada sentia-me como um passarinho na gaiola. Assim não e nas terras que temos em Alcorochel e nos Riachos então é uma maravilha”.Para quem só compra os produtos nas bancas do mercado, nem lhe passa pela cabeça o trabalho que todas aquelas coisas dão. Da sementeira à colheita há um mundo de tarefas que é necessário fazer para que os verdes se mantenham viçosos e a fruta seja apetecível.O calor em excesso ou as geadas invernais podem acabar com uma cultura de um dia para o outro. Os preços na banca sobem, mas é difícil arranjar produtos para vender. Na terça-feira nas bancas do mercado de Torres Novas o feijão verde era vendido a mais de cinco euros e o tomate aproximava-se dos dois euros.“É muito dinheiro”, dizia a vendedeira: “Para quem o tem para vender é bom, mas para quem compra é uma fortuna e há pouco dinheiro. Às vezes as pessoas até querem comprar, mas não podem e isso nota-se”.Margarida Trincão

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