Terra dos curtumes vive tempos difíceis
Freguesia de Alcanena com graves problemas sociais
Terra ligada à indústria de curtumes, Alcanena já foi uma das vilas mais ricas da região. Actualmente, com a crise do sector, vivem-se momentos negros na freguesia agravados pela reduzida diversidade da indústria, o protelamento da criação de uma zona industrial e a tardia revisão do PDM.
A maior fonte de rendimento de Alcanena era a indústria de curtumes. Grandes entidades empregadoras que absorviam a quase totalidade da mão-de-obra da vila e do concelho. Hoje, apenas 1.500 a 1.800 pessoas continuam a trabalhar no sector. O restante tenta sobreviver arranjando trabalho nos serviços, dado que, na prática, não há mais indústrias e a agricultura é inexistente.As fábricas de curtumes produziram riqueza mas causaram também elevados índices de poluição tanto atmosféricos como nos aquíferos e solos. O processo de despoluição da bacia do Alviela iniciou-se em meados da década de 80 e actualmente a ruptura dos colectores de esgotos começa a dar novas dores de cabeça a provocar descargas poluentes no rio.No entanto, este não é, no entender do presidente da junta da freguesia, Joaquim Silva Neves (ICA), o maior problema. O pior são as carências económicas da população e a falta de oferta de emprego para a população activa. “Nem para os jovens recém-licenciados há resposta”, afirma o autarca.A construção de uma zona industrial que permitisse a fixação de novas e diferentes unidades industriais poderia ser uma solução, mas tem sido difícil obter por parte da administração central os apoios necessários. Igualmente difícil se tem revelado sensibilizar o governo para o problema do sistema de saneamento básico. O presidente da junta não acredita que isso venha a ser possível porque as cercas de 10 fábricas de curtumes que ainda existem têm tendência a acabar.Olhar para a frente é a solução. Ou seja, para além da zona industrial a revisão do Plano Director Municipal (PDM) que alargue a área urbanizável, principalmente na Gouxaria, aldeia que juntamente com Raposeira formam a freguesia de Alcanena.Os melhoramentos que se fizeram em arruamentos dentro da vila de Alcanena não são suficientes para atrair os casais novos a recuperar as velhas habitações. “Deviam começar pelos edifícios e não pelas ruas. As casas entram pelos quintais umas das outras, não há lugares de estacionamento e assim não há quem queira vir viver para cá”, continua o autarca.A nível de equipamentos sociais a freguesia consegue dar resposta à maior parte das solicitações tanto para a terceira idade, como para as crianças, com ateliês de tempos livres (ATL). Dispõe de uma associação de bem estar social que integra o centro de dia, o hospital – a atravessar graves problemas – e ATL. O centro de saúde é novo e a Associação ABC, com ATL, creche e um projecto de luta contra a pobreza, completam os equipamentos de assistência social.Por outro lado, os cerca de cinco mil habitantes da freguesia, tanto na sede como nas aldeias têm infra-estruturas desportivas. Um melhoramento que o presidente da junta realça ou não fosse ele um homem ligado ao futebol e ao associativismo desportivo.Grandes projectos que tardam em ser concretizados só mesmo os que envolvem o próprio concelho. De resto, o presidente diz que já não faz promessas, mas estará sempre disponível para resolver os problemas.“Quando me candidatei a primeira vez, disse que podiam contar comigo nem que fosse para arranjar o fecho de uma porta ou o vidro de uma janela. Já não faço isso, mas sempre que é necessário alguma coisa estamos lá”, diz o autarca.O orçamento da junta é de 252 mil euros, somando as transferências do Fundo de Financiamento das Freguesias com as comparticipações por delegação de competências da câmara, às taxas de licenças de cães e do cemitério da Gouxaria - o de Alcanena é municipal. A verba permite ter um funcionário a tempo inteiro no edifício da junta e outros trabalhadores que se encarregam dos pequenos arranjos e manutenções.Possibilita ainda custear a construção da rotunda à saída da vila na estrada para Rio Maior. “Essa obra é nossa”, afirma o presidente Joaquim da Silva Neves.Margarida Trincão
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